“Toda essa confusão é fruto da internet”, diz Anderson Birman
Depois das reclamações dos internautas em relação ao uso de peles exóticas, a marca Arezzo retirou sua coleção das lojas
A hashtag #arezzo foi um dos assuntos mais comentados no Brasil pelo Twitter nesta segunda. O motivo? O uso de peles exóticas na nova coleção da marca. Lançada na última quinta (14) na flagstore da Rua Oscar Freire, a linha Pelemania trazia bolsas, sapatos e outros acessórios confeccionados em pele de raposa e de coelho.
Após a divulgação da novidade nas mídias sociais, como o Twitter e o Facebook, a revolta foi grande. Surgiram comentários como “Vou torcer pra arezzo falir junto com sua mega ignorância !!! (sic)” e “a #arezzo tem q dar graças q o povo só xingou muito na internet. se fosse a glr da PETA as vitrines hj estariam cheias de tinta vermelha! (sic)”.
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Diante de tais manifestações, a grife brasileira decidiu recolher a linha de todas as lojas e pediu desculpas por meio de uma nota oficial: “por respeito aos consumidores contrários ao uso desses materiais, estamos recolhendo em todas as nossas lojas do Brasil as peças com pele exótica em sua composição, mantendo somente as peças com peles sintéticas”.
Para esclarecer o assunto polêmico, Anderson Birman, o criador do grupo de calçados, conversou com Veja São Paulo. Confira a seguir:
Veja São Paulo — É a primeira vez que a Arezzo trabalha com peles exóticas?
Anderson Birman â Sim e não pretendemos repetir essa experiência. Percebemos que, apesar de nossos produtos estarem dentro da lei, cumprirem todas as exigências, as pessoas não aceitaram bem a ideia para a nova coleção. O volume de peças de peles exóticas é insignificante quando comparado ao número de toda a coleção, porém, mesmo assim a confusão foi grande. É um assunto que gostaria de deixar para trás.
Veja São Paulo — A que atribuiu essa revolta? Afinal, a Arezzo sempre utilizou pele animal — couro bovino ou ovino — em suas peças.
Anderson Birman â Essa manifestação é sobre o uso de pele com pelo, coisa que fizemos pela primeira vez em toda a história da marca. Mas acredito que a situação tomou tal proporção principalmente por causa das redes sociais. Muito mais do que uma ação da Arezzo, toda essa confusão é fruto do movimento na internet. Por isso, decidimos recolher as peças, não vale a pena comprometer o brilho da coleção por causa de alguns itens. O restante da nossa coleção está muito bonito e é feito de materiais sintéticos. Algumas clientes, contudo, têm ligado para questionar nossa decisão. Elas dizem que têm o direito de comprar peças de peles exóticas se quiserem. Infelizmente não dá para agradar a todos.
Veja São Paulo — Quantas peças foram recolhidas? O que farão com elas?
Anderson Birman â Nossa coleção tem aproximadamente 2 milhões de itens, dos quais 300 são de peles exóticas. Como eu disse, é um número insignificante, mas nessas horas precisamos ouvir o cliente. Ainda não sabemos o que fazer com os sapatos e as bolsas recolhidos, nem com o dinheiro dos artigos que já foram vendidos. A ideia inicial é discutir soluções nas próprias redes sociais com aqueles que protestaram. Vamos pedir ajuda para os internautas sobre o que fazer agora. Poderíamos, por exemplo, realizar um bazar virtual das peças recolhidas e doar o dinheiro para uma organização.
Veja São Paulo — Como surgiu a ideia dessa coleção?
Anderson Birman â Queríamos nos aproximar das marcas internacionais, dos nomes de grandes grifes que têm a pele com pelo nas suas coleções. Talvez as pessoas ainda não estejam preparadas para esse tipo de produto, talvez ainda seja um assunto delicado. É como a questão do fumo. É legalizado, mas considerado politicamente incorreto. Foi uma feliz ideia para a atualização da marca, mas o resultado não foi nada satisfatório.
Veja São Paulo — Falando da moda de forma abrangente, o que acha do uso de peles de animais nas coleções?
Anderson Birman â Desde que o produto seja legalizado, não vejo problema. Por isso mesmo dei minha aprovação para a coleção Pelemania. Sou uma pessoa favorável à exploração inteligente da natureza. Ou seja, do uso controlado e certificado dos recursos naturais. Vejo isso como um atividade econômica como qualquer outra.