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Palavras canceladas: “dicionário” no Instagram explica termos inadequados

Grupo de publicitários criou página do Instagram que explica origem de vocábulos como "judiação"

Por Gabriela Amorim, Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 mar 2021, 16h54 - Publicado em 26 mar 2021, 06h00
Exemplos de postagens: visual compartilhável e linguagem didática
Exemplos de postagens: visual compartilhável e linguagem didática (Gabriel Damasceno/Divulgação)
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Nove jovens publicitários de São Paulo criaram um projeto chamado Dicionário Consciente, página no Instagram que explica a origem por vezes preconceituosa de palavras e expressões da língua portuguesa. Pretendem, assim, ajudar a aposentar esses termos — que esbarram em xenofobia, gordofobia e racismo — antiquados para os tempos atuais.

Em cada postagem, o grupo explica a origem do verbete a ser “cancelado” e o motivo pelo qual o uso seria problemático. Para isso, usam “minicartazes” de visual bacana e compartilhável, além de uma linguagem simples e didática — sem a agressividade que às vezes marca o debate. Também indicam expressões para substituir as apontadas como ultrapassadas. Nessa toada, já passam de 12 700 seguidores na rede social. “Deixar de usar uma palavra que ofende o outro é um ato de empatia”, diz Gabriel Mendonça, 20, um dos criadores da página, que nasceu em agosto. “A (amiga) Gabriela Bergantin compartilhou a ideia comigo e, no dia seguinte, já tinha muita gente envolvida”, ele conta.

Mesmo com o rápido engajamento da turma, passaram-se sete meses entre a ideia inicial e a publicação da primeira postagem. Nesse período, os jovens pesquisaram mais de 180 palavras e frases. Algumas passariam despercebidas mesmo pelos mais bem-intencionados usuários do idioma, como Sessenta é o novo quarenta (veja exemplos nas imagens abaixo), que trata como um problema a idade mais avançada, ou os verbetes judiar e judiação, que remetem ao extermínio de judeus na ditadura nazista de Adolf Hitler (1889-1945).

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Se surgem usuários que discordam da reinvenção idiomática, o grupo incentiva o diálogo. “Mesmo entre nós não há todos os lugares de fala (representantes de grupos específicos)”, diz Walter Santos, 21, outro dos criadores. “É fundamental escutar e entender as sugestões enviadas.” > @dicionarioconsciente.

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A língua dos racionais

“A preposição faz toda a diferença. O nome do projeto não é Dicionário do Capão, é Dicionário Capão”, diz o publicitário Hugo Duarte, 35. Explica-se: os verbetes do perfil de Instagram que ele criou não se restringem ao bairro, na Zona Sul da capital, mas “abarcam uma vivência periférica que vai além de limites geográficos”, ele aponta. Ainda assim, a página traz exclusivamente palavras retiradas das músicas do grupo de rap Racionais MC’s, que tem origem ligada ao Capão.

hugo ao lado de arte de post do instagram
Hugo Duarte, criador do Dicionário Capão: gírias da periferia (Miguel Jerônimo/Divulgação)
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Duarte morou no Campo Limpo (na mesma região) até os 28 anos e hoje vive no Butantã. O glossário tem sutilezas. A palavra zica (abaixo), por exemplo, pode significar uma pessoa muito ruim ou muito boa em algo. “Tem de viver ou compreender a periferia para entender certas coisas. Assim como a caligrafia da pichação que usamos nos posts. Os traços não são entendidos por todos. Às vezes, só bate e volta.” > @dicionariocapao

palavra zica escrita no estilo pixação
“Zica”, um dos verbetes escritos por @tfavaro e Hugo Duarte (Reprodução/Instagram/Divulgação)

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Publicado em VEJA São Paulo de 31 de março de 2021, edição nº 2731

 

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