De domingo a domingo, no fim da tarde, o professor de educação física aposentado João Batista Seber, de 64 anos, volta à Cidade Universitária, no Butantã, onde estudou nos anos 70, para alimentar cerca de cinquenta cachorros abandonados que vivem no câmpus. A vira-lata Lilica, por exemplo, perambula pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade e aparece no local com mais frequência que muitos alunos.
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Quando João não consegue ir à universidade, colegas o substituem na labuta para não deixar os animais na mão. Ele começou o trabalho voluntário em 2002, quando viu uma professora realizando uma ação semelhante. “Tento amenizar o sofrimento desses animais”, afirma Seber, que também compra e aplica antipulgas e anticarrapatos, quando necessário. “Há quem venha criticar o que faço, como se os animais fossem espalhar doenças, mas não dou bola.”
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Percebendo que poderia aproveitar a situação para evitar o desperdício de alimentos, fechou parceria com dois restaurantes da região, que cedem cerca de 20 quilos diários de sobras que iriam para o lixo, como arroz, feijão, carne e legumes. Um amigo, dono de uma padaria no Morumbi, também contribui com pães e salgados. A prefeitura do câmpus dá uma força com 50 quilos de ração por mês. João distribui tudo por seis pontos. “Muitos largam os bichos sozinhos aqui, principalmente em datas como Natal e Carnaval”, diz. “Alguns são cachorros de raça.” Seber conta ainda com a ajuda de um abrigo para tentar arranjar um lar para os cães de temperamento manso que consegue resgatar. Outros, mais ariscos, acabam tendo a USP como moradia.