São Sebastião: crescimento desordenado
Com casas milionárias e 20 000 pessoas vivendo em favelas, o antigo paraíso está cheio de problemas
Em 1985, a costa sul do litoral de São Sebastião entrou no roteiro das férias em família após a inauguração do trecho da Rodovia Rio–Santos que segue em paralelo a seus 100 quilômetros de praias, interligando-as desde a Juréia (vizinha de Bertioga) até os bairros do norte (em direção a Caraguatatuba). O acesso fácil para quem vem de São Paulo, em substituição ao antigo caminho de terra, fez o tempo de estrada cair pela metade, para aproximadamente três horas. Em conseqüência, o mercado imobiliário na cidade não parou de crescer. “São Sebastião conquistou o paulistano apoiada no tripé natureza, clima rústico e ausência de prédios”, diz o corretor Lúcio Zahoul.
Cada praia de São Sebastião atrai um público distinto. Os jovens escolheram Maresias por causa das ondas fortes e da vida noturna agitada. Os donos de barco construíram casas com vista para o rio de Barra do Una, onde aproveitam a estrutura de uma pequena marina. Barra do Saí desenvolveu-se ao redor de uma vila de pescadores – e até hoje não perdeu o charme. Camburizinho iniciou a onda de construções em condomínios de luxo horizontais, propagada para outras praias, como Camburi, Baleia e Juqueí. E o tal clima rústico já era.
Em um município onde 85% dos terrenos estão em área de proteção ambiental e 90% dos donos de terra são posseiros, segundo a prefeitura, os lotes disponíveis para construção valorizam-se muito. “Em relação à média do litoral paulista, é duas vezes mais caro construir ou lançar um empreendimento em São Sebastião”, afirma o prefeito Juan Garcia. O metro quadrado à beira-mar custa, no mínimo, 1 000 reais. É o dobro do valor praticado em Ubatuba. Mais de 870 casas estão avaliadas em mais de 1 milhão de reais, de acordo com o banco de dados da imobiliária de Zahoul. Ao contrário do que se pode imaginar, nem sempre essas casas milionárias possuem vista para o mar ou foram erguidas em terrenos regularizados. “Nesses casos, elas chegam a custar 5 milhões de reais”, diz o corretor.
Apesar dos preços altos e da dificuldade de encontrar terrenos livres, chama atenção a quantidade de lançamentos nas praias de São Sebastião. Somente na estrada principal de Maresias vêem-se oito placas anunciando novos condomínios. O maior deles é o Villa Marae, com 198 casas branquinhas de três ou quatro dormitórios, vendidas por 350 000 reais, em média. Outra constatação surpreendente: a maioria das incorporadoras que lotearam o paraíso fez isso sem garantir sua sustentabilidade. São raros os condomínios com sistemas de esgoto, reúso de água ou coleta de lixo para reciclagem. “Mais de 20 000 pessoas migraram para cá com o objetivo de trabalhar na construção civil e agora vivem em favelas”, diz o prefeito Garcia. Em decorrência do crescimento desordenado, os mares ficaram impróprios em Barra do Una, Boiçucanga, Paúba e outras sete das 33 praias do município nas férias de janeiro.
Mas há boas notícias. A Sabesp anunciou que vai construir duas estações de tratamento de esgoto, nos bairros de Paúba e Maresias. Ao custo de 3,5 milhões de reais, a primeira deve ficar pronta em 2010. A prefeitura instalou 33 câmeras em locais onde assaltos eram comuns e levantou verba para regularizar a situação de parte dos moradores de favelas. Também na iniciativa privada há um sopro de renovação. O condomínio Raízes, da Cyrela, anunciou que vai usar apenas mão-de-obra local para erguer as 125 casas que vendeu em Juqueí. Em outra obra na mesma praia, o conjunto de casas Reserva das Embaúbas, árvores raras foram marcadas com uma fitinha colorida para não ser derrubadas.