Dança depois dos 90: conheça Dona Maura e sua história com o sapateado
Com quase 100 anos, ela encontra na prática uma fonte de vitalidade e de felicidade
Toda terça e quinta, às 16h, Maura Baccaro separa sua roupa, os calçados especiais e vai para a aula de sapateado no Instituto Jovens de Coração, grupo em São José dos Campos voltado a alunos acima dos 45 anos. “Eu nunca pensei que iria sapatear. Um dia a professora me olhou e falou que meu lugar era nos palcos”, conta ela, que deu os primeiros passos na dança aos 95 anos.
Hoje, aos 98, Dona Maura é escalada para o elenco de todas as apresentações do projeto. “As pessoas querem vê-la”, explica Aline Carneiro, diretora artística e idealizadora do instituto. A professora conta que Dona Maura é uma aluna dedicada e vaidosa. É ela quem costura todos os seus figurinos e faz as próprias unhas antes de subir ao palco.
“Com a dança eu fiquei mais feliz do que eu já era”, afirma. Além dos benefícios para a mente, a dançarina sentiu fortalecimento nas pernas e melhora no equilíbrio. A diretora acrescenta outros benefícios da prática para alunos maduros. “Eu vejo também um impacto na coordenação motora, na memória e na parte cognitiva. Há toda uma movimentação de energia e troca que faz muito bem para eles”, completa Aline.
O Jovens de Coração também oferece turmas de jazz e passinho retrô. Atualmente, são 115 aprendizes, a maioria acima dos 60 e sem experiência anterior no baila- do. “Muitos chegam e dizem não ter coragem, que são duros, sem ritmo. A gente fala ‘venha aprender conosco’ e quando menos esperamos eles estão dançando no palco”, comenta Rossana Moraes Carneiro, presidente do instituto e irmã de Aline.
Com separação de níveis e foco na técnica, as turmas têm uma agenda cheia de eventos. Nesta sexta (26), o grupo se apresenta no Festival Copasetic de Sapateado, no Teatro Mooca, em São Paulo, e, no mês que vem, no Teatro Cine Santana, no Parque Vicentina Aranha e na Mostra Regional do Programa de Qualificação em Dança no Teatro Municipal, todos em São José.
No momento, Dona Maura tem ensaiado uma coreografia ao lado da neta, Leila, e da bisneta, Lara. “Na hora das apresentações eu me sinto muito importante, a maior. Fico muito feliz”, finaliza a dançarina, que, perto de chegar aos 100 anos, dá aula de vitalidade.
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de setembro de 2025, edição nº 2963