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A Tal Felicidade

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Para o monge Boddhana Tattva, a felicidade vem da ação com essência

Missionário brasileiro acredita que a vida plena só é alcançada quando paramos de dar importância aos bens materiais

Por Boddhana Tattva, em depoimento a Helena Galante
Atualizado em 25 ago 2023, 12h49 - Publicado em 25 ago 2023, 11h09

Nos tempos modernos, com o advento da globalização, o ideal de felicidade confunde-se muitas vezes com os gastos. O acúmulo de bens e o consumo se tornaram fetiches e duras condições de trabalho foram impostas para que isso se realizasse. Dessa forma, a pessoa se envolve em vários empreendimentos para tentar extrair felicidade dessa condição efêmera.

O aforismo védico afirma que todos que neste mundo se julgam felizes, seja no trabalho, na vida pessoal e até mesmo na vida religiosa, estão inseridos no contexto de aspirar a esse contentamento, uma vez que o ser humano é hedonista por natureza. Isso porque ele, sendo uma centelha do ser eterno, tende a buscar sua forma original de prazer. Por isso que não há esforço em querer e está-se sempre buscando, de alguma maneira, a satisfação, seja ela pessoal ou coletiva.

Logo, como não se pode apagar uma fogueira com gasolina, o que de fato intensificaria a combustão, assim é a felicidade material. Sempre tem de estar sendo instigada. A inspiração para a atividade depende de estímulos externos e, quando o prazer se esvai, fica o vazio e a necessidade de querer mais. Novos planos são traçados em busca desse gozo insaciável, comparado a uma coceira.

Esses mesmos textos de conhecimento explicam que só há dois tipos de pessoas felizes neste mundo. Estes são paradoxalmente opostos, mas guardam muitas semelhanças: um deles é o sábio, que obtém felicidade plena na vida espiritual, que está alheio às dificuldades e desfruta interiormente; o outro é aquele que, em condição sub-humana e psicologicamente marginalizado, por não ter capacidade de julgamento, considera-se “feliz” mesmo morando na rua e vivendo de forma desorientada. Este também está alheio às adversidades; basta uma garrafa de aguardente que tudo está muito bem. Quem, no entanto, não está nem em uma posição nem em outra sofre continuamente com a condição existencial de felicidade e tristeza. A natureza e suas dualidades foram dispostas de modo que todos possam evoluir de consciência e, um dia, se dar conta de seu prazer intrínseco e inato.

Pode-se entender assim que a fonte de nossa felicidade não está em possuir algo, e sim em agir como essência, até porque não há felicidade em algo transitório em um corpo material. O que existe é ausência de sofrimento. Por exemplo, ninguém pode julgar-se feliz, independentemente de seu status social, pelo simples fato de ter saído de uma posição para outra, ou pela troca de um carro por outro etc. Ao mesmo tempo, vemos que o mesmo prazer é fonte de muitas discórdias neste mundo, gerando inúmeros males na sociedade. Como, então, pode algo ser divino e mundano ao mesmo tempo? Tudo vai depender da consciência. Quando desejamos usufruir apenas com intuito egoísta, o apego ao desfrute torna-se um grande empecilho para o desenvolvimento espiritual. Entretanto, se abdicarmos desse prazer, entregando-o ao ser supremo, tudo se torna satisfatório.

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Devemos nos perguntar qual a finalidade da vida. Seria simplesmente subsistir e derivar algum prazer de nossas atividades? Se fosse assim, então não haveria diferença em relação à vida animal. Pois, ainda que tenhamos uma série de sofisticações que nos permitam uma vida “feliz”, as necessidades básicas de comer, dormir, acasalar e se defender não nos diferem deles. O que então nos distingue? Nosso poder de discernir sobre o eu, a meta da vida e o dharma.

O ser humano dispõe da capacidade de adquirir um conhecimento que vai além de nossas satisfações impermanentes, conhecimento esse que nos aproxima da verdade, da compreensão de nossa longevidade. Apenas após entender e realizar seu processo ontológico como alma humana, pode-se encontrar com sua real felicidade.

monge Boddhana Tattva
Boddhana Tattva (@iskcon_brasil) é um monge missionário seguidor da filosofia de Krishna-Bhakti Yoga, fundada pelo mestre A.C. Bhaktivedanta Prabhupada nos anos 1960 nos EUA. (Divulgação/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856

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