Grávida testa serviços preferenciais em estabelecimentos da cidade
Órgãos públicos, hipermercados, restaurantes badalados e cinemas foram postos à prova
Gravidez não é doença. Mas deflagra uma série de desconfortos físicos no corpo da mulher. No início, quando, em geral, não há o menor indício de barriga, enjoos e tonturas podem tornar o simples despertar um martírio. À medida que a cintura desaparece, surgem as dores nas costas, a fome súbita e as crises de mal-estar. Por tudo isso, em órgãos públicos, serviços e comércio, as gestantes têm direito ao mesmo atendimento dispensado a idosos e deficientes físicos, entre outras pessoas com necessidades especiais. Duas leis, uma federal e outra municipal, asseguram tal privilégio. Nenhuma delas, no entanto, deixa claro de que forma a prioridade deve ser concedida. Dona de um barrigão onde, há oito meses, cresce uma menininha, visitei entre os dias 6 e 15 deste mês doze estabelecimentos na capital: três restaurantes concorridos, três hipermercados, três órgãos públicos e três cinemas. O objetivo era avaliar como seria recebida em cada um desses locais.
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O saldo geral foi positivo. Em todos os cinemas, por exemplo, comprei o tíquete rapidamente em guichês separados ou sem aguardar. Também pude esperar sentada a abertura das salas e entrei logo que o ingresso foi liberado, sem pegar o tumulto que só costuma parar depois que o filme começa. Apesar das longas filas, nenhum outro cliente reclamou. Nos hipermercados, passei as compras em caixas preferenciais sem grandes inconvenientes. Com exceção do Detran, onde duas pessoas sem necessidades especiais foram atendidas antes de mim, passei na frente dos demais ou fui recebida de maneira diferenciada. Chamou atenção o esquema da Receita Federal. Ali, um sistema eletrônico monitorado por uma equipe administra o andamento das senhas para garantir que os contribuintes sejam chamados em até dezesseis minutos. Eu esperei catorze minutos sentada confortavelmente em uma sala ampla e arejada.
Já nos restaurantes, a experiência não foi tão satisfatória. Em um deles, o Outback, não havia prioridade para incluir o nome na lista de espera porque, segundo a atendente, não há como saber quais das pessoas têm algum tipo de preferência. Além disso, aguardei — sentada e provando petiscos e bebida — uma hora para conseguir uma mesa de dois lugares. No Ráscal do Shopping Villa-Lobos, onde a espera anunciada era de cerca de 25 minutos, consegui uma mesa em vinte minutos e passei por um discreto constrangimento. Chegada a minha vez, um funcionário falou alto no saguão do shopping: “Giuliana, prioridade”, ao que se seguiram olhares de reprovação dos outros clientes.