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“Quero que a Blogueirinha deixe de existir com as eleições deste ano”

Estrela da série "As Seguidoras", Maria Bopp, a Blogueirinha do Fim do Mundo, reflete sobre redes sociais e a criação de humor por meio da indignação

Por Barbara Demerov
11 mar 2022, 06h00
Maria Bopp aparece sentada com as pernas cruzadas. Ela é uma mulher branca, loira, magra e de olhos claros e veste um vestido verde escuro comprido. O fundo tem a mesma cor que o vestido.
Maria Bopp: personagem que simboliza seu oposto para “expurgar a raiva” (Gal Oppido/Divulgação)
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A paulistana Maria Bopp, 30, vive uma influenciadora digital em As Seguidoras, série do Paramount+ que acaba de estrear. Embora na nova produção a atriz interprete uma serial killer, ainda existem semelhanças com seu universo na vida real. Nos últimos anos, ela ganhou popularidade nas redes sociais como a Blogueirinha do Fim do Mundo, figura criada para ironizar fake news, negacionismo e, como ela mesma define, a “falta de noção da realidade”. Apesar de a personagem ter aberto portas e gerado identificação com o público, sua ideia é encerrar o papel ao fim das eleições de 2022, com o desejo de fazer um humor mais leve no futuro.

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Em As Seguidoras, você é uma influencer obcecada em ganhar seguidores. Qual sua opinião sobre o engajamento ser levado tão a sério?

É uma armadilha que a gente cai. No mundo das atrizes, muitas vezes o número de seguidores influencia se você será chamada para um papel. Cada vez mais vejo atores preocupados em alimentar suas redes. É cruel porque você fica refém de algo inesgotável. Sinto que tenho senso crítico para identificar quando me faz mal, mas gostaria que mais pessoas observassem isso.

Você é amplamente conhecida como a Blogueirinha do Fim do Mundo. Ela é um alter ego do que nunca gostaria de ser?

Com certeza. Ela é o fim do mundo. E ela representa um mundo que eu gostaria que não existisse mais.

Como chegou até essa personagem?

Em 2019, eu estava fazendo um curso/peça e estávamos trabalhando em um texto chamado Fim de Partida, de Samuel Beckett, que fala sobre o fim do mundo. E eu lembro que naquela semana a fumaça das queimadas (na Amazônia) invadiu São Paulo. Foi algo assustador e inédito. No meu celular, eu via a minha bolha falando fervorosamente sobre o assunto. Mas, de repente, vi uma influenciadora fazendo publicidade sobre maquiagem. Pensei: “Meu Deus, realmente existem realidades diferentes”. Foi aí que a Blogueirinha apareceu.

E o que ela simboliza para você?

Ela é onde eu expurgo minha raiva. Espectadores comentam coisas como “rir pra não chorar”, e é bem isso. É minha válvula de escape. Mas, ultimamente, muitos dizem que não conseguem mais rir da desgraça. Eu sinto isso também. Mas ela ainda funciona para que eu possa organizar minha indignação. Do ponto de vista profissional, ela abriu as portas da comédia. Eu tenho certeza de que As Seguidoras só veio até mim por causa da Blogueirinha. Antes eu fazia mais papéis dramáticos, como a Bruna Surfistinha em Me Chama de Bruna.

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Como foi o processo de construção e de inspiração para encarnar Liv?

É interessante trabalhar em uma série que fale sobre questões presentes no dia a dia, como a internet e os influenciadores digitais. Tudo vira matéria-prima. Há algumas semanas, uma menina fez uma dancinha de TikTok no leito de morte da mãe. Ela postou o vídeo e ganhou engajamento por isso. Quando você faz uma série como essa, isso também vira pesquisa.

O true crime, também presente na série, é um assunto muito comentado. Você já consumia esse conteúdo?

Já consumia e passei a ver mais nos últimos tempos. Eu brinco que assisto para “relaxar”. Mas é porque acho curioso como funciona a mente humana, as vidas pregressas dos serial killers. Na série, também temos isso com os flashbacks da Liv.

Outro assunto em alta é o BBB. Você participaria do reality show?

Jamais! É o meu maior pesadelo. Eu sou uma pessoa reservada até mesmo nas redes sociais. É uma escolha consciente. Minha privacidade é uma das coisas que eu mais prezo, então ir para um reality, ser julgada e observada 24 horas com o risco de me queimar e ser cancelada? Não, jamais iria.

Você se considera “fluente em ironia”. Acredita que tem o papel de fazer as pessoas enxergarem o que é normal e o que não é na sociedade?

Sim. Parte desse meu entendimento vem pelo que as pessoas me escrevem. Professores dizem que exibem meus vídeos em aula para ensinar figuras de linguagem, como a ironia. As pessoas falam que meus vídeos provocam, trazem debates. Então, já que virei uma influenciadora, mesmo sem querer, que eu influencie para o bem.

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A Blogueirinha foi uma iniciativa independente. Acha que, cada vez mais, artistas terão de criar projetos próprios para se manter na ativa?

Isso seria algo que eu incentivaria não só por causa da situação deplorável da cultura, mas também porque é interessante para o ator não ficar em um lugar de espera por um teste. O ator pode assumir as rédeas da criação e de seus próprios personagens.

Você disse que ela ainda faz sentido. Pensa em deixar de interpretá-la algum dia?

Eu quero que a Blogueirinha deixe de existir com as eleições deste ano. Claro que eu posso fazer críticas ao governo que for, mas espero que o fim do mundo acabe em 2022. Espero que eu possa criar outras personagens. Costumo dizer que comecei a fazer humor através da raiva, mas eu gostaria de ter outros combustíveis para fazê-lo, e que ele não seja carregado de tanta indignação. Quero um humor mais leve, cotidiano, de assuntos mais prosaicos. Ainda não me veio a inspiração, mas acho possível que venha.

Sente que terá mais inspiração até as eleições?

Infelizmente, acho que ainda terei muito conteúdo a produzir. O atual governo faz questão de dar motivos.

Algum lugar de São Paulo já lhe rendeu uma inspiração orgânica?

Existe uma página chamada Influencers in the Wild, que mostra o plano aberto de influenciadores tirando fotos ou gravando vídeos em público. No Parque Ibirapuera, lugar que adoro, cheguei a ver meninas fazendo essas dancinhas. E eu amo a Augusta. É um dos lugares mais democráticos de São Paulo. Você vê pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais. Mas, geralmente, as inspirações que tenho vêm de pessoas que eu conheci e que parecem não viver neste mundo.

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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de março de 2022, edição nº 2780

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