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Val Marchiori: a perua da vez pede passagem

Gastar 75.000 reais em uma tarde, fazer festas regadas a Veuve Clicquot, bancar apresentações num programa de TV. A receita para se tornar uma socialite famosa

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 18h33 - Publicado em 14 Maio 2011, 00h50
Val Marchiori no apartamento - 2217
Val Marchiori no apartamento - 2217 (Mario Rodrigues/)
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Alguém que mora num apartamento avaliado em 14 milhões de reais, anda pela cidade em um carrão blindado, usa um avião para as viagens de fim de semana e pode gastar 75.000 reais numa tarde de compras não deveria ter muitos motivos para se aborrecer. Mas a vida é dura e, de tempos em tempos, acontece algo para acabar com o alto-astral da empresária e apresentadora Val Marchiori.
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Ela salta das tamancas (da Christian Louboutin, naturalmente), por exemplo, quando lembram que seu nome de batismo é Valdirene. Segunda dos quatro filhos de um casal de agricultores, nasceu em Arapongas, no norte do Paraná, e sempre sonhou em morar e brilhar em São Paulo, para onde se mudou definitivamente em 2009.
Outra coisa que a tira do sério: ser recebida numa loja chique com uma tacinha de prosecco ou espumante nacional. “Hello, acho uma pobreza quando não me servem champanhe”, avisa, iniciando a frase com o bordão que solta a cada cinco minutos. O tempo, no entanto, realmente fecha quando querem esnobá-la. Dia desses, durante uma visita à Dior da Rua Oscar Freire, soube que Rosangela Lyra, diretora da marca no Brasil, não a considera uma cliente com o perfil da grife. “São estilos completamente diferentes”, disse Rosangela.
Val acusou o golpe, mas não deixou barato. “Estranho ter vergonha de mim, pois me convida para jantar e manda peças exclusivas para eu experimentar em casa”, rebateu, elaborando, em seguida, uma teoria para tentar justificar o tratamento que às vezes lhe dão. “Hello, a verdade é que muitas ficam com inveja porque sou mais linda, mais magra, mais rica e mais jovem do que elas.”

Mario Rodrigues

No apartamento dos Jardins: “Muitas ficam com inveja porque sou mais linda, mais magra, mais rica e mais jovem do que elas”

Dentro da crescente classe das emergentes, a personagem em questão inaugurou uma nova categoria: a de aspirante assumida a socialite. Desde o momento em que acorda até o fim do dia, faz tudo calculado para aparecer. Exagerando nas caras e bocas em frente à câmera, grava entrevistas no Brasil e no exterior para o quadro semanal Ícones de Luxo, do “Programa Amaury Jr.”, na RedeTV!.
Detalhe: nessas ocasiões, banca do próprio bolso as despesas de deslocamento e estada. Recusar um convite para aparecer numa festa, mesmo que seja um lançamento de produto ou um evento beneficente? Nem pensar. Como não poderia deixar de ser, também faz parte de seus hábitos esbanjar nos melhores restaurantes e lojas.
Num dia típico, depois de despachar os filhos para a escola e malhar o corpo na academia de seu prédio (a forma física foi turbinada com uma lipo na barriga e 260 mililitros de silicone nos seios), ela escolhe uma boa mesa da região dos Jardins para almoçar. Em seguida, seu Porsche Cayenne blindado — ter carros à prova de tiro é um dos vários cuidados que toma — serpenteia pelos quarteirões da vizinhança, iniciando uma tarde de compras.
Duas semanas atrás, chegou de óculos escuros vermelhos, balançando seu cabelo loiro cuidadosamente ondulado. Cumprimentou os seguranças pelo nome e recebeu das vendedoras uma taça de Veuve Clicquot. No balcão da joalheria Jack Vartanian, dentro da NK Store, provou uma corrente aqui, uma pulseira ali, mas seus olhos ficaram vidrados mesmo em um brinco de pedras vermelhas adornadas com brilhantes. Valor: 49.000 reais. Quando outra vendedora lhe mostrou um anel de 1.700 reais da designer Ana Khouri, Val fez cara de indignada e rejeitou a oferta: “Hello, é tão baratinho que eu iria encontrar muita gente usando”.
Desde cedo, essa perua assumida de 36 anos já demonstrava apetite pelo sucesso. Diz que, ainda menor de idade, começou a ganhar uns trocados vendendo no esquema porta a porta os produtos da Avon. Na adolescência, virou modelo e passou um tempo na Itália. Depois de quatro anos, voltou ao Brasil para montar em sociedade com um de seus três irmãos a transportadora Valmar, em Londrina, perto de sua cidade natal.
Dinheiro definitivamente deixou de ser um problema quando, em 2005, passou a viver com seu conterrâneo Evaldo Ulinski, dono do frigorífico Big Frango, que faturou no ano passado 1,2 bilhão de reais. A uma pessoa de sua confiança, o empresário disse recentemente: “A Val me custa 200.000 reais por mês”. O casal tem filhos gêmeos de 5 anos: Victor e Eike (sim, o nome foi uma homenagem ao bilionário Eike Batista). “Não somos casados no papel, pois o Evaldo ainda está em processo de divórcio com a ex”, diz ela, que contabiliza hoje em seu patrimônio uma criação de gado nelore e vários imóveis em São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
+ O dia a dia de Val
Sem preocupações financeiras, Val deu o próximo passo em seu projeto de ascensão: investir pesado na imagem. Para começar, contratou o cabeleireiro e maquiador Duda Martins, ex-funcionário de um dos salões mais badalados da cidade, o MG Hair Design, de Marco Antonio de Biaggi. Ela desembolsa 8.000 reais por mês para ter um expert em beleza 24 horas por dia à sua disposição.
Val nunca, jamais, em hipótese alguma, lava o próprio cabelo. Duda também a acompanha em viagens, como quando vai — a bordo de seu avião King Air 350, com oito lugares, avaliado em 5 milhões de dólares — curtir o fim de semana longe de São Paulo. Além de não perder uma festa, ela gosta de promover seus próprios regabofes no apartamento de 850 metros quadrados.
Em 2009, contratou a promoter Alicinha Cavalcanti para organizar seu aniversário de 35 anos. Os 150 convidados, parte deles desconhecida da anfitriã, beberam 130 garrafas de Veuve Clicquot Rosé e quarenta do caro vinho tinto italiano Brunello di Montalcino safra 2004. A noitada, que teve ainda um show do cantor Paulo Ricardo, custou 150.000 reais. Mas para ela valeu cada centavo.
+ Saiba qual é a receita de Val para brilhar
Isso porque o apresentador Amaury Jr., presente ao evento, fez o convite para que a personificação da perua moderna passasse a integrar seu programa. A ideia era que ela abordasse o mercado de luxo. Ou seja, falasse de coisas do dia a dia de quem toma champanhe em taça banhada a ouro importada da Noruega e tem coleção de mais de 100 bolsas de grife — só Louis Vuitton são mais de trinta modelos. “A Val é exótica, linda e simpática”, afirma o colunista social eletrônico da RedeTV!. “Além disso, viaja bastante e é deslumbrada com o mundo do glamour.”
Sem se importar com salário, ela topou na hora. A estreia ocorreu há onze meses. Já viajou para Itália, Estados Unidos e Canadá, sempre voando de primeira classe e se hospedando em hotéis cinco-estrelas. Tudo pago com seu próprio dinheiro. “Amo ser apresentadora”, conta. Graças a dois patrocinadores, afirma recuperar hoje parte do investimento, faturando 20.000 reais por mês. “Consigo pagar algumas despesas e comprar um ou outro vestidinho.” Recentemente, foi sondada para fazer parte de um reality show sobre o cotidiano de mulheres ricas, o Real Housewives, atração que a produtora argentina Cuatro Cabezas, a mesma do CQC, pretende levar ao ar em breve numa parceria com a Band.

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Mario Rodrigues

Val Marchiori closet - 2217
Val Marchiori closet – 2217 ()

Vista parcial do closet: mostruário de joias de 4 metros, com peças da Rolex, Cartier, H.Stern, Jack Vartanian…

De tempos em tempos, personagens lindas e exuberantes entram na sociedade provocando certo barulho. Quando o conde Armando Alvares Penteado se casou com a dançarina francesa Annie, no início do século XX, as senhoras de sobrenomes aristocráticos daqui estranharam a forasteira. Annie resolveu estudar etiqueta e se refinou de tal maneira que passou a tomar água apenas em copo de cristal Baccarat e beber chá em xícaras de porcelana da Companhia das Índias.
Nos anos 70, outra jovem que dançava balé clássico, Yara Rossi, causou comoção na sociedade ao fisgar o empresário Roberto Baumgart, um dos donos dos shoppings Center Norte e Lar Center. Acabou vencendo a rejeição com a ajuda de muitas festas em sua mansão no Morumbi. Há pouco tempo se separou do marido, e pede uma pensão de cerca de 5 milhões de reais por ano.
Mesmo numa era como a atual, em que o dinheiro troca de mãos com mais velocidade, possibilitando a criação de novas fortunas, esse processo de aceitação social raramente é livre de sobressaltos. “As famílias antigas ainda têm muita resistência a aceitar essa turma que vem de baixo”, diz Silvio Passarelli, diretor do curso de gestão de luxo da Fundação Armando Alvares Penteado.
Na alta-roda, portanto, continuam valendo muito os critérios do berço e do sobrenome. “Val Marchiori? Nunca ouvi falar”, diz Fátima Scarpa, filha de Francisco e Patsy Scarpa, um dos casais mais finos e tradicionais da cidade. Para ela, vestir-se de grifes da cabeça aos pés é sinônimo de jequice. “A bolsa Birkin, da Hermès, acabou virando um rótulo daquelas que querem parecer chiques. O efeito é justamente o contrário.”
A socialite Ana Maria Velloso, mulher do empresário Paulo Velloso, sócio da Editora Melhoramentos, concorda. “Não basta ficar rico, é preciso herdar educação e refinamento.” Vencer essa barreira da luta de classes, às vezes, parece uma missão quase impossível. Mas, hello, quem nasceu Valdirene não entrega os pontos assim tão fácil.A filosofia de uma emergente
“Empresa boa e mulher bonita não quebram. Trocam de proprietário”
“Pobre é uma desgraça: só anda de carro”
“Nascer na miséria é imposição, permanecer é opção”
“É um absurdo nas lojas Dior e Versace servirem prosecco. Um desrespeito com quem só bebe champanhe”
“Hello, jamais saio de casa sem estar com algum brilhante. Seria o mesmo que estar pelada”Caprichos, deslumbres e luxo de Val
Idade: 36 anosAltura: 1,76 metroPeso: 63 quilosNatural de: Arapongas (PR)Formação: concluiu o 2º grau e o curso técnico de contabilidadeOcupação: apresentadora do quadro Ícones de Luxo, do “Programa Amaury Jr.”, na RedeTV!, e empresária (sócia da transportadora Valmar e criadora de bois da raça nelore) Estado civil: vive há seis anos com o empresário Evaldo Ulinski, 64 anos, dono do frigorífico Big Frango, que no ano passado faturou 1,2 bilhão de reaisFilhos: tem os gêmeos Victor e Eike (homenagem ao bilionário do Rio de Janeiro), de 5 anosPerfumes: Coco Mademoiselle, da Chanel, e Presence d’une Femme, da MontblancLivro de cabeceira: “O Caçador de Pipas”Filme inesquecível: “Uma Linda Mulher”Restaurantes prediletos: Gero, Fasano e La TambouilleMarcas favoritas: Roberto Cavalli e Versace; só dessa última possui mais de oitenta vestidosVaidade: tem um maquiador particular, egresso do salão MG Hair, de Marco Antonio de Biaggi, à sua disposição 24 horas por diaColeção: bolsas. São mais de 100 modelos, de marcas como Hermès, Gucci e Chanel. Ela não usa mais as da Louis Vuitton de tamanhos grandes e médios por achar que estão muito “pobrinhas”. “Até babá tem usado, credo”Joias: gosta de pedras grandes e adornadas com brilhantesMeios de transporte: Porsche Cayenne, Porsche 911 Turbo, Mercedes-Benz C 280, uma lancha Intermarine de 48 pés batizada de Hello e um avião King Air 350 avaliado em 5 milhões de dólaresCasa: mora em um apartamento de 850 metros quadrados nos Jardins avaliado em 14 milhões de reais. Tem outros imóveis em São Paulo, Paraná e Santa CatarinaObjetos de decoração: sofá ovalado da designer espanhola Patricia Urquiola, de 80.000 reais; abajur do tamanho natural de um cavalo da marca holandesa Moooi, de 50.000 reais; e poltrona de couro assinada por Oscar Niemeyer, de 40.000 reaisÍdolos: Beth Szafir (“Sabe se vestir bem e de forma adequada à sua idade”); Maythe Birman (“O visual básico dela é extremamente glamouroso, nunca está desleixada”); e Luiza Brunet (“Está sempre feminina e sexy. Seja pelos vestidos ou pelo olhar”)

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