Todo ano, um levantamento feito pela consultoria Cushman & Wakefi eld (C&W)
relaciona os pontos ao redor do mundo que concentram os mais caros aluguéis
de imóveis comerciais. Na análise concluída em junho último, um nome familiar
aos paulistanos destacou-se entre os sessenta países analisados por uma acentuada alta nos preços de locação. Foi a Alameda Lorena, onde o metro quadrado aumentou 111% nos doze meses anteriores. “Saltou de 43 para 91 reais”, afi rma Mariana Mokayad Hanania, coordenadora de Pesquisa de Mercado da C&W.
Esse crescimento, apesar de não colocar a rua dos Jardins no topo do ranking —
no Shopping Iguatemi, 15º lugar da mesma lista, o valor é de 615 reais por metro
quadrado —, aponta um dos possíveis destinos futuros do segmento de luxo.
“Quem não consegue se instalar numa das ruas vizinhas acaba vindo para cá
por ser perto e mais barato”, explica Jorge da Conceição Lopes, diretor comercial
da Casa Santa Luzia, reduto da elite paulistana na alameda, onde funciona
desde 1981. Ele sabe do que fala: o metro quadrado na Oscar Freire custa, em
média, 178,4 reais.
A grande explicação para o fenômeno dos aluguéis é a proximidade das duas paralelas com ruas concorridas como Haddock Lobo e Bela Cintra. O quadrilátero composto por elas abriga marcas como Louis Vuitton, Salvatore Ferragamo e Giorgio Armani — a Lorena é o patinho feio da turma, pois reúne menos grifes importantes. A associação de lojistas que promoveu a reurbanização da Oscar Freire, em 2006, planeja repetir o feito ali. “Só esperamos o o.k. da prefeitura”, afi rma Rosangela Lyra, diretora da Dior e presidente da entidade. Dar uma cara nova ao pedaço incluiria eliminar postes, enterrar fi os, alargar calçadas e mudar o paisagismo. “A quantidade de gente circulando aumentou por causa desse banho de autoestima”, conta Rosangela, sobre as cerca de 33 000 pessoas de alto poder aquisitivo que batem perna diariamente no pedaço.
Com 2,2 quilômetros de extensão, a Lorena vai da Brigadeiro Luís Antônio à Rebouças. Entre o início e a Avenida 9 de Julho há poucos imóveis comerciais. O trecho mais concorrido fi ca nas seis quadras entre as ruas Ministro Rocha Azevedo e Melo Alves. Reúne lojas sofisticadas de decoração (Roberto Simões Casa e Passado Composto/Século XX) e tabacarias (Ranieri Pipes e Esch Café), além do restaurante Antiquarius, um dos mais tradicionais da cidade. Sucesso desde a inauguração, em 2007, a Livraria da Vila lota nos fi ns de semana devido à animada programação cultural. “Aqui encontrei meu sonho de consumo”, diz o proprietário, Samuel Seibel. Aos domingos, uma feira livre fecha a quadra que vai da Augusta à Haddock Lobo. “O público da Lorena é mais casual e alternativo”, diz a consultora de
imóveis Maria Ferreira, que trabalha há vinte anos na região.
Para o diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), Luiz Paulo Pompéia, a locação não sofreu um reajuste tão alto quanto mostra a pesquisa. “O resultado pode ter sido influenciado pela atualização de alguns contratos antigos”, diz. Quem caminha pela Lorena talvez duvide estar mesmo numa área tão cobiçada. Há várias placas de “aluga-se” nas fachadas. Trata-se do lado perigoso de uma supervalorização como a ocorrida ali. Valores elevados demais obrigam locatários a deixar os imóveis e acabam criando um ciclo vicioso — o aluguel caro difi culta que novos comerciantes, ainda que haja vários interessados, aceitem pagar quantias tão altas. “Só na minha quadra, uma das melhores, são quatro pontos vazios”, conta
Marco Suplicy, dono do Suplicy Cafés Especiais, perto da Rua Padre João Manuel.
“Estão pedindo dinheiro demais.” Apesar disso, ele parece não ter do que se queixar: recebe, por mês, cerca de 25.000 clientes, cujo gasto médio por visita é de 13 reais. Seu vizinho Jorge Lopes, do Santa Luzia, acredita no potencial da Lorena. “Em alguns anos, poderemos ser a nova Oscar Freire.”