Imagem Blog

Filmes e Séries - Por Mattheus Goto

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um guia com críticas, notícias, entrevistas e eventos sobre cinema e streaming (mattheus.goto@abril.com.br)

“Já estamos sentindo o efeito ‘Ainda Estou Aqui’”, diz presidente da Spcine

Lyara Oliveira fala do impacto do filme na indústria paulistana e celebra o aniversário de dez anos da empresa, com a promessa de mais recursos para editais

Por Mattheus Goto
14 fev 2025, 06h00
lyara-oliveira
Lyara Oliveira: : à frente da companhia pública paulistana (Leo Martins/Veja SP)
Continua após publicidade

A cerimônia do Oscar só acontecerá no dia 2 de março, mas o Brasil já colhe os frutos da trajetória excepcional de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

Desde a vitória na categoria roteiro no Festival de Veneza, em 2024, passando pelo Globo de Ouro de melhor atriz para Fernanda Torres e agora na espera de três indicações à maior premiação do cinema (incluindo a de melhor filme), há uma onda de celebração na cultura do país e os impactos são sentidos no segmento.

A presidente da Spcine, Lyara Oliveira, 49, nota o interesse maior da gestão pública como um dos resultados do “efeito Ainda Estou Aqui”.

A empresa pública de cinema e audiovisual de São Paulo, que comemorou o aniversário de dez anos no último dia 28, vive um momento promissor, com a preparação para o 4º Fórum Spcine, a abertura de novas salas, a expansão do Circuito Spcine e a expectativa de mais verba destinada a projetos e editais.

À frente da instituição, a professora, pesquisadora e produtora completa neste mês um ano no cargo e tem como missão conduzi-la em meio a um setor em pleno florescimento e transformação.

Qual é o balanço de seu primeiro ano na presidência da Spcine?

Cheguei à Spcine em 2021, para assumir a diretoria-executiva. Há um ano, assumi a  presidência. Foi um período desafiador, por ser eleitoral. Ficamos limitados e nos restringimos ao que estava planejado. Executamos a Lei Paulo Gustavo, realizamos a entrega de doze novas salas do Circuito Spcine, nos CEUs, e cumprimos o plano de metas. Foi bom porque conseguimos fazer uma pausa no fluxo intenso de trabalho das nossas equipes e avançar no diagnóstico do setor.

Continua após a publicidade

Qual foi o diagnóstico?

Ele ficou mais dinâmico. Os prazos ficaram mais curtos. Para um filme ser desenvolvido, chegar ao mercado e ser distribuído, o tempo é menor do que antes. O processo de produção deixou de ser linear, tudo acontece ao mesmo tempo. Primeiro, pensava-se na ideia, depois no roteiro, captação de recursos… Hoje, já tem que pensar em como vai ser a distribuição na fase de desenvolvimento. São produtos muito diversos, que por vezes se desdobram em outros. Os projetos nascem transmidiáticos.

Que propósito tem sua atuação?

Compreender e responder à altura desse setor tão complexo, com tantas demandas diferentes, e colaborar com a execução de boas ideias. Também prestamos atenção à questão da diversidade, dos profissionais e dos conteúdos produzidos. Fomentamos isso, para valorizar a nossa cultura.

Como avalia o momento atual?

Estamos sentindo o efeito Ainda Estou Aqui. É um filme todo produzido com recursos privados, que se passa em maior parte no Rio de Janeiro, mas teve filmagem em São Paulo. Durante as gravações, demos apoio do São Paulo Film Commission (braço da Spcine dedicado a liberar locações). O filme está funcionando como uma grande chancela internacional para o cinema brasileiro. Faltava uma evidência audiovisual do que o Brasil é capaz de produzir. Uma história que transborda brasilidade e excelência.

Quais são os efeitos concretos?

Causou um burburinho, um interesse maior dos gestores públicos. São Paulo tem uma indústria muito pujante, mas às vezes é difícil de explicar aonde pode chegar. O sentido de colocar dinheiro em um projeto para daqui a três anos ter resultados. Os tempos da gestão pública são diferentes do mercado. O filme ajuda a mostrar o bom resultado de uma produção e quão importante é a circulação internacional. Não dá mais para não pensar audiovisual globalmente. Também alavanca nossas ações. Fizemos uma sessão gratuita no aniversário da cidade e a repercussão extrapolou as expectativas. Muita gente não sabia que existe sala do Circuito Spcine nos CEUs, que fazemos sessão ao ar livre. O filme conseguiu impulsionar um programa que existe há muito tempo. E entendo que em breve vai resultar em ações mais concretas, em políticas públicas específicas.

Continua após a publicidade

“São Paulo tem uma indústria muito pujante, mas às vezes é difícil de explicar aonde ela pode chegar. Não dá mais para não pensar audiovisual globalmente”

Lyara Oliveira

Neste mês, a atriz Karla Sofía Gascón, de Emilia Pérez, se envolveu em uma polêmica. Como vê a repercussão e recepção do público brasileiro?

Acirrou os ânimos, sem dúvida. Os brasileiros são extremamente competitivos e isso contribuiu para ampliar o nosso patriotismo em relação ao cinema. É bom quando a gente se envolve emocionalmente e defende o nosso país, principalmente quando se fala de arte, de cultura, de atingir um público.

O governo federal anunciou um streaming gratuito para obras brasileiras, mas ainda não há uma regulamentação das plataformas. Como anda a discussão?

Isso está atrasado, precisamos avançar muito rápido. Existem países revendo regulamentação, e a gente ainda está fazendo. O que nos cabe como Spcine é fazer esse entendimento e repassar para o setor. Não tem como eu abrir um edital para fomentar obra seriada sem entender como são os modelos de negócio concretizados e realizados no Brasil. É importante que exista sintonia entre a política desenvolvida e o que está acontecendo no mercado.

Há uma controvérsia sobre o uso de inteligência artificial em filmes. Qual é o entendimento da Spcine?

Entendemos a IA como ferramenta, que precisa ser compreendida e bem utilizada. Já se usa para questões técnicas, em pós-produção, captação de áudio, retoques de imagem, criação de objetos cênicos, desenvolvimento de personagens virtuais, mas são ações específicas. Nosso receio é seu uso nas construções dos roteiros. A IA não cria história do nada. Ela se baseia em um banco de dados. Isso é um problema sério em termos de direitos autorais, que tem sido discutido de forma acalorada ultimamente. Há muito a se debater nos próximos anos.

Continua após a publicidade

Qual é o foco para o próximo ano?

Temos como foco mobilizar o público e melhorar as comunicações sobre as ações. Mas o grande desafio é construir uma nova articulação com o governo federal para o uso de recursos no fomento a empresas e projetos paulistanos. Desde 2018, o Fundo Setorial do Audiovisual não executa os arranjos especiais e regionais. É importante que isso volte a acontecer. Pavimentamos o caminho e estamos fazendo o desenho da proposta. É bastante recurso. Vamos ter o suficiente para grandes produções, de todos os formatos, e novos editais de produção e de distribuição. Para games, para animação. São demandas do mercado há um tempo.

Publicado em VEJA São Paulo de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 29,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.