Nelson Leirner (1932-2020): o humor e a ousadia na arte
O artista plástico paulistano, que morreu no último dia 7, rompeu com a arte tradicional ao usar brinquedos e objetos do cotidiano em suas obras
![](https://gutenberg.vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/03/nelson-leirner-artista-plc3a1stico..jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1000&h=659&crop=1)
Em 1967, o artista plástico paulistano Nelson Leirner enviou um porco empalhado dentro de um engradado de madeira para o 4º Salão de Arte Moderna de Brasília. A obra, uma crítica ao mercado das artes e batizada de O Porco, foi selecionada. Leirner, então, questionou os critérios da curadoria em um manifesto publicado no Jornal da Tarde. “Era um ‘metaúso’ da arte: ele a usava para discutir a lógica de seu próprio meio”, diz o curador Daniel Rangel.
![Porco empalhado Nelson Leine](https://gutenberg.vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/03/porco-empalhado-dentro-de-um-engradado-obra-de-nelson-leirner-que-farc3a1-parte-d.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Pintor, desenhista, cenógrafo, Leirner morreu no sábado (7), aos 88 anos, em decorrência de um infarto, em sua casa no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos e dois enteados. Seus pais, a escultora Felícia Leirner e o empresário Isaí Leirner, foram fundadores do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o que explica sua trajetória natural pelo mundo das artes, ainda que ele tenha dito ao longo da vida que nunca planejou fazer parte dele.
![“Homenagem a Fontana I”, 1967, obra de Nelson Leirner.](https://gutenberg.vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/03/aaa-nelson-leirner-homenagem-a-fontana-i-180x125cm-1967.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
A postura bem-humorada e crítica de Leirner começou a ganhar corpo nos anos 60, quando ele fundou o Grupo Rex ao lado de Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, José Resende, Carlos Farjado e Frederico Nasser. O coletivo artístico se valia da ironia e da irreverência para debater as críticas de jornal, os museus e as bienais, por exemplo. “Ele tinha uma postura combativa, um certo escárnio em relação ao sistema de arte”, contextualiza Resende.
![Nelson Leirner – Futebol – 120x80cm.jpg](https://gutenberg.vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/03/nelson-leirner-futebol-120x80cm.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Leirner também fez frente às questões políticas da época. Em 1969, contra a ditadura militar, decidiu fechar sua sala na 10a Bienal em São Paulo. Ele não participou da edição seguinte, em 1971, e expôs a série A Rebelião dos Animais, em 1974, com alegorias à situação política vigente. No âmbito artístico, sua importância ainda deve ser lembrada pela ruptura com os suportes tradicionais. “Ele trouxe os objetos do cotidiano para o museu, uma característica que vinha de Marcel Duchamp e outros movimentos fora do país”, continua Rangel.
Uma recente mostra desse tipo de abordagem está na série Cem Monas, em que reproduz 100 vezes a obra de Leonardo da Vinci, um retrato ao lado do outro, todos manipulados por ele, com a aplicação de acessórios comprados em lojas populares do Rio e São Paulo, onde ele viveu até o fim dos anos 90, foi ao estádio inúmeras vezes para ver jogos do seu time do coração, o Corinthians, e lecionou por duas décadas na Fundação Armando Álvares Penteado. Em tempo: sua obra O Porco pode ser vista na Pinacoteca.
![Exposições](https://gutenberg.vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/03/variac3a7c3a3o-sobre-a-obra-_mona-lisa_-de-da-vinci-por-nelson-leirner..jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
![Nelson Leirner Monalisas](https://gutenberg.vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/03/nelson-leirner-olhando-suas-obras-expostas-na-galeria-silvia-cintra..jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=650)