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Saiba como foi o segundo dia do Lollapalooza

Sem muitos dos problemas de organização que incomodaram o público na noite anterior, festival terminou com um show grandioso do Arcade Fire

Por Redação VEJASAOPAULO.COM
Atualizado em 5 dez 2016, 14h56 - Publicado em 6 abr 2014, 15h58

Com menos filas e nada de empurra-empurra entre os palcos, o segundo dia de Lollapalooza mostrou que a organização do festival conseguiu resolver muitos dos problemas que afetaram a noite de sábado (5) no Autódromo de Interlagos. Com um público de cerca de 60.000 pessoas – apenas 10 mil a menos que na noite anterior, de acordo a produção – ficou um pouco mais fácil circular na área do evento e assistir a shows de bandas como Pixies, Arcade Fire e New Order. 

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As diferenças foram percebidas já na chegada ao Autódromo. Houve menos aglomeração dentro dos trens e trânsito fluiu bem. As filas nos portões principais eram longas, mas o público entrava rapidamente nas áreas dos shows. As atrações de entretenimento funcionaram bem: muitos preferiram trocar um ou outro show para conhecer o ringue de patinação, a feirinha gastronômica e as tendas para descanso. Para refrescar a plateia no calor de cerca de 30 graus, eram muitos os borrifadores de água espalhados perto dos palcos. A ida para casa também foi facilitada: apesar da grande quantidade de pessoas, a estação da CPTM estava organizada e não houve tumulto na madrugada de segunda (7).

O Arcade Fire, uma das atrações mais esperadas da edição, não desapontou com um show que trouxe os hits dos três discos do grupo acompanhados do jogo de cena da turnê mais recente, do álbum Reflektor (2013). Entre as surpresas do dia, Johnny Marr fez um show incendiário graças a sucessos de sua ex-banda, o Smiths, o Soundgarden mostrou força ao lotar o palco Onix e o New Order matou a saudade dos quarentões. A seguir, acompanhe os destaques de cada apresentação:

JOHNNY MARR – 14h20 às 15h20 (Palco Onix)

A maioria do público que lotou o palco Onix desconhecia muitas das músicas da carreira solo de Johnny Marr. Estava ali por outro motivo: ver de perto o guitarrista dos Smiths, uma das bandas mais admiradas dos anos 80. A presença do músico de 50 anos já seria o bastante, mas Marr resolveu dar um presente aos fãs mais antigos: uma apresentação que, nos momentos de maior entusiasmo, soou como uma homenagem à sua ex-banda.

Ao menos três momentos trouxeram uma onda de nostalgia ao Autódromo. Primeiro, Bigmouth Strikes Again, um dos hits mais duradouros do Smiths. Depois, How Soon is Now?, com participação especial do baixista Andy Rourke, também ex-integrante do grupo inglês e chamado de “badass” por Marr. Para fechar, There is a Light that Never Goes Out levou trintões às lágrimas.

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Entre um e outro momento de saudosismo, o que se viu foi um músico ainda em boa forma e com um repertório consistente, à frente de uma banda que mostra como a influência de Marr foi decisiva para o pop inglês dos anos 90, formado por “pupilos” como Oasis e Manic Street Preachers. Em resumo: uma aula emocionante.

O que funcionou: Os hits dos Smiths. Todos.

O que não funcionou: Quando Marr engatava músicas menos conhecidas, muita gente torcia para que ele mergulhasse novamente no passado.

O que faltou: Mais Smiths?

(Tiago Faria)

ELLIE GOULDING – 15h25 às 16h25 (Palco Skol)

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A inglesa de 27 anos Ellie Goulding mostrou que tem, sim, muitos fãs e que boa parte deles estavam no Lollapalooza. Em gratidão antecipada, subiu ao palco usando uma camiseta da seleção brasileira de futebol, com o nome dela estampado nas costas. A loira não sossegou. Do começo ao fim, pulou, correu, dançou, tocou e jogou a cabeleira pro alto. Já nos primeiros acordes de hits como I Need Your Love e Starry Eyed e o público (formado por muitos jovens, principalmente meninas) se manifestava, aos gritos. E ela, sorria, feliz por ver aquela multidão aos seus pés. Uma estrela pop.

O trunfo do seu show, aliás, é esse. Ela sabe ser pop. E como toda estrela, coloca fiéis súditos ao seu redor. Neste caso, seus três backing vocals, que além de segurar a base enquanto Ellie está ofegante, dançam e esbanjam simpatia. O público gostou, dançou e pulou junto com a moça, que, no fim, despiu-se da camiseta canarinho e entoou Burn com um top rosa, “sexy sem ser vulgar”, como dizem.

O que funcionou: A disposição atlética da cantora.

O que não funcionou: A preocupação excessiva com o cabelão.

(Milena Emilião)

VAMPIRE WEEKEND – 16h30 às 17h30 (Palco Onix)

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A cerca de dez metros do palco Onix, por boa parte dos 60 minutos da apresentação do Vampire Weekend, três fãs do Soundgarden não pararam do provocar a banda nova-iorquina: “Sai do palco! Hipster!”,gritavam, ao fim de quase todas as músicas. Mais uma prova de que, apesar das melodias delicadas e dos hits alegres que esquentam festinhas de moderninhos, o quarteto incomoda muita gente. Talvez porque os nova-iorquinos tomem caminhos sutis muitas vezes não provocam aquela primeira impressão explosiva quando interpretadas em grandes arenas e festivais – em alguns casos, nem mesmo funcionam em espaços amplos.

O disco mais recente deles, Modern Vampires of the City, um dos mais elogiados de 2013, troca a euforia dos dois álbuns anteriores por uma sonoridade mais introspectiva, por vezes melancólica.  Essa mudança pode ser notada também no show deles, dividido entre esses duas fases do grupo. Entre faixas mais animadinhas como Cousins (que tem um quê de frevo) e de canções tristes para ouvir em fones de ouvido como Hannah Hunt, o que sobressai é uma banda disposta a se transformar sempre. A ousadia compensa: no quase hino Ya Hey, o momento mais forte do show, o público correspondeu erguendo cartazes com o nome da música. O vocalista Ezra Koenig, um tanto tímido no palco, retribuiu a gentileza com uma apresentação solar. Talvez corretinha e sem momentos de impacto à la Soundgarden, mas um deleite para quem acredita que o rock ainda pode pregar boas surpresas no público.

O que funcionou: A ótima Ya Hey ganhou ainda mais nuances no palco e roubou o show.

O que não funcionou: Algumas faixas dos primeiros discos da banda, mais compactas e festivas, ficaram um pouco deslocadas no conjunto.

O que faltou: Eles poderiam ter tocado o disco mais recente na íntegra, não?

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(Tiago Faria)

PIXIES – 17h35 às 18h50 (Palco Skol)

Foi com uma pegada nova que o Pixies subiu ao palco Skol – apenas três anos anos após a última apresentação, no SWU, em 2010, em Itu. Sem Kim Deal, pairava um medo de como seria o show de hoje. A apreensão foi dissipada já na primeira música. Bone Machine, que tomou o público (bem maior agora do que no começo do dia) de jeito. No lugar de Kim entrou Paz Lechantin, baixista argentina que não pareceu amendrontada pela multidão nem pela responsabilidade.

O show foi pesado, o som estava alto e, como de costume, Black Francis – o frontman da banda – falou pouco e tocou muito. Foram mais de vinte músicas, entre elas os hinos Where Is My Mind e Here Comes Your Man, quando a plateia reagiu com o coro esperado. O Pixies também mostrou músicas do disco mais recente, Indie Cindy (deste ano), o primeiro inédito em 23 anos de carreira, e, mais uma vez, deixou seus fãs mais do que satisfeitos.

O que funcionou: A nova integrante, Paz Lechantin, que com uma flor amarrada no braço do baixo, mostrou que tem voz e presença

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O que não funcionou: Algumas faixas dos primeiros discos da banda, que faziam, por poucos minutos, o público parar de pular.

(Milena Emilião)

SOUNDGARDEN – 18h55 às 20h30 (Palco Onix)

Para compensar as décadas de espera dos fãs brasileiros, o Soundgarden repassou hits de toda a carreira em seu primeiro show no país. Expoente do grunge ao lado de Nirvana e Pearl Jam nos anos 90, a banda de Seattle priorizou faixas do disco Superunknown, que completa vinte anos, como Fell on Black Days e Spoonman. A voz grave e rasgada de Chris Cornell continua igual, mas ele já não alcança mais os agudos como antigamente. Tudo bem, a multidão extasiada perdoou fácil. Marmanjos choravam, garotinhas se derretiam. Com os cabelos compridos caindo sobre o rosto e roupas pretas, o galã tirou fotos do público com seu celular e improvisou uma homenagem a São Paulo na introdução de Black Hole Sun.

Outro destaque do repertório foi Jesus Christ Pose, do terceiro álbum do grupo, de 1991. “Vocês esperaram muito tempo. Essa é para vocês”, disse. Apesar da ode ao passado, ele também fez questão de incluir no repertório uma ou outra do disco mais recente, King Animal (2012), e pediu para os fãs darem mais atenção ao trabalho. “Comprem, façam download ilegal, façam o que quiserem, mas não deixem de ouvir”, disse Cornell. Quem foi embora mais cedo para pegar a abertura do Arcade Fire, no palco principal, perdeu o bonitão percorrendo o corredor para cumprimentar a galera logo após Beyond the Wheel, a última do show. 

O que funcionou: Priorizar os hits e deixar o disco mais recente de lado foi uma escolha certeira da banda, que fez uma estreia tardia por aqui.

O que não funcionou: Recorrer a ecos não disfarçou a dificuldade de Chris Cornell para atingir os agudos. Nada disso, porém, comprometeu o resultado.

(Mayra Maldjian)

NEW ORDER – 20h30 às 22h (Palco Interlagos)

Um público variado de fãs quarentões, alguns junto com seus filhos, e outros mais novinhos lotaram o palco Interlagos para acompanhar o show da banda britânica New Order, que encerrou o segundo dia do Lollapalooza no palco Interlagos. O grupo liderado por Bernard Summer empolgou do começo ao fim – mesmo com a falta de carisma do vocalista – alternando  bons momentos roqueiros e outros mais eletrônicos. No começo da apresentação, Summer agradeceu com um “muchas gracias” e disse amar o Brasil por causa das “caipirinhas, mojitos e bife”. O repertório foi variado: começou com Elegia e Crystal, passou por Ceremony e Age of Consent, e não esqueceu dos hits mais esperados que trouxeram um gostoso clima nostálgico à apresentação: Blue MondayLove Will Tear Us Apart, que rolou depois que a New Order já tinha se despedido e os fãs pediram freneticamente por um bis (é verdade que parte deles virou as costas e correu em direção à estação de trem). Imagens de Ian Curtis foram projetadas no telão e emocionaram até os mais novos fãs do Joy Division – banda liderada por Curtis (morto em 1980), da qual Summer fez parte

O que funcionou: Os clipes criaram todo um “clima” da New Order.

O que não funcionou: Quando Summer tocou uma música nova, Singularity, e reclamou demais porque as pessoas não sabiam o nome correto dela.

O que faltou: Summer só precisava aprender algumas outras palavras de agradecimento em português.

ARCADE FIRE – 20h30 às 22h (Palco Skol)

Na turnê do disco Reflektor (2013), que trouxe a banda ao Brasil após um intervalo de nove anos, o Arcade Fire fez um espetáculo grandioso. Apesar de seguir um roteiro muito bem definido que se repete a cada apresentação, com referências de cinema (o filme Orfeu Negro, de 1959, com trechos exibidos no telão) e artes plásticas (a certa altura, os integrantes vestem máscaras gigantes), o sexteto liderado por Win Butler acrescentou um tempero local a essa espécie de ópera-indie. E ganhou a torcida.

A sintonia com a música brasileira apareceu em três citações: O Morro Não Tem Vez, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (interpretada por Régine Chessagne), Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, e Nine Out of Ten, de Caetano Veloso. Também entrou em cena de forma mais sutil. Ao apresentar The Suburbs, Butler falou em português que aquela era uma “música sobre saudade”. Depois, reforçou que, numa conversa com o vocalista do Vampire Weekend, eles haviam chegado à conclusão de que quase todas as músicas deles eram sobre o tema. Se o Brasil ganhar a Copa, Win prometeu, o Arcade Fire fará um show inteiro vestida com roupas da seleção. “Vocês têm que ganhar”, disse. Quase tudo isso já havia sido visto na apresentação no Rio de Janeiro, na sexta (4).

Rigor teatral à parte, a banda também faz o possível para amplificar o próprio som, que fica ainda mais potente ao vivo. No palco, ela dobra de tamanho com a presença de percussionistas, uma violinista e sopros. Canções não tão novas, como Laika e No Cars Go, ganham mais nuances para combinar com as muitas camadas sonoras das novas Reflektor e Here Comes the Night Time. Para uma banda que se esforça para ficar à altura das ambições muito altas, é de impressionar como o Arcade Fire consegue fisgar a atenção do público em cada trecho do show, que, repleto de picos empolgantes, caminha para uma apoteose que inclui chuva de papel picado, queima de fogos e coro de “ô, ô, ô”, na inevitável Wake Up. Missão cumprida mais uma vez: poucos soam tão gigantescos em cena quanto os canadenses.

O que funcionou: A cenografia caprichada, com um quê de ópera-rock.

O que não funcionou: A banda ainda exagera um pouco ao não selecionar um repertório com espaço para sutilezas – prefere disparar vários hits potentes que, a partir de um certo momento, podem cansar o público. É como se o setlist fosse uma sucessão de clímaxes.

O que faltou: Mais faixas do disco Neon Bible, que mostram o lado mais sombrio do grupo.

(Tiago Faria)

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