O tabu da obesidade canina: precisamos falar sobre isso
Amor=comida? Alexandre Rossi dá essa e outras respostas sobre o tema
Sim, é isso mesmo: a obesidade canina é um tabu, apesar de ser uma realidade atualmente! E por conta da importância deste tema para a saúde, o bem-estar e a longevidade dos nossos queridos cães, considerados membros da família pela maioria dos tutores, é que eu trago para vocês informações e reflexões sobre o assunto.
Importância do tema
A obesidade já é considerada uma epidemia mundial entre nós, seres humanos, como muitos já devem ter ouvido. Mas pesquisadores já constataram que a epidemia de obesidade também atingiu os animais de estimação.
E falando especificamente dos cães, a obesidade traz consequências para a saúde, qualidade e expectativa de vida deles. Um cão acima do peso tem mais chances de desenvolver problemas articulares à medida que vai envelhecendo, além de diabetes, doenças nos rins e… câncer!
Além disso, já foi constatado por meio de estudo que eles podem viver até 2,5 anos a menos caso não tenham tido um controle na quantidade de alimento ao longo da vida. Já pensaram o quanto seria legal poder ter a companhia de nossos melhores amigos por mais dois anos, apenas controlando corretamente a quantidade de ração oferecida?
Quando falamos em obesidade, não estamos pensando apenas naqueles cães que nitidamente estão muito obesos. O sobrepeso (aquele cachorro “fofinho”) também sujeita o pet a consequências muito ruins.
Mas por que “tabu”?
Muitos profissionais, como médicos veterinários e adestradores, podem sentir dificuldades de comentar com o tutor que o cachorro está com sobrepeso, já que este tipo de comentário, muitas vezes, cria uma situação constrangedora e que pode, inclusive, prejudicar a relação entre o profissional e o tutor.
Por outro lado, a imagem de um cão raquítico é imediatamente associada a maus-tratos, contrariamente a de outro que esteja muito obeso. O sofrimento de passar fome e ser desnutrido salta aos olhos de forma inconfundível, mas estar gordinho não leva a uma associação com o comprometimento do bem-estar geral do cão.
Amor = comida?
Qual seria o problema de deixar o cão feliz, afinal, ele adora aquela guloseima e fica tão, mas tão alegre quando ganha um pouquinho! Que mal isto poderia fazer, a não ser trazer felicidade?! Afinal, quem não briga com a balança de vez em quando?
O pensamento acima povoa a mente de muitos tutores e o nosso grande carinho por eles tende a tornar mais difícil ainda resistir àquela cara de pidão e acabar oferecendo comida e mais comida, sempre que solicitado!
Mas a grande questão é uma só: dar comida demais leva à obesidade, que traz consequências em longo prazo para a qualidade de vida e saúde geral de nossos cães e pode, sim, implicar em sofrimento oriundo das consequências de sua condição corporal!
É claro que nós, cachorreiros, apaixonados por nossos cães, queremos só o melhor para eles, certo?
Fome é diferente de apetite
Um cão saudável e que coma a quantidade indicada de alimento para o seu peso e a sua idade terá sempre um bom apetite. Buscar alimentos gostosos durante o dia é um comportamento natural e instintivo dos cães, e isso não significa que estejam desnutridos.
O que fazer então?
Que tal dar uma olhadinha na condição corporal do seu cão agora? Para os de pelo curto: as costelas dele são levemente aparentes e ele tem cintura? Para os mais peludos: ao apalpar a região das costelas, é fácil senti-las ao toque ou o primeiro contato se dá com uma camada de gordura?
Essa é uma maneira rápida e fácil de constatar se o cão está no peso ideal (costelas levemente aparentes, cintura visível quando visto de cima) ou com sobrepeso e até obeso (camada de gordura logo abaixo da pele, cintura não aparente).
Conversar com o médico veterinário sobre o assunto é muito importante: ele vai avaliar a condição corporal do indivíduo e os hábitos alimentares e, se necessário, orientar sobre a melhor maneira de emagrecer um cão que esteja com sobrepeso ou obeso. Mas mostre um real interesse na informação e compreenda uma certa resistência por parte do profissional, pois ele pode estar em uma situação delicada por não querer prejudicar a relação com seu cliente.
E no dia a dia?
Dar amor ao cão não precisa ser, necessariamente, com… comida! Oferecer uma atividade diferente, como uma ida a um parque em que ele nunca foi ou oferecer um novo brinquedo para roer também são maneiras de demonstrar carinho e os cães adoram!
Um cão no peso ideal se mostrará mais disposto e motivado para as atividades do dia a dia, mesmo que já seja um idosinho! O pet tende a se mostrar sempre disposto para passear, brincar e correr com outros cachorros e também com o tutor. E tem coisa mais gostosa do que os ver assim, tão animados?
Além dos benefícios para a saúde física, todos estes fatores convergem também para uma melhor qualidade da saúde mental dos nossos cães, já que poder exercer comportamentos naturais, com motivação, os fará viver mais e felizes, sempre ao nosso lado!
Alexandre Rossi é zootecnista e sócio-fundador da Cão Cidadão (www.caocidadao.com.br).