Até a adolescência, frequentar lojas de roupas era um martírio para Mayara Russi. Com 110 quilos distribuídos em 1,70 metro de altura, ela se trancava nos provadores e caía no choro pela dificuldade de encontrar peças que lhe servissem. Hoje, aos 22 anos, suas medidas continuam avantajadas (113 centímetros de busto, 109 de cintura e 135 de quadris), mas o belíssimo par de olhos azuis acinzentados não fica mais marejado diante de uma arara de roupas. A paulistana agora ganha a vida como modelo de grifes de numerações maiores e chegará ao Fashion Weekend Plus Size (que acontece no próximo sábado, 16, no Centro de Convenções do Shopping Frei Caneca) como principal estrela do evento, com os mais altos cachês — até 4.000 reais por desfile. Será mais um passo na carreira da garota que é conhecida como “Ana Paula Arósio GG”, devido a sua semelhança com a atriz. As duas, aliás, já se encontraram. “Ela disse que, se um dia engordar, quer ficar igual a mim”, conta.
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A sorte de Mayara começou a mudar aos 15 anos, quando foi abordada por dois olheiros. Uma semana depois de concluir um curso para manequins iniciantes, em 2005, emplacou seu primeiro trabalho: fotografou para as lojas Marisa. Em 2008, adquiriu status de top model do setor, ao fazer vinte catálogos de moda GG. Depois disso, dividiu a passarela com celebridades como Marcello Antony e Danielle Winits. Acaba de gravar seu primeiro comercial de TV, ainda inédito, para a lanchonete Bob’s. A mãe, Rozana, afirma que a modelo conquistou uma “legião de fãs”. Diz ela: “São meninas também gordinhas, que mandam recados pelo Facebook pedindo dicas de moda. Minha filha ajuda essas garotas a ter autoestima”.
Mayara, que pratica atividades como corrida e natação, já encarou regimes severos. As loucuras para emagrecer chegaram ao auge quando a carreira engrenava e ela conheceu o designer Kaíque Lehmann, dois anos mais jovem, com quem está até hoje. “Namorava aquele gato e comecei a fazer de tudo para perder peso rápido”, recorda. “Passava cinco horas por dia na academia, cortei fritura, cortei refrigerante e quase cortei os pulsos também”, exagera. O resultado do esforço: 30 quilos a menos e uma internação por anemia. “Dizia para ela que, se fosse para emagrecer por motivo de saúde, eu apoiaria, mas acho que mulher magra demais não tem graça”, afirma Kaíque, de quem a modelo engravidou aos 16 anos (o filho, Rafael, tem 5 anos e mora com ela). A silhueta mais magra durou um ano, até que um câncer na tireoide a obrigou a retirar a glândula e desestabilizou seus hormônios. Logo, voltou aos 110 quilos e às calças 52. O desafio de reduzir esses números, para ela, é também questão profissional: grifes de lingerie têm torcido o nariz para manequins superiores a 46.
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Não foi apenas isso que mudou na “moda grande”, como era conhecido esse mercado quando Mayara começou. O Fashion Weekend Plus Size é um indício da profissionalização. Está na quarta edição. Entre as dez marcas participantes, o desafio é afastar clichês, como o combo camiseta e calça legging. “Hoje, se uma confecção produz um modelo listrado na horizontal, o estilista coloca um acinturamento e resolve o problema”, diz Renata Poskus Vaz, organizadora do desfile. “Xadrez também dá para fazer, com tramas mais finas”, completa. Existem atualmente cerca de 200 grifes no país dedicadas a esse mercado. Em São Paulo, há sessenta lojas especializadas. Uma das principais, a Magnólia, foi inaugurada em dezembro de 2010, no centro, e se propõe a ser a maior multimarcas GG da cidade. “O crescimento mensal é de 15% nas vendas”, diz a gerente Yone Barbieri.
Enquanto isso, no mundo da moda “magra”, as numerações continuam dificilmente passando do 42. “Pelo volume de vendas, não compensa para as grandes grifes fazer esses tamanhos em grande escala”, justifica o estilista Dudu Bertholini, cujas roupas, mais largas, são sucesso entre garotas do P ao GGG. Outro criador conceituado, Marcelo Sommer também aponta limitações industriais e diz que “adoraria produzir roupas para esse público”. Se o fizer, terá em breve uma concorrência com conhecimento de causa. Mayara estuda moda na FMU, e entrar nesse mercado como estilista é sua meta para quando deixar as passarelas.
De bem com a silhueta
Idade: 22 anos
Olhos: azuis
Altura: 1,70 metro
Manequim: 52
Peso: 110 quilos
Quadris: 135 centímetros
Cintura: 109 centímetros
Busto: 113 centímetros
Cachê: 1.500 a 4.000 reais