Filha de Fernanda Young, Estela May apresenta sua primeira mostra individual
A exposição na 9ª Arte Galeria tem vinte tirinhas originais em nanquim, que foram publicadas diariamente nos últimos anos e retratam reflexões cotidianas
A cartunista Estela May Young Machado, 22, inaugurou na quarta-feira (1º) a primeira exposição da carreira, na 9ª Arte Galeria, na Rua Augusta.
O sobrenome — e talvez o olhar marcante — pode soar familiar: Estela é filha de dois notáveis da cultura contemporânea: os roteiristas e escritores Alexandre Machado e Fernanda Young, que morreu aos 49 anos em decorrência de uma crise de asma seguida de parada cardíaca, em 2019.
“Comecei a desenhar na escola, para ter algo para mostrar para meus pais”, ela diz. As trocas frutíferas em casa revelaram um talento precoce: em 2018, aos 17 anos, May começou a publicar uma tirinha diária na Folha de S.Paulo chamada Péssimas Influências. É uma seleção dos cartuns, com curadoria da desenhista, que dá forma à mostra de estreia. “Expor todas juntas é especial, porque narra tudo o que passei no período”, ela conta. “Sempre me senti muito criança, mesmo após começar a trabalhar. Mas, observando o percurso, vejo que cresci. Faz sentido vê-las como um diário”, diz.
+ Cartunista Allan Sieber traz sua crônica rancorosa à capital
Criada em Santa Cecília, Estela viveu a infância entre as referências dos pais e o convívio com os irmãos — a gêmea Cecília Madonna e os caçulas John Gopala e Catarina Lakshimi. “Passei bastante tempo em casa, com livros e boa companhia”, diz. O resultado é um olhar sarcástico e curioso para o mundo e as normas sociais.
As “péssimas influências” são difusas, segundo a artista. “As tiras são meus pensamentos cotidianos, às vezes toscos, às vezes positivos. As pessoas nas tiras, sem dúvida, são péssimas influências para os leitores”, brinca. May é uma má influência? “Só de mim mesma. Tento influenciar John e Catarina, mas eles não me dão tanta bola assim”, diverte-se.
A precoce perda da mãe impactou a obra da cartunista. A família, porém, segue presente. “Meu pai lê todas as tirinhas. Geralmente gosta, às vezes sugere que eu troque uma palavra”, conta. Renata Young, irmã de Fernanda, acompanhou a montagem da exposição. “Eu e minha tia estamos sempre juntas”, diz.
A mostra tem vinte tiras originais em nanquim, sessenta digitais e 370 projetadas. Com exceção das originais, serão vendidas em tiragens de dez unidades numeradas e assinadas.
9ª Arte Galeria
Rua Augusta, 1371, Loja 113 (Galeria Ouro Velho), telefone 98238-4928.
9artegaleria.com. Até 25/03
Publicado em VEJA São Paulo de 08 de março de 2023, edição nº 2831.