Os cinco elementos da felicidade
"Componentes de uma vida mais feliz podem ser construídos todos os dias, com escolhas e ações", escreve o especialista em psicologia positiva Henrique Bueno
Qual o seu maior sonho? Quando faço essa pergunta em palestras e workshops, geralmente todo mundo responde em uníssono: “Ser feliz”. O problema é que querer ser feliz não nos serve de nada para efetivamente realizar esse sonho.
O que a psicologia positiva, apelidada de ciência da felicidade, ensina é que a construção de mais felicidade não se dá em uma abordagem direta, nem apenas de forma intelectual. Componentes de uma vida mais feliz podem ser construídos todos os dias, com escolhas e ações. Elevando cada componente, elevamos indiretamente nossa própria felicidade.
Existem modelos baseados em evidências empíricas que definem quais são esses componentes. Um dos mais conhecidos é o Perma, do professor Martin Seligman, que afirma que a felicidade é composta de mais emoções positivas, engajamento (ou flow), relacionamentos positivos, sentido ou propósito e senso de realização e conquista. Mas gostaria de apresentar o modelo criado por uma incrível tríade de pesquisadores: Tal Ben-Shahar, Megan Mc donough e Maria Sirois. É o modelo Spire de felicidade integral, que parte do conjunto de bem-estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional.
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Considerado aqui não no viés religioso ou de fé, o bem-estar espiritual vem da percepção indissociável de sentido e apreciação. É manifestado por quem avalia positivamente a própria vida e percebe sentido no presente. Viver apreciando a vida enquanto ela acontece é fundamental.
O bem-estar físico considera que não há nenhum local além do nosso corpo, esse contêiner físico que carrega nossa consciência, onde possamos experimentar nossa tão sonhada felicidade. Mais felicidade, portanto, pressupõe cuidar da nossa saúde física, com alimentação, movimento e repouso, mas também refletir sobre nossos padrões de pensamento e sobre como eles influenciam nosso corpo.
Somos seres racionais e aprender sempre é fundamental para nossa autopercepção de conexão com a vida. Afinal, de que forma pertencemos a este mundo? O bem-estar intelectual envolve estarmos abertos a novas experiências, a vencer paradigmas e visões preconcebidas das coisas e a nos engajarmos em aprender. Não necessariamente algo acadêmico, mas aquilo que nos motive e apaixone.
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Quem assistiu ao belíssimo filme Na Natureza Selvagem, baseado na vida real e trágica de Christopher Mccandless, vai lembrar da frase que conclui sua experiência de isolamento: “A felicidade só é real quando é compartilhada”. Sem nenhuma sombra de dúvida, as conexões e interações sociais são fundamentais para o bem-estar relacional. Segundo o mais longo estudo sobre desenvolvimento humano já feito, patrocinado pela Universidade Harvard, a qualidade dos nossos relacionamentos é o maior indicador da nossa felicidade.
Por fim, o elemento mais óbvio determinante da felicidade é o bem-estar emocional. Experimentar emoções positivas incrementa consideravelmente nossa sensação de bem-estar subjetivo.
Dentro do modelo Spire, indivíduos que se autorreportam com bem-estar emocional elevado são aqueles que aceitam suas emoções e buscam ser mais positivos e resilientes. Aceitar as emoções é o primeiro passo, na medida em que sua negação apenas eleva sua intensidade. A segunda etapa é criar as condições para sentir mais emoções positivas, o que acontece quando nosso foco, que evolutivamente tende a estar sempre no negativo, aponta para o que funciona. O mais importante — e a grande lição desse modelo — é que felicidade pode ser construí- da aqui e agora, por todos e cada um de nós, com escolhas direcionadas. É possível a qualquer tempo nos autoavaliarmos em cada um desses componentes do Spire e, em seguida, fazer escolhas e iniciar ações positivas e construtivas em cada uma dessas dimensões.
Henrique Bueno (@henriquebueno.felicidade) formou-se em psicologia positiva com Tal Ben-Shahar. Mestrando na University of East London, é fundador do Wholebeing Institute Brasil. Acredita que é possível transformar positivamente pessoas e organizações.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 13 de maio de 2020, edição nº 2686.