Ayurveda é um reencontro com a mente presente
A terapeuta ayurveda Leslie Drago fala sobre o poder parar e prestar atenção em si mesmo para fazer melhores escolhas
A Índia, berço de uma das culturas mais antigas do mundo, nos trouxe um inestimável legado de conhecimento, o ayurveda. Com textos datados de aproximadamente 4 000 anos, é um sistema de medicina que tem por objetivo tratar e prevenir doenças, harmonizando a saúde física com a mental.
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Hoje em dia, tem atraído cada vez mais adeptos e curiosos que me perguntam com frequência:
— Afinal, para que serve ayurveda? Para emagrecer, ficar mais jovem ou saudável?
Sim, a partir dele você pode conquistar tudo isso. Porém, ayurveda é um reencontro. Um reencontro com aquela sensação de conforto interno que toda criança, em condições normais, precisa sentir. Aquele sono profundo e reparador. A mente presente. O corpo cheio de vigor. E a receita é simples: não há receitas. Somos únicos. E precisamos fazer escolhas baseadas no que sentimos, e não no que os outros dizem que devemos fazer.
Mas como conquistar tudo isso e aprender a fazer escolhas baseadas, então, na ideia de que somos diferentes? Como parar de imitar a família, os amigos, os famosos ou qualquer um que apresente uma nova fórmula para alcançar a tal felicidade? Para esse sistema milenar, é necessário que aprendamos a fazer algo pouco comum hoje em dia. Parar.
Devemos parar porque o maior poder que existe em nós é o da atenção. Desde o momento em que abrimos os olhos, pela manhã, estamos colocando esse poder em algo externo a nós, seja o trabalho, seja a família, as mídias sociais, este texto que você está lendo e em tudo o que nos cerca. E quase nunca estamos olhando para dentro de nós. E chega uma hora em que a conta não fecha, colocamos tanta atenção no mundo exterior, cuidamos de tantas coisas durante tanto tempo que ficamos esgotados e até doentes.
Nossa última esperança é que alguém cuide de nós, que dê para nós o seu poder. Aquele poder que até possuímos, mas que, por ter sido tão usado, se esgotou. Vivemos isso no dia a dia; é só olhar ao redor e perceber: quando cuidamos de um projeto, de uma criança, das plantas, da vida financeira, eles florescem. Se não cuidamos, eles fenecem. Então, não há por que não cuidarmos ou não colocarmos atenção no que está ao nosso redor.
Só não podemos nos esquecer do ponto de partida: nós mesmos. Vivenciar esse reencontro com o que somos, com nossa vida, tentar acessar o lugar que estamos, fazendo uma pausa para acolher o que temos conseguido ser, muito mais do que fugir daquilo que ansiamos, mas que ainda não é realidade.
Se o seu sono não está bem, olhe para ele, entenda os motivos, respeite suas condições. Se sua mente e corpo já não refletem disposição e reclamam com sinais claros de dores e desconfortos, não apague essa inteligência que só quer a sua atenção, tanto quanto a de um profissional de saúde.
Nos eventos de ayurveda que conduzo, convido a todos a vivenciarem esse retorno. A não buscarem fora todas as respostas, pois ninguém é mais especialista em nossa vida do que nós mesmos. A autocura está a nosso alcance, exige somente acolhimento no lugar de performance, lucidez em vez de adormecimento e não nos limitarmos a receitas prontas ou mágicas que têm o poder de, em poucos dias, reverter ações de uma vida. A porta mais larga nem sempre é a melhor opção.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.
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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de março de 2023, edição nº 2833