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Intoxicação por metanol: principais sintomas, diagnóstico e tratamento

Substância tóxica pode causar danos graves ao organismo, como cegueira permanente e morte; saiba como identificar sinais para agilizar diagnóstico

Por Mattheus Goto
Atualizado em 30 set 2025, 14h18 - Publicado em 29 set 2025, 18h05
Metanol é encontrado em bebidas alcoólicas adulteradas
Metanol é encontrado em bebidas alcoólicas adulteradas (chandlervid85/Freepik/Creative Commons)
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O Estado de São Paulo registrou nesta segunda-feira (29) a terceira morte neste mês por intoxicação com metanol. Em um período de 25 dias, foram confirmados dez casos de ingestão da substância em bebidas alcoólicas com formulação adulterada e outros dez estão sendo investigados.

Duas mortes foram divulgadas pela Prefeitura de São Bernardo do Campo: primeiro, um homem de 58 anos, que morreu em 24 de setembro no Hospital de Urgência; depois, um homem de 45 anos, que veio a óbito no sábado (28) em uma rede particular — e teve confirmação de suspeita de contaminação nesta segunda (29).

Anteriormente, foi notificada na capital paulista a morte de um homem de 54 anos, morador da Zona Leste da capital. Ele apresentou sintomas em 9 de setembro e morreu no dia 15.

Os exames estão sendo realizados pelo IML (Instituto Médico Legal) para confirmar ou descartar a contaminação. “A intoxicação por metanol é a principal causa de intoxicação por álcool, considerando todos os tipos que podem gerar toxicidade”, explica Felipe Liger, médico emergencista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Os sintomas correspondem principalmente a alterações gastrointestinais, oftalmológicas, neurológicas e hemodinâmicas, como dor abdominal, náuseas, vômitos, pressão baixa, taquicardia, convulsões e visão turva.

“Do ponto de vista clínico, as manifestações que a metabolização do metanol causa não são específicas, diversos outros xenobióticos podem ocasionar o mesmo padrão clínico de toxicidade”, diz Liger. “O que faz nós médicos pensarmos em intoxicação por metanol? A epidemiologia e os fatores de exposição do indivíduo.”

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Em entrevista a Vejinha, o médico comenta sobre a substância, sintomas, diagnóstico e tratamento. “Nesse cenário, é importante manter a calma e não generalizar.”

O que é o metanol?

O metanol é um álcool utilizado como adulterante de combustível de automóvel e de bebidas alcoólicas, por fábricas clandestinas e falta de controle rigoroso na fabricação. Também é encontrado em fluido limpador de para-brisas e é matéria-prima para a fabricação de biodiesel.

Embora o metanol em si não seja tóxico, a toxicidade surge da metabolização no corpo, que forma metabólitos tóxicos para o organismo, especialmente para o sistema nervoso central.

Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado por uma enzima chamada álcool desidrogenase e vira um formaldeído. Posteriormente, é transformado em ácido fórmico por outra enzima chamada aldeído desidrogenase. Os produtos dessa transformação são responsáveis pelas alterações gastrointestinais, neurológicas e pelo depósito direto do álcool no aparelho ocular.

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Uma dose letal pode variar de 30 a 240 ml.

Sintomas de intoxicação por metanol

As manifestações clínicas da intoxicação por metanol começam a acontecer de 12 a 24 horas após a ingestão da substância e incluem:

  • alterações de comportamento;
  • sonolência;
  • incoordenação;
  • dor abdominal;
  • enjoo;
  • vômito;
  • dor de cabeça;
  • alterações visuais, como visão dupla, turvação visual, redução da acuidade visual e até cegueira;
  • em alguns casos, alterações hemodinâmicas, como queda da pressão arterial e aumento dos batimentos cardíacos.

Diagnóstico de intoxicação por metanol

O diagnóstico começa com a avaliação epidemiológica e a história de exposição. “Não é comum uma pessoa jovem, previamente saudável, desenvolver subitamente esses sintomas. Quando a gente começou a ter um aumento de casos, foram justamente em pessoas sem qualquer fator de risco ou qualquer outro agravo que justificasse”, analisa o médico emergencista. “De certa forma, a gente acaba atuando um pouco como detetive.”

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Em paralelo, outras causas são excluídas. A dosagem de metanol no sangue e a gasometria arterial são realizadas para confirmar a intoxicação. “A intoxicação por metanol é uma das grandes causas de alteração no pH do sangue, que pode ser avaliada por gasometria arterial.”

A equipe médica é alertada para avaliar obrigatoriamente a possibilidade de intoxicação por metanol em pacientes com idade compatível, história epidemiológica compatível de exposição e manifestações gastrointestinais ou neurológicas e visuais.

Tratamento de intoxicação por metanol

O tratamento envolve primeiramente o suporte orgânico, que inclui manter o paciente respirando e o coração funcionando adequadamente. O processo para reverter a toxicidade do metanol consiste em saturar a enzima que metaboliza o metanol em metabólitos tóxicos. Para isso, o antídoto disponível no Brasil é o próprio etanol, que satura a enzima álcool desidrogenase e diminui a formação dos metabólitos tóxicos do metanol.

“A dose tem relação direta com a gravidade dos sintomas”, afirma Liger. “Outro fator é o diagnóstico e tratamento precoce. Como é uma substância rapidamente absorvida e os sintomas podem começar com enjoo e dor abdominal, postergar a ida ao pronto-socorro gera uma cascata de eventos.”

As alterações visuais podem ser leves e transitórias, mas em casos graves chega a cegueira permanente, uma vez que os metabólitos tóxicos gerados pelo metanol no organismo ocasionam lesões no nervo óptico (“nosso segundo par craniano responsável por transmitir informações ao córtex visual”).

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