‘Pa’ra — Rio de Memórias’ aborda cultura indígena para crianças
A peça de Lenise Oliveira, que estreia sábado (15) no Sesc Consolação, mistura memórias pessoais e vivências dos Sateré-Mawé por meio de linguagem lúdica

“Nossa cultura é periférica, e a peça traz isso. O que será assistido aqui, eu tenho certeza que ninguém vai esquecer”, diz Lenise Oliveira, atriz indígena de Jurunas — uma das maiores periferias de Belém —, sobre a peça Pa’ra – Rio de Memórias, que estreia neste sábado (15) no Sesc Consolação.
O texto mistura as memórias da infância da artista com elementos de sua vivência no espaço urbano. A menina Dalú, de uma tribo paraense, deixa sua terra natal, Belém, e se muda com a mãe para a periferia de uma grande cidade. A partir dessa transição, Dalú tem de viver em uma sociedade contaminada pela violência e pelo preconceito. Quando a casa onde mora é invadida, ela faz uma súplica aos seus ancestrais e, a partir daí, embarca em uma viagem simbólica por um rio das memórias. Guiada pela natureza e acompanhada por seus amigos Boldo, Alecrim e Capim-Cidreira, a personagem encontra seres que carregam os ensinamentos e a sabedoria de seus antepassados.
A peça adota uma estética minimalista, na qual a paleta de cores como vermelho, azul e marrom é utilizada para criar uma identidade. A trilha sonora é inspirada na musicalidade paraense, uma mistura de sons Sateré-Mawé com o brega e o tecnobrega, e a montagem trata de assuntos como migração, deslocamento e luta pela preservação das tradições culturais e propõe ainda uma reflexão sobre a importância da memória, do pertencimento e da conexão com os ancestrais.
“É o momento de contar uma história dura, brincando, mas trazendo muitas verdades. Para fazer com que outras crianças se identifiquem, para que também tenham a possibilidade de sonhar com esse espetáculo e, claro, fazer com que os adultos reflitam sobre isso também”, afirma Lenise. “Dalú vem para contar brincando sobre a realidade de muitos povos. Mas, especificamente, sobre os Sateré-Mawé. É nesse sentido que a personagem nasce, na vontade de contar a própria história”. Dirigida por Marina Esteves, a montagem procura fugir dos estereótipos frequentemente associados aos indígenas. (50min) Rec. livre.
Sesc Consolação — Teatro Anchieta
Rua Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000. Tem acessibilidade. Sábados, 11h. (1º/5, qui. 11h). Até 10/5. R$ 12,00 a R$ 40,00 (sescsp.org.br).
Publicado em VEJA São Paulo de 14 de março de 2025, edição nº 2935.