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Xadrez vira tendência entre executivos para treinar estratégias e foco

Amadores usam o jogo de tabuleiro para desenvolver habilidades como concentração, evidenciadas pelo sucesso da série O Gambito da Rainha, da Netflix

Por Fernanda Campos Almeida
4 dez 2020, 06h00
Pôster de Gâmbito da Rainha, na Netflix, e Nizan Guanaes: aprendizado para foco e concentração (Marcelo Navarro/Divulgação)
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Febre no streaming, O Gambito da Rainha, história da órfã que aprende xadrez com o zelador do orfanato e enfrenta grandes enxadristas, despertou o interesse de quem nunca tinha dado uma chance ao esporte. “As pessoas achavam que era apenas um jogo de tabuleiro para nerds introvertidos, de óculos de lentes grossas e camisa abotoada até o pescoço”, brinca Juliana Terao, 29, hexacampeã brasileira. Ela diz ser um esporte democrático, o único em que uma criança de 7 anos pode jogar com um idoso de 107.

Tendência no mundo corporativo, o xadrez para melhorar habilidades de estratégia e concentração tem atraído executivos. “Jogo mal desde pequeno, mas voltei a praticar porque todo empresário precisa de foco”, conta o publicitário Nizan Guanaes, 62, que lançou no início do ano a empresa N.ideias, consultoria de estratégia em comunicação.

Xadrez – Eduardo Rocha
Clínica de Eduardo Rocha: xadrez é a “ginástica do cérebro” (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Carlos Alberto Miranda, 58, CEO da X8 Investimentos e mentor da Endeavor, comprou cursos on-line e livros sobre xadrez na pandemia, mas a série da Netflix foi a “provocação final”. Ele diz que a experiência com empresas de rápido crescimento o fez perceber que investir em projetos é como jogar no tabuleiro. “Você prevê mudanças de cenário, mas é surpreendido com contrajogada e precisa se adaptar. O raciocínio fica afiado.”

Carlos estuda sozinho, mas Nizan pratica xadrez na clínica Movimente, na Vila Olímpia. O fundador e educador físico Eduardo Rocha, 42, alia o xadrez aos exercícios aeróbicos para melhorar funções do cérebro desde 2016. Ele aconselha o tabuleiro aos que querem se livrar de ansiedade, insônia, stress e vícios, já que, durante as partidas, o jogador desenvolve a concentração no tempo presente. “É como se você entrasse em stand by. Até a respiração muda.” Como o jogo também aprimora a habilidade de estratégia, boa parte de seus clientes é de empresários, atletas e alunos de pré-vestibular.

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Carlos Alberto Miranda: estratégias do jogo nos negócios
Carlos Alberto Miranda: estratégias do jogo nos negócios (Divulgação/Divulgação)

A estudante Clarice Flores, 15, começou a jogar aos 9 anos e diz que ganhou facilidade para se concentrar nas provas e no controle das emoções. “Meus amigos achavam que era coisa de gente velha, mas por causa da série agora me pedem para ensinar”, conta a jovem, que participa de torneios amadores e se espelha na personagem principal, Beth Harmon. “Ainda há preconceito contra as meninas. Já aconteceu de eu competir com um homem mais velho e ele me olhar como se dissesse ‘É com você que vou jogar?’.”

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Clarice tem aulas de xadrez por chamada de vídeo com o Grande Mestre (título mais importante) Gilberto Milos. O enxadrista teve de se adaptar com o aumento na procura por aulas durante a pandemia ensinando em plataformas on-line. Enquanto o Lichess.org é um site gratuito de interface simplista, o Chess.com oferece miniaulas, desafios, exercícios, torneios, análises de jogadas e adversários robôs de diferentes níveis e estilos. “Xadrez é ótimo para jovens porque trabalha o raciocínio lógico, que ajuda em cálculos matemáticos e redação”, explica Milos. O enxadrista afirma que crianças a partir dos 4 anos podem começar a prática. A diferença está na didática. Um dos alunos mais novos, Miguel Ferreira de Moura, 6, aprendeu brincando no computador, conta o pai, Reinaldo Ferreira, 37. Depois que o pequeno começou a pegar gosto, Milos propôs aulas de trinta minutos e hoje Reinaldo conta que o menino já dá xeque-mate em adultos.

Miguel Ferreira – Xadrez
Também feito para crianças: Miguel aprendeu xadrez aos 6 anos pelo computador (Alexandre Battibugli/Veja SP)

O xadrez é o mais importante jogo de tabuleiro, e a versão mais aceita sobre sua origem remonta à Índia do século VI. Nas partidas, o objetivo é capturar (ou colocar em uma posição de inevitável captura) a peça mais importante do adversário: o rei. É o famoso xeque-mate. Nos anos 70, durante a Guerra Fria, o esporte viveu um apogeu de popularidade, quando a supremacia dos russos foi quebrada por um jovem americano chamado Robert “Bobby” Fischer durante uma série de jogos épicos. No meio do xadrez, muitos comparam a história de Fischer com a de Harmon, protagonista da série, que tem sido bastante elogiada pela precisão e fidelidade aos princípios do jogo. Gambito da rainha é um tipo de jogada que dá início à partida.

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Publicado em VEJA São Paulo de 09 de dezembro de 2020, edição nº 2716.

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