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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Suicídio: uma tragédia subestimada

Embora o suicídio seja um evento traumático e assustador, ele muitas vezes é visto como algo raro e tido, quando anunciado, como uma estratégia para chamar a atenção. Cerca de 10 000 pessoas cometem suicídio a cada ano no Brasil. No mundo, quase 1 milhão. De fato, o anúncio do suicídio é sim uma forma de chamar […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 15h38 - Publicado em 11 nov 2015, 15h20
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Embora o suicídio seja um evento traumático e assustador, ele muitas vezes é visto como algo raro e tido, quando anunciado, como uma estratégia para chamar a atenção. Cerca de 10 000 pessoas cometem suicídio a cada ano no Brasil. No mundo, quase 1 milhão. De fato, o anúncio do suicídio é sim uma forma de chamar a atenção mas não é algo como uma birra infantil. Se alguém fala em cometer suicídio é porque algo não vai bem e realmente merece atenção.

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que é possível prevenir o suicídio quando se detecta seu risco tão logo ele apareça. Por esta razão, atualmente fala-se nos serviços de saúde não simplesmente em suicídio mas sim em comportamentos suicidas, a fim de englobar os comportamentos prévios que podem ajudar a detectar um suicida em potencial e lhe oferecer tratamento eficaz para evitar o ato. No Brasil, de cada 100 pessoas, dezessete pensarão em algum momento da vida em cometer suicídio, cinco o planejarão e três efetivamente tentarão.

Uma tentativa de suicídio é o principal fator de risco para outra tentativa, de modo que um suicida potencial jamais deve ser ignorado. Cerca de metade dos pacientes que cometeram suicídio já haviam feito tentativas anteriormente. Portanto, se alguém fala em suicídio é porque algo não vai bem. Pode ser um evento traumático recente, pode ser uma doença física ou mental.

A busca por apoio profissional é essencial, seja pela própria pessoa, seja por algum familiar. Não é verdade que mudar de assunto ajuda o indivíduo a desistir de seu ato destrutivo. É importante falar a respeito e ajudar a pessoa a perceber que há caminhos alternativos para enfrentar o que não vai bem.

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O desejo de suicídio está associado normalmente à ideia de impossibilidade de superação de uma angústia e, portanto, é esse o fator que deve ser enfrentado. Isso só pode ser feito se todos tivermos a coragem de vencer os tabus associados ao tema. O suicídio é um ato desesperado que resulta de um longo processo de sofrimento, não devendo ser julgado com o crivo moral ou religioso, o que só faz aumentar as chances de ocorrer o pior.

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No mundo, o número de suicídios cometidos por homens é quase o dobro em relação às mulheres. No Brasil, os casos de homens são o triplo. Isso provavelmente se deve ao fato de que os homens têm mais dificuldade em explicitar seus problemas e buscar ajuda, dada a estrutura social que impõe valores como a ideia de que “homem não chora”. Isso é mais forte em países não desenvolvidos e de cultura conservadora como é o caso do Brasil.

Nos últimos quinze anos, o número de suicídios entre os jovens (entre 15 e 29 anos) aumentou em mais de 30% no nosso país, seguindo a tendência global entre países de média e baixa renda. Apenas o trânsito mata mais jovens que o suicídio, sendo este seguido por HIV/AIDS e pela violência.

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Praticamente todos os suicidas tinham uma doença mental, provavelmente sem tratamento adequado. As doenças mentais mais comuns entre eles são o transtorno bipolar, a depressão, o abuso/dependência de álcool ou outras drogas, os transtornos de personalidade e a esquizofrenia.

Além das doenças mentais, são fatores de risco para o suicídio: sentimentos de desesperança, desamparo e impulsividade; doenças como câncer e AIDS, doenças neurológicas (Parkinson, epilepsia e esclerose), doenças cardiovasculares (infarto e AVC), doenças pulmonares crônicas e doenças reumatológicas (lúpus); o envelhecimento; abuso sexual na infância; e histórico familiar.

Também é sabido que o suicídio é mais frequente entre pessoas com rede social pobre (poucos vínculos) e mesmo entre aquelas que moram sozinhas. Portanto, manter uma estrutura de vida saudável e valorizar os vínculos interpessoais é relevante para evitar o suicídio, principalmente nos momentos de maior stress ou angústia.

Estar atento a si e aos demais pode ser a diferença entre a vida e a morte. Como não é possível ter certeza prévia sobre o suicídio de alguém, a melhor prevenção é não desprezar os sinais indicativos dessa possibilidade. Se não for possível marcar uma consulta com um psiquiatra, o melhor é procurar um serviço referenciado (como CAPS) e, em casos de maior gravidade (aqueles nos quais o indivíduo já até planejou como vai se suicidar), o próprio pronto socorro.

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