Quando pesava 130 quilos, Pedro Kauffman, 37, lutava contra a balança. Mesmo sem condições financeiras para pagar as mensalidades das academias que funcionavam perto de onde morava, a falta de conhecimento para usar os aparelhos que seu condomínio oferecia o desmotivava. Em uma viagem ao exterior, de novo o mesmo problema: não sabia como utilizar as instalações do hotel em que ficou hospedado.
De volta ao Brasil, criou, em 2015, o aplicativo Fit Anywhere, desenvolvido para funcionar em parceria com prédios residenciais, redes hoteleiras e empresas. Funciona assim: o cliente baixa o aplicativo, cadastra a academia de seu prédio e, a partir daí, qualquer morador pode registrar os equipamentos. A plataforma oferece treinos especializados, de acordo com o que o espaço tem, além de informar se os itens estão sendo usados e quando ficarão disponíveis.
Judeu ortodoxo, Pedro, também conhecido como rabino Pessach da sinagoga Ahavat Reim, no Bom Retiro, é pai de cinco filhos. “Eu misturo minha religião em tudo o que eu faço”, conta. Ele afirma que abriu mão do salário da sinagoga e que doa parte do lucro da empresa a ações em diversas entidades.
Segundo o empresário, o app foi pioneiro em oferecer conteúdo fitness de graça durante a quarentena. No ano passado, a Fit se manteve apenas com patrocínios e parcerias. Agora, o modelo freemium é adotado. São 600 vídeos da biblioteca de exercícios, vinte aulas — incluindo hiit, ioga, pilates, defesa pessoal e dança —, dicas de saúde e receitas saudáveis que continuam disponíveis sem custo. Com o registro dos equipamentos da academia, o usuário responde a um questionário e recebe um conjunto de atividades selecionadas pela inteligência do app.
Por 99 reais ao ano, é desbloqueada a função FitPro — aulas ao vivo gravadas em estúdio de segunda a sexta, das 7 às 22 horas, consultorias por videochamadas de trinta minutos a uma hora com personal trainers e nutricionistas e treinos sob medida feitos por profissionais.
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Pedro afirma que o investimento inicial da Fit Anywhere foi equivocado. “Criei o aplicativo sem antes entender o mercado e tive de refazer tudo depois.” No total, em três anos foram gastos cerca de 500.000 reais. Em um sonho, o empreendedor conta que descobriu que precisava desenvolver exercícios para cadeirantes dentro do aplicativo. Ele contratou Luciano Oliveira Maciel, 45, para gravar as aulas com um personal trainer. Luciano teve paralisia infantil aos 9 meses. “Quem tem mobilidade reduzida pode ter uma vida normal até nos esportes”, explica.
Tempos depois, o pai de Pedro passou a usar cadeira de rodas temporariamente por causa da Covid-19 e tem utilizado o app na clínica onde está em tratamento. “No judaísmo, acreditamos que, quando fazemos o bem para o outro, ele retorna de alguma maneira para nós”, diz o rabino. Até o momento, o programa para PCD é apenas para aqueles com mobilidade nos braços.
A Fit Anywhere ainda lançará treinos para deficientes visuais e até a própria moeda, FitCoin, para comprar produtos e treinos dentro do app de acordo com a vontade do usuário. “Assim o cliente não se arrepende do que gastou. Academias e aplicativos de aulas oferecem planos longos mais baratos, mas as pessoas desistem”, diz.
Em parceria com a Movement, marca de equipamentos fitness, foi desenvolvido um banco funcional reclinável que comporta quinze aparelhos e faz o papel de uma academia em 3 metros quadrados. “No app temos mais de 200 exercícios gravados para que até quatro pessoas se exercitem ao mesmo tempo”, explica.
Em 2020, a empresa lançou um podcast de entrevistas sobre saúde e empreendedorismo. Pedro adicionou exercícios voltados aos idosos para que o grupo de risco do coronavírus não ficasse parado durante o isolamento, além de videoaulas para pais e filhos. De 300 condomínios cadastrados, a Fit Anywhere passou a ter 2.200. Com a inclusão de treinos sem a necessidade de instrumentos, casas e prédios sem o espaço também passaram a participar da plataforma.
De acordo com o empreendedor, o app tem potencial porque nove em cada dez edifícios novos em São Paulo possuem academia própria. A startup também atende 30.000 funcionários de empresas parceiras, tem 35 administradoras de edifícios cadastradas e presta consultorias sobre as melhores composições dos equipamentos dentro das instalações compartilhadas.
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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de março de 2021, edição nº 2728