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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Convidado Em Terapia: a sociedade e seu bloqueio ao expressar as emoções

Aprender a expressar emoções de forma adequada é essencial para o bem-estar. O convidado de hoje destaca as razões porque ocorrem dificuldades nessa aprendizagem e traz dicas para que ela ocorra de maneira satisfatória. QUEM SE IMPORTA? Por Marcelo Szajubok Tenho percebido, através dos noticiários na televisão e mais recentemente em diversas redes sociais, bem como […]

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 26 fev 2017, 11h02 - Publicado em 29 jul 2016, 16h29
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Aprender a expressar emoções de forma adequada é essencial para o bem-estar. O convidado de hoje destaca as razões porque ocorrem dificuldades nessa aprendizagem e traz dicas para que ela ocorra de maneira satisfatória.

QUEM SE IMPORTA?

Por Marcelo Szajubok

Tenho percebido, através dos noticiários na televisão e mais recentemente em diversas redes sociais, bem como em relatos de alguns pacientes na clínica, um sistemático e crescente embotamento da afetividade, ou seja, a diminuição da capacidade de um indivíduo sentir e expressar emoções e sentimentos, tanto bons quanto ruins.

Acredito que isso se deva em parte à evolução de nossa cultura (sendo a evolução tomada aqui apenas no sentido temporal e não como melhora). Um fenômeno recente foi a criação das redes sociais. Isso com certeza influenciou alguns comportamentos. É muito comum hoje as pessoas serem reforçadas pelo número de “curtidas” nas fotos postadas e, por outro lado, serem frequentemente punidas por demostrarem alguma emoção em público.

Isso fica mais evidente através da observação dos comportamentos daqueles que muitas vezes não demonstram sentir tristeza, por exemplo chorando, em situações como em um acidente de carro em que há vítimas e muitas pessoas em volta ficam ocupadas em tirar as melhores fotos com seus celulares a fim de enviar nas redes sociais.

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E, quando isso raramente acontece, esse comportamento ainda acaba algumas vezes sendo punido pela comunidade verbal. Outro dia eu estava em um cinema e presenciei ao meu lado um garoto que se emocionou e chorou ao final do filme e virou alvo de gozação dos colegas que estavam assistindo junto com ele. Depois disso, esse comportamento de expressar emoções possivelmente diminuirá de frequência, pelo menos na presença desses colegas.

Essa “frieza”, ou falta de sentimentos, que aparece na literatura de alguns transtornos psiquiátricos, está se tornando algo “normal” em grande parte da população que não está nem ao menos se dando conta da importância disso.

A aprendizagem e manutenção da expressão adequada de sentimentos e emoções desde a infância tem um papel importante em diversos comportamentos ligados, de algum modo, às relações sociais saudáveis. Lembro-me de uma cliente adolescente que chegou com a queixa de dificuldade para se relacionar com namorados e, depois de algumas conversas, lembrou que na infância gostava de um menino na escola e, quando finalmente ele veio falar com ela, o seu rosto ficou vermelho, provavelmente por uma reação reflexa de vergonha e, nessa hora, tanto ele como outros coleguinhas riram dela e ela saiu correndo.

Nesse exemplo, fica claro que a expressão de sentimentos foi punida pela comunidade verbal presente e, como uma possível consequência disso, o comportamento de se esquivar da aproximação de algum garoto no futuro pode ter sido aprendido, como uma esquiva de uma situação que se tornou aversiva.

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Muitos casais não sabem como, ou não acham importante expressar sentimentos para o cônjuge, o que a médio e longo prazo pode acabar fazendo parte de contingências indesejáveis no relacionamento.

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Esse problema aparece também em outras áreas importantes da nossa vida como nas relações familiares e com amigos. Atualmente, é uma queixa comum na clínica o sofrimento pela falta de amigos e a dificuldade em estar com a família. Uma hipótese para isso poderia passar por um repertório comportamental pobre em habilidades sociais, possivelmente decorrente de um histórico de invalidação ou punição do comportamento de expressar emoções e sentimentos em algum momento da história de vida dessa pessoa.

Como mudar isso

Uma forma de contribuir para mudar esse cenário é ensinar as pessoas, se possível desde criança, a discriminarem sentimentos através de perguntas feitas a elas diante de alguma situação que supostamente envolva alguma carga emocional e reforçar a expressão desses sentimentos. Por exemplo, perguntando como ela se sentiu em determinada situação, valorizando essa percepção e ensinando o nome que a comunidade social convencionou dar àquela emoção.

A literatura especializada nesse campo garante que falar adequadamente sobre sentimentos aproxima as pessoas. Infelizmente essa é uma prática que cada vez mais está sendo banalizada e vista como um sinal de fraqueza. Nos consultórios esse tipo de relato sobre sentimentos e emoções é muito incentivado pelos terapeutas pois pode dar pistas para o profissional de onde procurar as causas das questões que estão gerando infelicidade na vida dos clientes.

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Esse assunto com certeza é muito amplo mas espero que esse pequeno texto sirva para sensibilizar os leitores para essa situação e que assim possam discriminar melhor e reforçar esses comportamentos no seu dia a dia quando eles surgirem. Dessa forma, acredito que estaremos contribuindo para uma sociedade melhor.

Marcelo Szajubok (CRP 06/101317) é psicólogo clínico, mestre em análise do comportamento e especialista em clínica analítico-comportamental. Foi membro da comissão científica da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC). Atende em consultório particular. Contato: marceloszajubok@gmail.com.

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