Marília Pêra no cinema, na TV e meus dois encontros com a atriz
Vi duas vezes Marília Pêra sem ser para divulgar um filme, uma peça, uma novela. A primeira, em 1999, na inauguração da casa noturna Credicard Hall, quando o “anfitrião” João Gilberto deu aquele famigerado piti e encerrou o show ainda no início. Fui atrás de Marília, uma das convidadas, para saber o que ela havia […]
Vi duas vezes Marília Pêra sem ser para divulgar um filme, uma peça, uma novela. A primeira, em 1999, na inauguração da casa noturna Credicard Hall, quando o “anfitrião” João Gilberto deu aquele famigerado piti e encerrou o show ainda no início. Fui atrás de Marília, uma das convidadas, para saber o que ela havia achado da atitude do cantor. Como sempre, foi gentil, simpática, política. “Ele é um mestre, pode tudo”, respondeu.
Na outra ocasião, ainda mais singular, vi Marília em Paris. Ela tinha acabado de brilhar como Gioconda, na novela Duas Caras, e deve ter ido descansar na capital francesa, em 2008. Em Saint- Germain-des-Près, Marília, abraçada com o marido, passou por mim. E, só me dei conta de quem era, quando ela já estava longe.
Quando alguém do peso e do quilate de Marília Pêra morre, é preciso fazer um balanço da estrela que passou por nós. Embora minha “praia” seja cinema, as primeiras imagens que tenho da atriz são, mesmo, da televisão. Beto Rockfeller, Uma Rosa com Amor, O Cafona e, sobretudo, Bandeira 2 foram telenovelas que marcaram minha infância. No cinema, seu primeiro grande papel foi em O Rei da Noite, de Babenco, em 1975. Pixote, porém, foi o filme que a tornou conhecida mundialmente. Pelas mãos de Hector Babenco, Marília brilhou na pele da prostituta Sueli, ganhou prêmios internacionais e chegou até a fazer cinema nos Estados Unidos – Mixed Blood, de Paul Morrissey.
Ao contrário de muitas atrizes de sua geração, Marília sempre gostou do mix cinema-teatro-TV e, não à toa, nas décadas de 80 e 90, surgiu em várias mídias. Na TV, como esquecer a Rafaela de Brega & Chique ou sua participação na minissérie O Primo Basílio? E, no cinema, foram tantos papéis geniais que fica até indelicado lembrar apenas de alguns. Mas gosto de Marília em Anjos da Noite, drama paulistano de Wilson Barros; da Mary Matos de Dias Melhores Virão, ao lado de Rita Lee; de sua Perpétua em Tieta do Agreste (sorry, Joana Fomm); e, mesmo num pequeno papel, como a Irene, de Central do Brasil, na companhia de outra diva, Fernanda Montenegro.
Os anos 2000 já não foram tão receptivos para Marília e, puxando pela memória, a diretora Ana Carolina (com o filme Amélia), o grande amigo Miguel Falabella (no longa-metragem Polaroides Urbanas) e Eduardo Coutinho (no docudrama Jogos de Cena) deram a Marília boas oportunidades no cinema.
Vejo Marília todas as terças no seriado Pé na Cova, também de Falabella. Darlene, sua personagem, uma maquiadora de cadáveres, era viciada em gim e em dizer as verdades “na lata”. Cortava os esses das palavras, esquecia o nome de artistas e tinha um perfil tragicômico, que combina muito bem com o Brasil de hoje. Darlene é deliciosamente divertida e politicamente incorreta – e é assim que quero me lembrar de Marília Pêra.
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