‘Sampa hermana’: Montevidéu vira São Paulo em novas séries
Em produções como "Manhãs de Setembro", capital do Uruguai, com melhores condições sanitárias e incentivos para filmar, se transforma em cenário paulistano
Em várias cenas de Manhãs de Setembro, nova série do Amazon Prime Video, a cantora e atriz Liniker entra e sai de um pequeno prédio com a fachada em reforma, onde vive sua personagem, Cassandra, na região central de São Paulo. Bom, pelo menos assim se passa na trama. Na realidade, o predinho é o Splendido Hotel, no centro antigo de Montevidéu, a capital uruguaia. Ao fundo, os produtores inseriram digitalmente edifícios paulistanos (de verdade) para aumentar a verossimilhança do cenário. “Levamos até carrinhos de pipoca e churros à cidade, para dar um ar paulistano”, diz o diretor Luis Pinheiro.
Na pandemia, séries e filmes brasileiros recorreram ao expediente de rodar as filmagens no Uruguai, onde a situação sanitária esteve sob controle na maior parte do período. “O país já tinha políticas para atrair produções do exterior, ao reembolsar parte dos gastos das gravações (São Paulo lançou uma iniciativa similar na terça 6). Na quarentena, o governo também abriu as portas para receber profissionais do audiovisual mesmo quando o turismo estava proibido aos estrangeiros”, diz Malu Miranda, diretora de conteúdo do Amazon Prime, que usou a “Sampa hermana” em três séries originais — além de Manhãs de Setembro, em Sentença (com Camila Morgado) e Lov3 (comédia sobre novos formatos de relacionamento), marcadas para estrear nos próximos meses. “Na chegada, as equipes precisavam ficar isoladas por uma semana em quartos de hotel. Fazíamos centenas de testes de Covid-19 por dia”, diz a executiva.
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Uma das adaptações mais ambiciosas aconteceu em Sentença, série na qual Morgado vive uma advogada criminalista. A equipe reproduziu casas da comunidade de Paraisópolis em uma área industrial abandonada de Montevidéu (veja acima). O horizonte do bairro paulistano foi inserido pela tecnologia. “Temos a cena de um engarrafamento em São Paulo que foi criado em um domingo em Montevidéu, usando 45 carros da produção. No fundo da imagem, entrarão prédios paulistanos onde, na verdade, existe o Rio da Prata”, diz a produtora executiva Carla Ponte. Nos roteiros iniciais, a ação se desenrolava em pontos específicos — como o Fórum da Barra Funda e presídios da capital. Conforme a pandemia tornou inviável filmar nesses locais, a trama passou a usar termos genéricos (como “Fórum de São Paulo”) ou ficcionais (“Penitenciária Feminina Três Marias”). “Filmamos no Cárcere Central de Montevidéu, que está desativado, e no anexo do Palácio Legislativo do país”, ela conta.
Como acontece com as novelas feitas em cidades cenográficas, o importante nas ficções é criar uma boa história — e não filmar exatamente onde se passa o enredo. “Em Lov3, por exemplo, a presença de São Paulo é definida pela atitude dos personagens”, diz o diretor Felipe Braga. “Os brasileiros sempre foram criativos na busca por soluções”, conclui Malu.
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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de julho de 2021, edição nº 2746