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“Voltar com o Smiths seria muito estúpido”, diz o guitarrista Johnny Marr, que toca domingo (21) no Cultura Inglesa Festival

Um dos mais talentosos e influentes guitarristas de sua geração, o inglês Johnny Marr, 51, levou quase trinta anos para se aventurar em um disco solo (ninguém parece ligar para Boomslang, de 2003, que ele lançou com o Healers). The Messenger, de 2013, só chegou 26 anos depois do fim do The Smiths, que teve vida breve: […]

Por Luan Freires
Atualizado em 26 fev 2017, 16h00 - Publicado em 12 jun 2015, 21h50
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Um dos mais talentosos e influentes guitarristas de sua geração, o inglês Johnny Marr, 51, levou quase trinta anos para se aventurar em um disco solo (ninguém parece ligar para Boomslang, de 2003, que ele lançou com o Healers). The Messenger, de 2013, só chegou 26 anos depois do fim do The Smiths, que teve vida breve: durou de 1982 a 1987.

Nas três décadas seguintes ele se aventurou em diversos projetos paralelos, entre eles a banda Electronic, com Bernard Sumner (New Order), o The The, o Modest Mouse e o The Cribs, colaborou com outros tantos artistas (Eddie Vedder, do Pearl Jam, Pet Shop Boys e Beck entre eles) e até dividiu a composição da trilha sonora do filme A Origem (2010) com Hans Zimmer.

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“Que guitarrista iria recusar esses trabalhos?”, questiona Marr. Curiosamente, ele levou menos de um ano para emendar a sequência do primeiro álbum. Playland foi lançado em outubro e o traz de volta à cidade mais uma vez, agora como atração principal do Cultura Inglesa Festival, às 18h de domingo (21). Conversei com ele por telefone sobre o que o levou a assumir a frente do palco, a razão de não se interessar por uma reunião com sua primeira banda e a contagem exata de quantas vezes lhe perguntaram: “o Smiths vai voltar?”.

Lembro de assistir ao seu show no Lollapalooza do ano passado e até para mim, que estou habituado com o clima, o calor era insuportável. Como você conseguiu se apresentar naquelas condições e vestindo uma camisa escura abotoada até o pescoço?

[Risos] Eu gosto de quando está muito quente. Para mim não tem problema, mas o calor era realmente insano. Não só isso, estava muito claro, incomodava os olhos. Quando olhei para o público, vi que as pessoas estavam mais expostas e, se elas ainda assim me receberam tão bem, não havia com o que se preocupar. Eu, pelo menos, podia me esconder do sol no palco.

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Demorou três décadas para você lançar o seu primeiro disco solo depois de anos colaborando com o The The, o The Cribs, o Modest Mouse e uma longa lista de outros projetos. Foi difícil assumir o palco como frontman?

Não foi difícil… Tomei essa decisão porque eu tinha as músicas e, quando você tem composições em que acredita, isso é o suficiente. Logo depois de ter participado da composição da trilha sonora do filme A Origem (2010) percebi que não queria mais estar na banda de ninguém. Oportunamente, naquela época estava com várias ideias. Gravar The Messenger foi uma experiência ótima. Consegui criar um ambiente muito bom junto aos músicos logo de cara. Liderar uma banda pode ser mais trabalhoso, há a necessidade de cuidar de tudo, atender aos jornalistas, mas está tudo certo. Estou me divertindo e quero lançar mais álbuns dessa forma.

Você é vegetariano, não bebe, está com a mesma mulher desde antes do The Smiths. O clichê da vida de excessos do rockstar nunca o impressionou?

Sim, claro, mas quando eu era mais novo. Essa vida pode ser muito atraente para um garoto que veio de onde eu vim, que cresceu sem muito conforto. É claro que eu queria aproveitar tudo o que pudesse, mas o trabalho sempre veio em primeiro lugar, mesmo no começo. O Smiths lançou tanta coisa em tão pouco tempo que, ainda que estivéssemos nos divertindo muito – e estávamos -, não seria possível fazer isso sem bastante esforço. Não que eu tenha sido ou seja um puritano, mas com o tempo tudo isso fica chato.

Soube que você fumava quarenta cigarros por dia…

Parei há uns quinze anos. O cigarro foi o mais difícil de largar, o álcool até que foi fácil. Não sinto mais a necessidade disso ou de qualquer outra droga, pois nunca estou entediado.

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Há uma cena de A Festa nunca Termina (2014) em que o produtor Tony Wilson fala que se arrepende de não ter contratado o The Smiths, mas que a banda tinha “umas demos bem ruinzinhas”. Vocês chegaram perto de assinar com a gravadora dele, a Factory Records [a mesma de Joy Division, New Order e Happy Mondays]?

Não. É uma história fictícia. Foi iniciativa minha oferecer nossas primeiros demos para a gravadora Rough Trade. Eu nunca assinaria com a Factory, pois também seria um clichê. Se isso acontecesse, nós teríamos de usar calças curtas e mudar o penteado. Eu realmente não estava afim. Tony Wilson chegou a me convidar para tocar em algumas bandas da Factory quando eu tinha 16 anos e recusei. Essa cena é absurda, eu nunca permitiria o Smiths assinar com a gravadora.

Quantas vezes você respondeu a pergunta: “o Smiths vai voltar”?

Hoje? Bem, até agora foram quatro entrevistas, então… Quatro vezes. No total, de acordo com o meu último cálculo, foram 4 752 vezes. Sempre dou uma resposta diferente.

O Smiths vai voltar?

Não.

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Mesmo entre os fãs da banda há gente que pensa que uma reunião não seria legal. Qual é a sua opinião pessoal sobre o assunto?

Eu mal consigo me lembrar há quantos anos nós nos separamos. É muito tempo e parece mais ainda. Da minha parte, acho que seria muito, muito estúpido. Eu não sou o tipo de pessoa que fica pensando no ontem. Formamos a banda no momento certo, eu tinha dezoito anos, era o que eu queria para uma banda. Dissemos o que tínhamos de dizer em um período muito curto de tempo, sem nunca nos repetir. Se nós voltássemos a tocar juntos hoje, o risco de se repetir seria enorme.

Geralmente você descreve a sua relação com Morrissey naquela época como de melhores amigos: vocês vieram do mesmo lugar, ficaram famosos juntos. Deixando de lado a história de a banda voltar, você vê a possibilidade de reconciliar a amizade?

Pode ser, claro, mas não dá para ser amigo de alguém que não quer a sua amizade. Eu sou uma pessoa amigável, mas quem se importa? Depois de trinta anos, todas as coisas que você tem em comum com alguém tendem a desaparecer. As pessoas mudam, daqui a um ano eu estarei diferente. Às vezes eu mal consigo ver a minha família, então a ideia de encontrar alguém com quem eu não tenho a menor conexão há três décadas só porque as pessoas acham que seria legal não me parece plausível.

O que fez você colocar um solo de heavy metal em Shoplifters of The World Unite?

Foi por acidente, queria fazer algo mais glam rock. Eu estava tentando ser o Mick Ronson [que tocou com David Bowie em The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972)]… Não acho que seja heavy metal, é só um solo muito bom, vai?

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