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“O Beijo no Asfalto” preserva a alma transgressora de Nelson Rodrigues

Encenação no Teatro de Arena Eugênio Kusnet faz parte de homenagem ao centenário do dramaturgo

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 17h40 - Publicado em 28 out 2011, 23h50

Em um país de poucas unanimidades, o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) está longe de ser uma delas. Mas seu nome costuma ser lembrado de imediato quando se pergunta quem é o nosso autor mais expressivo. As dezessete peças que escreveu são constantemente revisitadas e, em 2012, ano de seu centenário, as remontagens devem se intensificar. Parceria do Círculo dos Canalhas e da Cia. de Teatro Promíscuo, a tragédia “O Beijo no Asfalto”, escrita em 1961, abre com louvor a série de homenagens, que ocupa o Teatro de Arena Eugênio Kusnet até pelo menos fevereiro. Sob a direção de Marco Antônio Braz, o espetáculo traz elementos raros nas incursões pela obra de Nelson: o espírito transgressor e uma fidelidade ao arquétipo daqueles personagens que, meio século depois, ainda possuem uma incontestável atualidade se o elenco os incorporar de fato.

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Hudson Senna interpreta Arandir. Esse sujeito comum, num ato de humanidade, se ajoelha diante de um homem atropelado e lhe beija a boca. Presenciada por um repórter (personagem de Élcio Nogueira), a atitude ganha os jornais e desencadeia perversos segredos, que envolvem o sogro, Aprígio (Renato Borghi), a mulher, Selminha (Gabriela Fontana), e a cunhada Dália (Lívia Ziotti, muito convincente).

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Apoiado em uma trilha sonora de sambas e projeções que localizam o público, o diretor dá total liberdade para os atores transitarem, sem medo de exagerar nas caracterizações. Inspiradíssimos, Borghi e Nogueira aproveitam a brecha em cenas de forte impacto, como aquela na qual o jornalista incentiva o sogro a vingar-se do genro. Eventualmente, podem até chocar os mais conservadores. Prova de que a polêmica de Nelson continua viva, basta saber entendê-la.

 

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