João Paulo Lorenzon estreia a peça “Água” neste sábado (12), no Espaço Parahaus. O espetáculo é o quarto monólogo do ator, que esteve em cartaz até junho último com o elogiado “De Verdade”, adaptação para o romance de Sándor Márai.
Em sua nova empreitada, Lorenzon, que também dirige a peça, mergulha em três toneladas de água, dentro de um cilindro de acrílico transparente de três metros de comprimento, onde é ambientada toda a encenação.
O texto, escrito pelo próprio ator, mescla trechos literários de Umberto Eco, Vinícius de Moraes, Garcia Lorca e William Blake, entre outros.
Os autores colaboram para a criação de esquetes dramáticos que versam sobre o relacionamento, tema de grande interesse de Lorenzon. A cada novo fragmento, o ator dá mais um mergulho, como uma dança, volta à superfície e dá continuidade à representação.
Em entrevista à VEJINHA.COM, João Paulo Lorenzon fala mais sobre a peça:
VEJA SÃO PAULO – Você acabou por se tornar um especialista em monólogos. Como isso aconteceu?
João Paulo Lorenzon – Eu não escolhi esse formato, mas o faço melhor do que outros. Aconteceu por uma mistura de facilitações. Fiz o primeiro [“Memória do Mundo”], que foi muito bem. Assim, fui chamado para o segundo [“O Funâmbulo”]. Já no terceiro [“De Verdade”] a história, de solidão, tinha de ser feita como monólogo. No entanto, tenho dificuldade de encaixar “Água” nesta categoria.
VEJA SÃO PAULO – Por quê?
João Paulo Lorenzon – A água funciona como um personagem, representa o tempo, o feminino. Sinto o frio e o toque em uma reação muito concreta. Os movimentos que faço são limites e posso inclusive me afogar, o que já quase aconteceu nos ensaios.
VEJA SÃO PAULO – Você já teve outros casos de quase afogamento na infância. Eles têm algum relacionamento com a peça?
João Paulo Lorenzon – Quando criança, cai na piscina de uns amigos de meus pais. Eles tinham duas filhas lindas e o namorado de uma delas me salvou. Lembro-me de sentir vergonha enquanto elas me secavam com a toalha. A vez seguinte foi na praia; eu gostava de atravessar de um lado ao outro nadando. Foram situações próximas da morte em que você se sente patético, idiota. Nunca soube explicar um relacionamento, mas ele também tem um gosto de morte. Resolvi juntar as duas coisas.
VEJA SÃO PAULO – O relacionamento é um tema recorrente em seus trabalhos. Qual é o seu interesse pelo tema?
João Paulo Lorenzon – Sou muito ligado em entender a existência, o sentido de tudo isto. Acho que o encontro e a paixão são uma ponte para essa explicação.
VEJA SÃO PAULO – Em “O Funâmbulo” você usou uma corda bamba. Agora, usa a água. Qual a importância do corpo em seus monólogos?
João Paulo Lorenzon – A palavra me fascina muito. Os estados alterados dão veracidade e alteram a palavra, eles a colocam em um lugar diferente. É claro que um Elias Andreato consegue esse valor sem muitos recursos, mas enquanto eu não chego lá…
VEJA SÃO PAULO – A ideia de usar um aquário gigante já havia surgido em “De Verdade”?
João Paulo Lorenzon – Sim, eu queria um aquário vazio no qual eu fosse submerso lentamente. Fiz várias maquetes, falei com diversos cenotécnicos, mas não consegui um modelo ideal. Quando soube desta ideia, o artista Maurizio Mancioli me contou sobre seu “Acquabox” [criação hoje instalada no Espaço Parahaus, onde acontece a peça]. Como não é possível enchê-lo lentamente, não seria possível usá-lo em “De Verdade”, mas ver a obra me deu a ideia para esse novo monólogo.