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Família vende tudo de luxo

Eles ganham a vida vendendo móveis e objetos usados de gente da sociedade

Por Juliene Moretti
Atualizado em 10 abr 2023, 11h43 - Publicado em 29 set 2012, 00h12
Sig Bergamin
Sig Bergamin (Divulgação/)
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Uma dupla de cômodas com marchetaria francesa do século XIX. Uma mesa de jantar inteira em carvalho para catorze pessoas. Um estojo completo de faqueiro Malmaison, da marca francesa Christofle, com 24 itens. Tudo isso é descarregado com cuidado de carretos que não param de chegar à garagem do casarão na Rua Groenlândia, número 448, no Jardim Paulista. Quem recebe são Fernanda Mello, 56 anos, e Luiz Lacerda, 36. Com a ajuda de seis funcionários, a dupla espalha os objetos pelos vinte cômodos da mansão. Eles estão organizando, pela sexta vez neste ano, o Família Vende Tudo, evento em que reúnem peças garimpadas de casas e apartamentos de famílias tradicionais de São Paulo. A nova edição tinha abertura prevista para sexta (28) e vai até o dia 15 de outubro, com aproximadamente 6.000 itens, entre eles porcelanas importadas, poltronas assinadas e móveis de segunda mão. Os preços vão de 5 reais (um cinzeiro de porcelana branca do hotel Ca’d’Oro, que fechou em 2009) a 60.000 reais (tapete francês Aubusson). Alguns chegam a custar até 30% do valor de similares novos vendidos em lojas especializadas. “Tudo em bom estado”, garante Nanda, como a empresária é mais conhecida. Numa liquidação do tipo, o faturamento pode chegar a 500.000 reais. Ela e o sócio embolsam 20% do valor arrecadado com os artigos.

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Essa forma de comércio não é novidade na capital. Começou com saldões informais de famílias de mudança da cidade que deixavam para trás sua mobília. Com o tempo, surgiram vendedores que reuniam num espaço alugado ofertas de várias casas. Ex-comerciante de antiguidades, Nanda entrou no negócio há vinte anos. Graças a uma rede de bons contatos, especializou-se em passar adiante mercadorias usadas de pessoas conhecidas da sociedade. Possui hoje um mailing invejado. Lá estão sobrenomes como Setubal, Mansur, Ermírio de Moraes e Diniz, entre outros. Lacerda tornou-se parceiro em 2002, quando Nanda organizou o espólio da avó dele. “Nos últimos tempos, a coisa esquentou bastante”, conta ele. “Poderíamos até organizar mais eventos, pois temos uma fila de quase trinta pessoas querendo colocar coisas aqui. Mas nos falta hoje tempo para procurar outros bons espaços e expandir o negócio.”

Luiz e Nanda não têm restrições quanto ao tipo de mercadoria que recebem. Só não aceitam itens quebrados ou sem condições de uso. De acordo com a clientela fiel, o bom gosto é a principal característica dos dois. “É uma troca: eu levo os produtos que não quero mais, mas sei que são bons, e sempre acho objetos que adoro, como xícaras alemãs ou fôrmas de cobre e bibelôs com preços razoáveis”, explica a advogada Ana Eliza Setúbal, freguesa há doze anos. Nesta edição, ela colocou à venda uma mesa de jantar inglesa de madeira e doze cadeiras francesas, tudo adquirido num antiquário em Buenos Aires, na Argentina. O conjunto sai por 18.000 reais.

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A exemplo de Ana Eliza, muitos dos compradores são veteranos do “Família Vende Tudo”. A banqueteira Maria Alice Solimene conta que não perde um evento desses. “Passei dez anos atrás de uma cama perfeita, rodei a cidade toda, mas acabei encontrando a minha por lá”, lembra. “Por coincidência, era da avó do Luiz.” Entre os frequentadores das liquidações há ainda vários profissionais de olho em boas pechinchas. O arquiteto Sig Bergamin, por exemplo, aparece sempre que pode. “É um garimpo divertido”, define ele, que já chegou a fornecer peças de seu próprio apartamento ao saldão chique.

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