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Paulistana Tamara Klink é primeira brasileira a navegar o Ártico sozinha

Aos 26 anos, filha do navegador Amyr Klink enfrenta aventura na Groenlândia com a chegada do inverno

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 out 2023, 06h00
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A navegadora Tamara Klink no 'Sardinha 2', no qual cruzou o Círculo Polar Ártico (Arquivo pessoal/Divulgação)
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Os três primeiros dias foram de chuva, vento contrário e ondas que encobriam a frente do barco. “Estava sempre molhada e com frio”, diz a paulistana Tamara Klink, 26, filha do navegador Amyr Klink. Em 24 de agosto, a jovem partiu sozinha da cidade francesa de Camaret-sur-Mer em um veleiro de 10,5 metros de comprimento chamado Sardinha 2, rumo a um feito inédito.

Após treze dias e mais de 4 000 quilômetros sob as intempéries do Atlântico Norte, ela aportou em Aasiaat, na Groenlândia, tornando-se a primeira brasileira a cruzar o Círculo Polar Ártico solo em uma embarcação. Agora, se prepara para a chegada dos meses mais frios na região com a possibilidade de passar o inverno aprisionada pela neve.

A aventura começou dezessete meses atrás, quando Tamara decidiu procurar um veleiro para o desafio. “São poucos os barcos feitos para navegar ‘em solitário’ a regiões polares. O Sardinha 2 é um modelo de aço de 1992, mais velho que eu. Queria um de alumínio, mas o orçamento não deu”, ela diz, em entrevista feita por áudios enviados via satélite — não tem internet no barco.

“Prometi zero centavo e zero conselho, para que ela construísse o próprio caminho”, afirma Amyr, 68. O dinheiro para o Sardinha 2 veio de palestras que Tamara fez sobre uma travessia-solo do Atlântico, em 2021. Quase tudo foi modernizado. “O casco estava enferrujado, remontei o motor, refiz o mastro, troquei os equipamentos eletrônicos”, ela diz. “A parte mais desafiadora de uma viagem como esta é a preparação, não a navegação”, explica.

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O ‘Sardinha 2’ (Arquivo pessoal/Divulgação)

Não que navegar tenha sido tranquilo — longe disso. “Desde que cheguei à Groenlândia, encontro muitos icebergs tabulares, aqueles que se desprendem da costa no verão e navegam com o vento e as correntes. Os mais perigosos são os menores, que não aparecem no radar”, diz Tamara. “É preciso estar atenta o tempo todo, por isso é tão raro navegar solo por aqui. Não posso navegar à noite porque é fácil acontecer uma colisão. As cartas náuticas não são confiáveis, naveguei em lugares com cartas de 1927 que tinham informações erradas sobre a localização de pedras, por exemplo”, conta a paulistana.

Ao contrário da travessia atlântica entre a França e o Brasil, desta vez a conquista do objetivo — o Círculo Polar Ártico — não significa o fim da jornada, apenas o início de outra etapa desafiadora. “A chegada é só o começo”, ela resume. Isso porque, enquanto os barcos da região rumam para o sul para escapar do frio extremo, Tamara se mantém na Groenlândia — é possível rastreá-la no link forecast. predictwind.com/tracking/display/ TAMARA_KLINK.

“Em poucos dias, o mar vai congelar e ela não terá como seguir a navegação”, explica Amyr. “Minha maior preocupação, nesse caso, seriam os ursos polares, que praticamente a impediriam de deixar o barco”, diz o navegador — que passou o inverno na Antártica em 1990, onde não há tais animais. “As noites estão mais longas e os dias, mais frios”, diz Tamara, em relato de 6 de setembro, quando deixou a capital, Nuuk, sob chuva e 3 graus de temperatura. “Às vezes, corro para dentro do barco para me aquecer, voltar a sentir meus dedos e seguir adiante”, descreve. “É claro que fico preocupada, mas é uma escolha dela — e quem são os pais para interferir nisso?”, diz Marina Bandeira, mãe da navegadora.

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Assim que regressar ao Brasil, Tamara deve promover o lançamento de Nós, o Atlântico em Solitário (Cia das Letras), publicado às vésperas da nova empreitada. É o terceiro livro da navegadora — os outros são Mil Milhas e Um Mundo em Poucas Linhas (ambos da Peirópolis, 2021). As aventuras literárias foram ideias da comunidade que a acompanha nas redes sociais — só no Instagram, ela tem 180 000 seguidores, que batizou de “sardinhas”. “Ali surgiram pessoas que agora fazem parte do meu time técnico”, ela conta. “A sardinha é um peixe pequeno, mas vence grandes distâncias e nunca está sozinho”, diz. Estar tão longe e isolada, porém, não dá certo medo? “Se cheguei inteira até aqui, é porque nunca deixei de sentir medo”, conclui.

Publicado em VEJA São Paulo de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862.

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