A vida é um grande jogo e isso não é uma metáfora
“Jogo” vem do termo do latim jocus, que significa brincadeira, divertimento. E foi assim, me divertindo, que eu encontrei o caminho da felicidade
O historiador Huizinga, em seu livro Homo Ludens, define jogo como “uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotadas de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria”. E assim também é a vida de quem busca a felicidade.
Após anos de estudos, pude perceber com clareza que a vida tem todas as características que fazem dela de fato um grande jogo: tem jogador, regras, objetivo, interatividade, condições de vitória, entretenimento.
Uma compreensão mais ampla e profunda a respeito da mecânica, das regras e do propósito do jogo da vida pode fazer uma grande diferença no caminho de autoconhecimento de quem busca a felicidade. Nesse caso, uma pergunta se impõe: qual o maior método de autoconhecimento que existe? A própria vida, na forma única como ela se manifesta para cada um.
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Carl Jung dizia que existe uma ligação entre o mundo interno e externo e esses compõem uma unidade indissolúvel. É possível observar essa relação. Tome como exemplo aquele dia em que, estando ansioso, com medo ou estressado, você saiu de casa, pegou seu carro e precisava chegar a um determinado lugar. Os semáforos estavam sempre fechados, o trânsito ficou complicado ou não tinha vaga no estacionamento. Outro dia, você estava relaxado, confiante ou agradecido. O semáforo estava verde, o trânsito fluía e aquela vaga estava esperando-o.
Mas e o que isso tudo tem a ver com o fato de a vida ser um jogo? Para mim, a resposta a essa pergunta veio por meio do Maha Lilah, um jogo de tabuleiro indiano com mais de 2000 anos que vem se espalhando pelo Brasil. Trata-se de um tabuleiro com 72 casas, representantes de 72 aspectos da consciência a ser trabalhados. Lembro-me da primeira vez em que entrei em contato com esse jogo. Havia uma sincronicidade entre o que estava acontecendo no tabuleiro e meus processos emocionais e psicológicos naquele momento.
Essa experiência evidenciou para mim a relação do mundo interno com o mundo externo. Então percebi que, se realmente eu quisesse mudar algo para ser mais feliz, eu precisaria trabalhar aquilo dentro de mim. E é dentro da gente que o jogo acontece!
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Todos nós temos uma ferida original que está encoberta por camadas de proteção e estruturas de defesa que nos impedem de acessá-la e, consequentemente, de acessar o nosso coração. Na essência, nosso medo é entrar em contato com essa ferida e não ter saída. O principal objetivo do jogo é a abertura plena do coração que um dia se fechou. Se são muitas camadas a ser removidas, qual é a camada da vez?
Para jogar o jogo da vida é preciso conhecer o tabuleiro e tomar consciência a respeito da casa em que se encontra neste momento. Para isso, primeiro reflita. Qual o grande desafio da minha vida neste momento? Onde a vida faz fricção?
Respondida a pergunta, observe os cenários que a vida traz para você. Isso inclui todas as relações, situações positivas ou negativas, coisas que você não gostaria de saber, mas que chegam até você. Tudo o que faz parte da cena em que você se encontra a cada instante. No momento em que podemos compreender que nada é por acaso e que há, sim, um potencial de crescimento oculto em cada situação da vida, é quando começamos a jogar o jogo de verdade.
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A vida se torna uma grande aventura. E, claro, toda aventura traz suas provas. Mas você é o jogador: ou você joga ou é apenas uma peça do jogo jogada pra lá e pra cá por eventos aleatórios da vida? O que eu posso lhe garantir é que, da mesma forma, toda aventura revela tesouros pelo caminho.
Nickson Gabriel é psicanalista especialista em jogos de autoconhecimento e diretor-fundador do Instituto O Jogo da Vida. Foi o primeiro a oferecer a formação do jogo indiano Maha Lilah no Brasil e se dedica atualmente à criação de um jogo para desenvolvimento socioemocional de crianças e adolescentes.
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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de julho de 2021, edição nº 2746