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Neyde Veneziano escreve sobre Domingos Montagner, o seu amigo Duma: “Para ele, o circo foi uma escolha”

Neyde Veneziano, encenadora, pesquisadora de teatro e diretora de Mistero Buffo, o último espetáculo de Domingos Montagner, presta homenagem ao amigo Duma. Lembranças? Detalhes sobre Domingos Montagner? São muitos, muitos mesmo. A mídia não se cansa de divulgar notícias e informações sobre ele nesses dias em que a perda é dor aguda. Enquanto isso, nós […]

Por Helena Galante Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 fev 2017, 10h16 - Publicado em 16 set 2016, 17h35

Neyde Veneziano, encenadora, pesquisadora de teatro e diretora de Mistero Buffo, o último espetáculo de Domingos Montagner, presta homenagem ao amigo Duma.

A diretora de teatro e pesquisadora Neyde Veneziano (Foto: Arquivo Pessoal)

A diretora de teatro e pesquisadora Neyde Veneziano (Foto: Arquivo Pessoal)

Lembranças? Detalhes sobre Domingos Montagner? São muitos, muitos mesmo. A mídia não se cansa de divulgar notícias e informações sobre ele nesses dias em que a perda é dor aguda. Enquanto isso, nós nos damos conta de como é frágil a nossa condição humana.

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Foi nos primeiros dias de 2009 que conheci Domingos Montagner e nos aproximamos. Ele ainda não era o ator global que se tornaria nos anos seguintes e chegou a mim como preparador circense para o espetáculo Um Dia Quase Igual aos Outros, que eu estava dirigindo. A atriz Débora Duboc fazia o papel principal, e eu queria que os atores Fernando Fecchio e Thiago Adorno, também do elenco, mostrassem uma postura mais circense em determinados momentos.

O ator Domingos Montagner (Foto: Fernando Moraes)

O ator Domingos Montagner: inteligência e alegria juntas (Foto: Fernando Moraes)

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Fiquei impressionada com sua inteligência cênica. Era só pedir alguma coisa, e Domingos já propunha outras ações, realizando muito melhor do que eu havia imaginado. A vontade de trabalhar mais junto despertou e não demorou quase nada para a gente idealizar um novo projeto: o espetáculo Mistero Buffo, de Dario Fo.

Agenor e Padoca era como se chamavam os palhaços de Domingos e Fernando Sampaio, o seu amigo e parceiro da Cia. La Mínima. Eu os encontrei em seu habitat natural, no Galpão do La Mínima, que fica em Cotia, entre trailers, instrumentos e todo um arsenal circense. Luciana Lima, sua mulher, tocava a produção a pleno vapor. Às vezes, os filhos, ainda pequenos, chegavam ao final dos ensaios para nos atrapalhar um pouco e enchiam o ambiente com muito mais alegria. Tudo ali lembrava a clássica “família de circo”. Mas as origens de Duma e Fê, como os amigos sempre os trataram, não tinham nada a ver com essa tradição. Para ele, o circo foi uma escolha. Não era uma herança que já vinha dos antepassados e ele adotaria para si, como é bastante comum.

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O ator em cena de "Mistero Buffo" (Foto: Carlos Gueller)

O ator em cena de “Mistero Buffo” (Foto: Carlos Gueller)

Em  pouco tempo, chegou para trabalhar com a gente o outro Fernando, o Fê Paz, imediatamente adotado pelo La Mínima. Hoje de manhã, conversando com Fê Paz, ouvi algo que, para mim, define muito bem esse nosso amigo: “O Domingos foi um dos caras mais inteligentes que conheci. Com ele, eu percebi que alegria e inteligência podem andar juntas nesse mundo”, disse o Fernando Paz.

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Duma era assim. Inteligente e popular, daqueles que querem acabar o ensaio e tomar uma cerveja no boteco da esquina. Dedicado, brilhante e sempre gentil, o Duma desconhecia a preguiça. Era um artista dos raros, que carregava no braço o cenário antes e depois das apresentações e, mesmo famoso, não perdeu essa disposição. O sucesso não foi capaz de lhe tirar as melhores características. Digo até que o melhorou ainda mais.

Mistero Buffo estreou em 2012, quando ele já era o tal galã em ascensão na Rede Globo. Duma não deixou a peça em segundo plano, fazendo malabarismos para conciliar tudo com a agenda de gravações das novelas. Cumprimos quatro longas temporadas em teatros de São Paulo e continuamos andando por boa parte do Brasil – ainda este ano, no comecinho, tiramos Mistero Buffo da gaveta para mais algumas sessões.

Duma morreu e viveu cheio de projetos. Morreu cheio de vida, na água. Feliz e brincando. O Brasil chora pelo ator, pelo homem lindo e talentoso que emocionava a todos. O galã foi engolido pela natureza. O palhaço, agora, também nos fez chorar pela primeira vez.

Acho que lá no céu ele vai se encontrar com o Piolin e com o Benjamin de Oliveira. Vai cruzar com o Fuzarca e o Torresmo, com o Zacarias, com o Mussum. E até, quem sabe, com o São Francisco… Provavelmente, eles vão se juntar e montar um espetáculo muito engraçado, desta vez para Deus e para os Anjos.

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Até essa quinta-feira, sempre que a gente se cruzava, ele vinha e me chamava de “diretora”. Então, vou assinar assim… Com um grande abraço e já saudade, sua “Diretora”.

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