‘Um Homem Diferente’ é drama existencial imprevisível à la ‘A Substância’
Filme com Sebastian Stan e Adam Pearson questiona identidade e pressão estética, com sensibilidade e leveza — em vez de terror

O ano de 2024 vai entrar para a história como um divisor de águas sobre os padrões de beleza em Hollywood. Se A Substância, de Coralie Fargeat, questionou os absurdos da pressão estética sobre o corpo feminino, Um Homem Diferente, de Aaron Schimberg, trata dos impactos sobre esse sistema em outro grupo: a exclusão de pessoas com deficiência.
O foco, no entanto, não é o body horror — há apenas uma cena de revirar o estômago. Aqui, a ideia é provocar reflexões sobre capacitismo, marginalização e invisibilização da população. Pode parecer uma palestra, mas é um drama sensível e imprevisível que aborda esses temas com naturalidade e legitimidade.
Edward (Sebastian Stan) tem uma deformidade facial que é ridicularizada pelas pessoas. Um dia, decide mudar de vida e passar por um tratamento de reconstrução facial.
No entanto, começa a se questionar sobre as próprias escolhas quando descobre que era motivo de interesse para a vizinha Ingrid (Renate Reinsve) e quando surge Oswald (Adam Pearson), um sujeito com neurofibromatose e uma incrível autoconfiança.
Em uma peça inspirada na vida passada de Edward, Oswald é escalado para interpretar o protagonista, por ter uma deformidade parecida.
Entre tantos atributos positivos, salta aos olhos a autenticidade do enredo e a direção cuidadosa e ao mesmo tempo provocativa em momentos estratégicos. O roteiro bem pensado e as grandes atuações do elenco completam a lista de elogios. É uma produção envolvente e surpreendente.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 13 de dezembro de 2024, edição nº 2923