Trinta crianças tomam conta do palco no espetáculo ‘A Princesinha’
Elas estudaram teatro por meio de projetos sociais da Fundação Lia Maria Aguiar. Os experientes Kiara Sasso e Leonardo Miggiorin também integram o elenco. Confira abaixo entrevista com os atores e saiba mais sobre a organização
Trinta e duas crianças e adolescentes integram o elenco do musical infantil A Princesinha. Todas elas estudaram canto, teatro, jazz e sapateado por meio dos projetos sociais da Fundação Lia Maria Aguiar, responsável pela produção que estreia a segunda temporada na cidade a partir deste fim de semana no Teatro Anhembi Morumbi.
A Fundação surgiu em 2008, em Campos do Jordão, região serrana de São Paulo. Com a iniciativa da empresária Lia Maria Aguiar, 74 anos, o grupo promove a inclusão socioeconômica e cultural de aproximadamente 800 jovens carentes, entre 4 e 21 anos.
Com orçamento de 3 milhões de reais oriundos das empresas que patrocinam a organização, o espetáculo é dirigido por Keila Fuke e Thiago Gimenes, ambos professores da Escola de Atores Wolf Maya. E a escolha da história de Sara Crewe – uma órfã que vence todas as adversidades ao deixar a Índia para estudar na Inglaterra após a Primeira Guerra Mundial – não foi à toa. O produtor musical Leonardo Faé explica: “Quando lemos A Princesinha, ficamos sensibilizados pela convergência de trajetórias com as crianças da Fundação”.
Maria Teresa Prezotto, 9 anos, e Juliana Ferreira, 13 anos, interpretam Sara em diferentes fases no palco. Elas passaram por um processo seletivo interno para conseguir o papel. Mais velha, Juliana já sonha em seguir a carreira. Filha de um motorista e de uma balconista de padaria, ela afirma dividir bem o tempo entre estudos, aulas de arte e ensaios: “A Fundação mudou minha vida. Antes, eu era tímida, me achava inferior às outras pessoas”.
Ao lado das meninas, está a conhecida atriz de musicais Kiara Sasso, que estrelou em peças como Mamma Mia! (2010-2011) e A Bela e a Fera (2002 / 2003), e o global Leonardo Miggiorin.
Kiara conta que, ao saber da iniciativa, o espetáculo se tornou especial. “A peça é muito original e a trilha, linda”, diz. Na adaptação de Rafael de Castro para a obra de Frances Hodgson Burnett, ela é Maya, um anjo da guarda da princesinha. Em uma das cenas, ela aparece como fada madrinha com um figurino iluminado com lâmpadas de LED.
Leonardo, que faz o narrador da aventura, concorda com a colega: “Às vezes percebo que as crianças estão menos nervosas que eu. É bonito ver o espírito de grupo”. Em entrevista a VEJASÃOPAULO.COM, os dois atores falaram sobre sua experiência na montagem. Confira:
Como foi trabalhar com tantas crianças ao mesmo tempo?
Kiara Sasso: Está sendo uma delícia. Adoro trabalhar com crianças. Tive essa experiência em A Bela e a Fera (2002-2003) e A Noviça Rebelde (2008). É muito gostoso o fogo que elas trazem e a vontade de estarem no palco.
Leonardo Miggiorin: Já tinha trabalhado com crianças, mas não com essa quantidade. Fiquei surpreso com a disciplina e empenho delas. Às vezes percebo que estão menos nervosas que eu. É bonito de ver o espírito de grupo. A Fundação Lia Maria Aguiar tem uma estrutura que realmente funciona, amparando a formação da garotada.
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Qual é a diferença entre fazer teatro adulto e infantil?
Kiara: As proporções são outras, mas a produção está muito bacana. Compraram os direitos com livre adaptação – ou seja, a peça não veio pronta. A criação nacional é bastante original. E saber que a iniciativa está relacionada a uma fundação de crianças torna o espetáculo ainda mais especial.
Leonardo: Desde adolescente, sempre flertei com teatro infantil e musical. Já tive oportunidade de unificar as duas vertentes, quando fiz Peter Pan, Todos Podemos Voar (2007). Fiz outro musical infantil com a Luiza Possi, que se chamava Romeu e Julieta (2006). Gosto muito dessa comunicação com as crianças e pretendo produzir uma peça infanto-juvenil, para a galera entre 10 e 11 anos.
O espetáculo resgata valores como amizade e lealdade. Qual foi a reação das crianças que assistiram ao ensaio geral?
Kiara: A plateia veio abaixo em uma das cenas. A diretora do colégio onde a princesinha estuda é uma vilã. Em determinado momento, a irmã dela, sempre massacrada, chuta o balde e impõe certos limites para as maldades.
Leonardo: Eu tenho uma comunicação direta com a plateia, pois sou o narrador. Ele fala de valores, de questões que envolvem a família, a separação dos pais, o sofrimento de uma criança órfã e a esperança de um futuro melhor. Eu vi muita gente chorando.
A cenografia é toda tecnológica. Quais os efeitos especiais?
Kiara: Eu praticamente tenho uma tomada. Ando com duas baterias e tenho como se fosse um interruptor na coxa. Eu faço uma aparição iluminada e elétrica, com um figurino de LED. O cenário muda de cor diversas vezes e há uma projeção que imita a chuva. O efeito é bem legal.
Leonardo: Os meus figurinos são mais simples. Mas tudo combina muito. O universo é lúdico, de lenda e fábula. Por isso cabem esses recursos artísticos e cênicos, que são concepções da direção do espetáculo.
Como moradores de São Paulo, quais são as dicas de passeios para crianças?
Kiara: Ainda não tenho filhos, mas recomendo teatro, claro. Por exemplo, Mônica e Cebolinha – No Mundo de Romeu e Julieta.
Leonardo: Eu adoro as exposições. São ambientes mais abertos em que as crianças podem ter contato com obras de arte. Mas elas também gostam de ficar ao ar livre, correr e brincar. Acho que é bacana ir aos parques e usar as ciclovias.