Diga adeus ao vazio existencial e conheça a si mesmo
O psicoterapeuta Bruno Lanaro fala sobre como isso é possível
A partir do momento em que nascemos, iniciamos um processo para diferenciar o que é o mundo externo do que somos nós enquanto indivíduos. É assim que descobrimos nossas preferências em várias circunstâncias da vida. Não só a comida ou o filme favoritos, mas também como preferimos agir diante de certas situações — mais racional, emocional, intuitiva e até sensitivamente.
Essas tantas preferências podem surgir simplesmente com uma maior facilidade de agir de determinada forma e também como resposta a uma necessidade dos outros na família, entre amigos, na escola e assim por diante. Com isso, passamos a nos comportar sempre da mesma maneira, sem compreender que não somos apenas essas “preferências” ou expectativas. Temos muito mais possibilidades do que aquilo que acabamos vivendo. Passamos a ter uma vida limitada, aproveitando às vezes apenas algumas poucas das inúmeras opções que podemos desfrutar.
Assim, nosso mundo psicológico entra em conflito, pois o que cada um de nós está vivendo como seu EU é apenas uma parte do que a pessoa verdadeiramente é. Isso causa sofrimentos, frustrações, angústias e aquela sensação de que “algo está faltando”. E está mesmo! Mas o que falta não está no mundo lá fora, e sim dentro de você! O que falta é aceitar todas as suas características pessoais em sua plenitude. Elas estão jogadas em um poço desconhecido e sombrio chamado inconsciente.
Essas características querem também ser parte da nossa vida, mas acabamos “projetando” esses conteúdos nas pessoas à nossa volta. Vemos nos outros esses traços que são nossos, e o resultado dessa postura muitas vezes é ter raiva de alguém sem saber o motivo exato ou então sentir atração por uma pessoa de modo repentino, aparentemente “à primeira vista”. Para a psicologia profunda, isso é um sinal de que os conteúdos que você está vendo nos outros, na verdade, são seus. E a única forma de deixar de sentir o vazio existencial, certas angústias e ser feliz de verdade, como um ser completo, é ter contato com você por inteiro, inclusive com esses elementos que foram parar no inconsciente.
Primeiro, é importante assumir que há características negativas (que odiaríamos assumir em nós mesmos, mas existem). Há, contudo, as que são muito respeitáveis, em todos nós. Depois, é preciso identificar que aquela característica que mais o incomoda nos outros pode ser sua e, de uma forma ou de outra, tentar entrar em contato com ela! Por fim, e o mais difícil, é preciso buscar integrar essa característica, deixar que ela faça parte de você. Isso facilita seu relacionamento com o mundo, com as pessoas e com você mesmo. Só assim poderemos interagir com o que está dentro e fora de nós com a liberdade e leveza que desejamos e merecemos.
Bruno Lanaro (@brunolanaro) é psicoterapeuta apaixonado pela escola fundada por C.G. Jung e por sua profissão. Tem pós-graduação em acupuntura e outros estudos nos campos da religião e mitologia. É um dos roteiristas e apresentadores do canal Conhecimentos da Humanidade (@oficialcdh) no YouTube.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668.