Como encontrar o significado da vida após a aposentadoria
Waldey Sanches, autor do livro 'Começar de Novo — Uma História de Vida', fala sobre sua experiência após deixar a empresa na qual trabalhou por décadas
Em maio de 2016, deixei a empresa multinacional onde trabalhei por mais de quarenta anos. Entrei como analista, em 1975, e ocupei diversas posições até alcançar a presidência, cargo que exerci até o final, quando me aposentei. A palavra “aposentadoria” jamais refletiu o que aconteceu desde então: as mudanças que vieram estavam longe do conceito que as pessoas fazem desse momento.
O novo ciclo tem sido um desafio constante em termos pessoais e profissionais e exige novos aprendizados a cada dia.
Meus antepassados vieram da Espanha no início de 1900 e foram ser agricultores em Jaú. Meu pai, após completar o Exército, em 1945, veio junto com minha mãe para São Paulo, sendo guarda em um dos hangares no Campo de Marte, onde eu nasci, em 1950, às 5 horas da manhã, com luz de bateria de avião. Toda minha infância foi na Zona Norte da cidade, estudando em escolas públicas.
Na minha adolescência, no auge dos Beatles, aprendi violão e formei um conjunto musical. A música me levou a aprender inglês e ambos fariam grande diferença nas oportunidades que viriam mais à frente. A vida profissional me permitiu trabalhar em vários países, entre eles Iraque, China, Índia, e também participar de associações, enriquecendo meu conhecimento e minhas habilidades. A sensação era de que o universo empresarial fazia parte da minha vida.
+A importância do planejamento na vida pessoal e profissional
Quando finalmente a “aposentadoria” que tanto me assustava chegou, a sensação foi de um grande vazio.
Claro que tinha a família, a fazenda, as atividades imobiliárias e financeiras, mas nada preenchia o espaço deixado pela empresa. Não havia me dado conta, mas aquele momento, de deixar de ser o executivo, foi um verdadeiro choque. As reuniões, os companheiros de trabalho, parte significativa do meu universo não mais existia.
Acordar e não ter de ir para a fábrica era algo completamente novo. Levou algum tempo para eu começar a me estruturar.
Não sou religioso, mas uma das ideias que surgiram foi fazer o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Acredito que o camiño me deu a oportunidade de estar comigo e refletir sobre o que eu queria nesse ciclo que estava começando. O camiño foi a ligação entre o passado e o futuro.
A partir do momento que o emprego não existe mais, leva-se algum tempo para recompor o quebra-cabeças e entender que a vida segue nos desafiando e dando oportunidades todos os dias.
+Buscando respostas do universo: como ouvir um oráculo
A busca, então, de um sentido para a vida gera o renascer. A família cresce nesse cenário. O universo é extraordinário e nos encanta a cada dia em áreas até então adormecidas. Descobrimos o lado espiritual pela meditação, pois queremos estar mais próximos de Deus. Buscamos aprimorar nossa saúde por meio de alimentação saudável e atividades físicas.
A ideia é estender nossa existência com o objetivo de contribuir para um mundo melhor; queremos viajar pelo planeta, descobrindo novos paraísos; queremos estar cada vez mais próximos dos amigos para promover encontros muito felizes. Acabamos descobrindo que o verdadeiro sentido da vida está em ser útil ao mundo em que vivemos, e nessa busca acabamos encontrando o caminho da tal felicidade. Cada vez que fazemos algo de bom ao próximo, sentimos a alegria interior que dá um sentido à vida.
Experimente!
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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816