“Bichado” fala das consequências de recentes conflitos bélicos
Tragicomédia propõe uma visão de como a Guerra do Golfo afetou a mentalidade do povo americano
Em uma linha desafiadora, o diretor Zé Henrique de Paula e o Núcleo Experimental surpreendem com a terceira parte da chamada “Trilogia da Guerra”. Depois de abordar o universo bélico em “As Troianas — Vozes da Guerra” (2009) e “Casa/Cabul” (2011), desta vez o encenador segue por uma corrente mais social e psicológica. Escrita pelo americano Tracy Letts, a tragicomédia “Bichado” propõe uma visão de como a Guerra do Golfo afetou a mentalidade do povo americano.
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Não à toa, o espetáculo inteiro se passa em um quarto de hotel. O realismo do cenário contrasta com a instabilidade da ação e dos personagens. Ali vive a garçonete Agnes (a vigorosa Einat Falbel), entre copos de vodca e carreiras de cocaína. Perseguida pelo ex-marido (o ator Alexandre Freitas) e traumatizada pela perda do filho, ela inicia um relacionamento com um veterano da Guerra do Golfo (o talentoso Paulo Cruz). Obcecado por insetos, o rapaz afirma ter servido de cobaia do Exército e desenvolve uma crescente paranoia. Possui a certeza de que está “bichado” e tenta se livrar da contaminação.
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A dramaturgia construída por Letts — até então inédito no Brasil — sustenta a encenação. Cada palavra dita pelo elenco, completado com Adriana Alencar e Rodrigo Caetano, tem valor e faz o espectador pensar em quanto essas questões recentes transformaram o comportamento das pessoas. Mergulhado na proposta, Zé Henrique faz uma montagem diferente de sua profícua obra. Nada se identifica de “Senhora dos Afogados” (2007), “Cândida” (2008) ou “Side Man” (2010), regidas com exatidão e perfeccionismo. Parente um pouco mais próxima de “O Livro dos Monstros Guardados” (2009), “Bichado” ganha vida pela sujeira e pelas interpretações carregadas. Mesmo que se torne arrastada e preocupada demais com o efeito visual, a peça assume desde a sua concepção uma confusão capaz de aproximá-la do tema retratado.
AVALIAÇÃO ✪✪✪