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Sala de Espera

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h05 - Publicado em 23 nov 2009, 13h22

O homem chegou e disse na recepção que tinha marcado consulta com a doutora B., cardiologista. Deu uma olhada pela sala de espera, o que a recepcionista entendeu como avaliação de uma possível demora. Entregou carteirinha do convênio, RG, esperou, pegou os documentos e sentou-se num lugar de onde podia ver a porta de entrada. Pouco depois entrou uma mulher, ele fez para ela um sinalzinho com a mão, ela foi à recepção e confirmou consulta com a mesma doutora B. Dirigiu-se ao homem e foram sentar-se num dos cantos da sala.

Não demorou muito e a recepcionista percebeu um desconforto na sala de espera, olhares entre espantados e revoltados. Ela procurou ver o que estava acontecendo e encontrou o casal atracado, aos beijos. De queixo caído, foi para o seu lugar, deu um tempo, atrapalhada, voltou para conferir, e a situação era a mesma. Ai, meu Deus, que é que eu faço?, murmurou ao voltar para seu posto. Assim que a doutora ficou livre, a recepcionista pediu-lhe que atendesse os dois beijoqueiros imediatamente- e explicou por quê.

– Nossa! Manda entrar! – decidiu a doutora.

Com os dois sentados à sua frente, a médica olhou as fichas, reparou que os sobrenomes eram diferentes.

– Vocês são casados?

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Eles se olharam, sorriso-não-sorriso, e ele disse ‘somos’. A doutora comparou os endereços, diferentes.

– Entre si? Um com o outro?

Não, e nem haviam dito que sim. Contaram: era seu primeiro encontro, acharam a clínica o lugar mais seguro, ela que deu a ideia. A doutora perguntou se tinham alguma queixa de saúde, disseram que não, e ela os dispensou:

– Vou dar uma receitinha a vocês. Motel.

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Minha amiga doutora conta outras histórias das salas de espera dos dois consultórios onde atende: a clínica que divide com outros colegas e o hospital público, onde dá plantão.

-Você não imagina quanta gente que não bate bem, quantos maluquetes, hipocondríacos, quanta gente perturbada com sexo. Eu sou cardiologista e eles querem conselho sobre sexo. Homens, então! Querem se abrir, justificam dizendo que uma clínica cardiológica chama menos atenção. É. Vira confessionário. Outro dia tinha uma mulher gritando no consultório, querendo saber se o marido tinha levado a amante lá. ‘Eu sei que ele trouxe ela aqui, uma morena vagabunda!’, gritava. Eu conhecia o casal, disse que não sabia de nada, mas tinha levado, sim. Olha a minha situação. Ele entrou com a dona na consulta, inventou que era uma amiga de colégio que tinha encontrado no shopping! Eles gostam desse perigo. No meu plantão, teve uma velhinha a quem haviam dado vitaminas demais, hormônios em excesso, testosterona, e ela surtou, não conseguia dormir nem ficar quieta. Demos um calmante, e antes de sossegar ela gritava nos corredores: ‘ Eu quero sexo! ‘. Entra pré-infartado que não admite ter tomado alguma coisa. A gente precisa saber, para medicar corretamente. Nega, mas tomou, sim, energético com Viagra. Cada coisa, amigo! Na sala da clínica, um homem todo arrumado, de terno e gravata, unhas feitas, anel, cabelo domado a gel, vistoso beirando o cafajeste, puxou conversa com o senhor ao lado e passou a relatar, em voz alta!, suas conquistas amorosas e, no embalo, começou a contar detalhes, proezas! Foi preciso mandá-lo se calar.

Em outros casos, solidão. Na alta madrugada de uma noite gelada, depois de um dia exaustivo, foi acordada pela emergência do hospital. Ajeitou-se às pressas, correu para o pronto- atendimento, e só havia lá um homem, gordo, aparentemente bem. Pressão boa, pulso bom, temperatura boa. Ele admitiu que se sentia bem.

– Então, o que o senhor veio fazer aqui?

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– É que eu moro sozinho, tenho diabetes, não posso beber, a noite está muito fria, eu queria conversar com alguém. Passou o resto da noite conversando com o homem.

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