Aproveitei a baixa no movimento, dia desses, para passear a pé pela nossa querida cidade com meu filho caçula, o Sammy. Começamos por seu destino favorito em São Paulo, o Museu do Futebol, no Pacaembu. Se você ainda não o conhece, vá. Hoje mesmo. É muito bom. Precisa de uma atualização, é verdade. Poderia ser ainda melhor. Mas isso não importa.
Nessa visita, eu me ofereci para tirar a foto de duas garotas jovens e bonitas em passeio ali. Percebi que eram oriundas de outro país. Mas não consegui adivinhar a origem com base apenas nos biotipos. A foto foi uma desculpa para falar com elas. “Argentinas”, responderam, para minha surpresa, com sotaque portenho. Ocorreu-me como o museu poderia atrair muitos turistas daquele país. Bastaria abrir uma ala dedicada “à grande rivalidade”, com filmes e gols de partidas ao longo da história. Brasil x Argentina. Daria ibope. Precisaria ter uma máquina de votar em quem era melhor, se Pelé ou Maradona, Messi ou Ronaldo, depois de assistir a seus gols antológicos. Fica aí a sugestão.
Do museu, entramos direto na loja que fica ao lado, que ninguém é de ferro. Quase gasto uma fortuna em uma camiseta vintage do escrete canarinho da década de 80. Ainda bem que não tinha o meu tamanho (GG). Esse é o melhor endereço que conheço para encontrar produtos “boleiros”. Por um motivo simples: vende, além das chuteiras e camisas lindas do mundo inteiro, bolas novas, luvas de goleiro e muitos livros sobre o esporte. Traz uma seleção inspirada dos títulos recentes dedicados ao futebol no Brasil.
De lá, subimos a pé até uma banca tradicional, a Frutaria Paulista, localizada nas imediações da Avenida Doutor Arnaldo, para tomar água de coco. No caminho, passamos pela casa de um dos maiores intelectuais da história do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda, falecido em 1982. A prefeitura já comprou o imóvel, mas até agora não conseguiu fazer nada com ele. Penso que ali deveria ser montada uma biblioteca ultramoderna. Vamos ver o que acontece. Explico a Sammy quem foi a figura e que um dia ele terá o prazer de ler sua obra-prima, Raízes do Brasil. Meu filho não se entusiasmou. Pareceu-me mais interessado no fato de Sérgio ter sido o pai de Chico Buarque, de quem ouvira falar por parte da sua mãe, Luli.
Da frutaria, fomos até o túnel de pedestres, ali perto, na Consolação. No meio da passagem há um sebo improvisado, com títulos bons a preços módicos. Adoro esse trecho da cidade. Emociona-me o túnel. Saímos do outro lado. Passamos numa daquelas bancas de jornal bacanas da Paulista para comprar gibis. Verificamos, ainda, os lançamentos da Livraria Cultura e da loja Geek no meu shopping favorito, o Conjunto Nacional. Foi, enfim, um passeio e tanto, feito a pé, tranquilo, em um momento excepcionalmente sossegado da vida da cidade. Um programão, pelo menos para mim.
Voltamos para casa de metrô (vazio, vazio). Na Estação Consolação, encontramos uma máquina de livros. Esse equipamento sempre me incomodou, confesso. Pede ao cliente que pague “quanto acha que vale” pelo título escolhido. Eu sei que sua finalidade é promover a leitura, adequando o preço do livro ao bolso do freguês. Mas é uma estratégia errada. Ninguém deixa de ler por causa do preço de uma obra. O custo maior de qualquer título é o tempo investido nele. Pedir para pagar quanto quiser é o equivalente a dizer que o produto não vale nada. Para quem gosta de literatura, dou uma dica quente, que vale a pena e o preço: Carcereiros, de Drauzio Varella. É fascinante, trágico e, em diversos momentos, engraçado. Original, mudará seu entendimento de como funciona o Brasil.
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