MC Hariel: “Memphis entendeu rápido o que é ser Corinthians”
O artista paulistano conversou com a Vejinha sobre o EP 'Falando com as Favelas', lançado nesta semana em parceria com o jogador de futebol holandês

MC Hariel e Memphis Depay, atacante do Corinthians, lançaram o EP Falando com as Favelas nesta segunda-feira (17), com quatro faixas inéditas.
O funkeiro paulistano, e torcedor fanático do Timão, rima e assina as composições das músicas junto do atleta holandês, que foi contratado pelo clube em setembro.
Hariel conversou com a Vejinha sobre a produção do EP e o futuro do projeto. Confira a entrevista a seguir.
Como aconteceu o primeiro encontro seu com o Memphis?
A gente se conheceu através de uma conexão feita pelo Nine e amigos em comum. Desde que ele chegou aqui no Brasil, já demonstrou interesse em se conectar com a cultura daqui. Um dia ele estava querendo ir para o estúdio, e me chamaram. A música Falando com as Favelas já tinha um esqueleto, e a princípio eles queriam uma ajuda para consertar uma parte em português. Fomos fazendo, e em pouco tempo a faixa estava pronta. Depois veio mais um beat, outro, e quando fomos ver tínhamos feito Falando com as Favelas, Sangue e Suor e Renascer. Foram três músicas feitas no mesmo dia assim, em horas.
Nas letras, vocês falam muito de superação. Vocês conversaram sobre esse assunto, ou ele surgiu naturalmente?
Olha, veio muito naturalmente. Quem estava junto no dia da primeira sessão até ficou meio assustado, porque era uma parada que o beat conversou com nós dois, a gente se entendeu bem em cima das batidas mesmo, e aquilo virou uma conexão mil grau. Falando com as Favelas, antes de eu entender a tradução do que ele estava dizendo, eu já tinha feito a minha parte e ela conversava muito. Sangue e Suor a mesma coisa. Sem ver o trabalho do outro, a gente estava falando dos mesmos assuntos, com uma percepção muito parecida. Foi uma caminhada natural por ser inerente mesmo à nossa trajetória. Não foi um caminho fácil, ele lutou muito para chegar onde está.
Me fala sobre Peita do Coringão — vocês fizeram pensando em Manto do Timão?
A gente fez nesse pensamento mesmo, de lembrar Manto do Timão. A ideia era fazer Manto do Timão 2, mas eu deixei de lado por ser um dos últimos projetos do MC Kevin. Pela falta dele, a gente decidiu encerrar esse projeto, e Manto do Timão não vai ter parte dois. Então a gente fez Peita do Coringão, ela é parecida, mas um projeto diferente.
Como foi gravar o clipe em Gana, país da família paterna do Memphis, e na Vila Aurora, aqui em São Paulo, o seu bairro natal?
Foi mágico. Foi uma viagem que abriu muito a minha mente. Pude perceber um mundo completamente diferente, fora de um eixo europeu e americano. O mundo é muito grande, tem muitas riquezas, e só quando a gente consegue acessar lugares totalmente distintos do nosso que conseguimos entender isso. Essa viagem fez um Hariel ir para lá e outro Hariel voltar. Muitas coisas que vivi em pouco tempo lá eu vou levar para o resto da minha vida. E, além de tudo, a semelhança com o nosso Brasil — culinária, hábitos e costumes muito parecidos. Foi como se eu tivesse ido para casa, mas a minha casa estava diferente.
Sobre Renascer, o que passou pela sua cabeça quando escreveu aquelas rimas?
Quis rimar ali sobre coisas que eu acredito, coisas que eu quero para o mundo. Depois dos dias ruins sempre vão vir os dias bons. Tem fases na vida que a gente tem tudo para se jogar, mas precisamos acreditar que vai melhorar. Pensei bastante na perda da minha vó. A partir do momento que essa pessoa não está mais aqui, mesmo que doa muito em mim, preciso acreditar que vai ser melhor.
Você acredita que o Memphis entendeu rápido o que é ser Corinthians? E o que exatamente é “ser Corinthians”, na sua visão?
Acredito que o Memphis entendeu rápido o que é ser Corinthians. Em diversas reuniões ele fala sobre isso abertamente, que foi um clube onde ele se adaptou muito bem, foi muito bem recebido. E acho que ser Corinthians é ser 1910%, não tem como ser só 100%. Quando se fala em Corinthians, tudo é exagerado. Corinthians é exagero. Tem uma frase boa: “Tudo tem o seu motivo quando o Corinthians está acima de tudo”. O espírito corinthiano de acreditar até o final, se doar e ter garra, se aplica para além do esporte. A pessoa que tem isso, ela não consegue ser corinthiana só dentro do estádio. É uma filosofia.
Podemos esperar mais lançamentos de vocês dois? Ou alguma participação do Memphis em um show seu?
O nosso próximo lançamento é o videoclipe de Peita do Coringão. Daqui pouco tempo a gente já está com ele na pista. Fora isso, tem um monte de ação que a gente está planejando fazer. Estamos cotando a compra de alguns aparelhos auditivos para distribuir nas comunidades para pessoas que precisam desses aparelhos para se comunicar. Nessa tese de falar com as favelas, também é importante ouvir as favelas, se comunicar de fato. Estamos nessa linha de fazer esse projeto ser algo para além da música, uma realidade também crítica e social, que a gente consiga trazer diversas oportunidades para a periferia. É um trabalho que está só começando, socialmente. Tem muita coisa que vai rolar ainda.