Sem medo de pagar mico, Rodrigo Faro conquista audiência com improvisos
Apresentador enche o bolso com 1 milhão de reais por mês
Em um camarim improvisado atrás do Teatro Record, na Barra Funda, Rodrigo Faro conversa com o “anão Pirulito”. Veste calça apertadíssima, camisa branca, blazer vermelho, cinto de caubói e botas de crocodilo de bico fino. O maquiador retoca o pó compacto. Falta a peruca de cabelos compridos e espetados no topo, mas ainda há tempo para tirar fotos com fãs. Alguns minutos depois, Faro aparece transformado para a gravação do programa de auditório ‘O Melhor do Brasil’, exibido aos sábados a partir das 5 da tarde. É hora do quadro Vai Dar Namoro, em que moças e rapazes solteiros procuram sua cara-metade. A fórmula é mais do que manjada, mas faz tremendo sucesso — já chegou a atingir picos de 22 pontos de audiência — porque, caso role beijo entre um casal, o apresentador tem de pagar mico, ou seja, incorporar algum cantor famoso e soltar a franga no palco. “Dança, gatinho, dança”, ordena a locução, seguida pelo coro das 250 pessoas da plateia predominantemente feminina. O jargão virou hit na internet. E lá vai ele, para o centro do palco, encarnar com caras, bocas e franjas o cantor sertanejo Xororó. O anão é Chitãozinho. Durante a dublagem da música ‘Nuvem de Lágrimas’, Faro muda a expressão do rosto e a maneira como se movimenta. Parece à vontade naquele papel constrangedor (para dizer o mínimo). “Quero ser lembrado como alguém que fez algo original”, diz.
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Aos 36 anos, Faro está radiante, certo de que não errou ao deixar a carreira de ator na Rede Globo em 2008 para comandar o reality show musical ‘Ídolos’, também na Record. Antes mesmo de estrear, no entanto, foi chamado para substituir às pressas o apresentador Márcio Garcia em ‘O Melhor do Brasil’. Doce destino. “O Rodrigo superou as expectativas e, neste momento, é um dos grandes nomes da casa”, afirma Mafran Dutra, presidente do comitê artístico da Record, satisfeito com a audiência média de 13 pontos que o novo apresentador vem alcançando.
Pelo menos dois motivos podem explicar seu sucesso. Pergunte ao próprio e ele dirá o primeiro: “Sou eu mesmo, não faço tipo”. Faro busca colocar-se de igual para igual com seus convidados, faz piada de si próprio, fala bobagens… “O público se identifica”, acredita o crítico de TV Ricardo Feltrin, colunista do UOL. “Nesse quesito, ele é muito superior ao Márcio Garcia.”
O segundo fator de sua ascensão pode ser chamado de falta de vergonha. Há um ano, quando soube da morte de Michael Jackson, Faro inventou de homenageá-lo no ar. E dançando. “Pensei em cortar na edição, mas achei engraçado e resolvi deixar”, lembra a diretora Rita Fonseca. Desde então as imitações não pararam mais. Já encarnou sessenta personagens. De maiô preto, repetiu os passos rápidos de Beyoncé, no clipe de ‘Single Ladies’. Também usou salto de 12 centímetros e cabelão loiro até a cintura para dublar a excêntrica Lady Gaga. Maquiou-se com sombra rosa, colocou botas brancas e virou a Rainha dos Baixinhos. Ensaia até quatro horas por dia os números musicais mais complexos.
A diretoria da emissora do bispo Edir Macedo chegou a questionar se um apresentador fantasiado e vestido de mulher teria boa aceitação do público. Tranquilizou-se ao perceber que, quanto maior o mico, maior a audiência. O programa bateu seu recorde no dia 26 de junho, com uma nova paródia de Michael Jackson. Exibido das 19h16 às 21h26, o quadro teve pico de 22 pontos de audiência e ficou durante alguns minutos apenas 2 pontos atrás do ‘Jornal Nacional’. “A televisão e o telespectador só têm a ganhar com a concorrência”, afirma Luciano Huck, cujo ‘Caldeirão’ vai ao ar um pouco mais cedo, na Globo. “O Rodrigo é um cara muito versátil.” De rebolado em rebolado, a popularidade de Faro disparou. Ele adora ser reconhecido nas ruas, dar autógrafos, posar para fotos e escutar o tal bordão “dança, gatinho, dança” por onde quer que passe. Uma novidade e tanto para esse paulistano da Vila Mariana que, até outro dia, vivia tranquilo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e dividia flashes e olhares com praticamente todo o elenco global.
Desde seu primeiro comercial na TV, lá se vão quase trinta anos. Ainda menino, levou a melhor sobre 400 crianças concorrentes e protagonizou uma propaganda de leite B. A partir daí não parou mais. Sempre sob a rédea curta da mãe, a pedagoga Vera Lúcia Alcazar, e da avó Benedicta. O pai, dentista, morreu quando Faro tinha 13 anos. Ele e o irmão Danilo estudaram no Colégio Marista Arquidiocesano, onde a mãe trabalhava. Os dois faziam comerciais e, com os cachês, ajudavam a manter o padrão de classe média da família. “Precisávamos tirar boas notas para não perder a bolsa de estudos”, recorda Danilo, hoje responsável por cuidar do gordo patrimônio do irmão famoso. De 1987 a 1989, Rodrigo apresentou o programa infantil ‘ZYB Bom’, da Band. Aos 18 anos, entrou no curso de rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. A oportunidade de substituir Afonso Nigro no grupo musical Dominó veio pouco depois. “Engraçado estudar na USP e ser do Dominó, né?”, ri Faro. “Eram dois universos completamente diferentes.” Durante o tempo em que integrou a banda adolescente, famosa nos anos 80, ele viajou em turnê pelo país e, confessa, cedeu ao assédio de um bocado de fãs. Estava em cartaz no teatro quando o convidaram para a Oficina de Atores da Globo. Em três meses, descolou um papel na novela ‘A Indomada’, de 1997. Durante a década seguinte, a carreira de ator global caminhou bem. Faro atuou em nove novelas e uma minissérie. Seu último personagem no canal, o peixeiro Tainha, de ‘O Profeta’, supervisionada por Walcyr Carrasco, caiu nas graças do público. “O Rodrigo tem talento”, elogia Walcyr, que é cronista de VEJA SÃO PAULO. “Tomara que um dia volte a fazer uma novela minha.”
Pelo menos por enquanto, vai ser difícil. O apresentador renovou neste ano seu contrato com a Record até 2018. Chegou ganhando 70 000 reais mensais. Hoje, estima-se que, só de salário fixo, receba 350 000 reais — somada a participação em merchandising, essa quantia pode chegar a 1 milhão. Cobra entre 25 000 e 40 000 reais para aparecer em um evento durante duas horas. Nada mau para quem já foi um dos reis dos bailes de debutantes Brasil afora. “Uma vez dancei valsa com oitenta meninas em Belém do Pará. Oi-ten-ta.” Recebe, em média, seis propostas comerciais diárias. Pela segunda vez, Faro é o garoto-propaganda das Casas Bahia. Segundo Marcos Quintela, presidente da Young & Rubicam, agência de publicidade responsável pela conta da rede varejista, o apresentador está entre os mais bem colocados na lista de 150 personalidades do país cujas qualidades são medidas periodicamente por uma ferramenta de pesquisa interna. “A imagem dele vem se potencializando no mercado”, avalia Quintela, que, coincidência ou não, também é um ex-Dominó. As vacas engordaram desde os tempos em que eles usavam ombreiras e cantavam ‘Manequim’. Ao lado da mulher, a ex-modelo Vera Viel, com quem está há treze anos, e das filhas, Clara, de 5 anos, e Maria, de 2, Faro mora em uma casa confortável alugada em Alphaville. “Parei de trabalhar quando engravidei e só voltei agora”, conta Vera, que hoje faz as vezes de repórter no programa de Amaury Jr., na Rede TV!. Estreante, a bela recebe dicas do maridão para melhorar o desempenho no ar (dizem as más línguas, precisa treinar mais).
Quando encontra uma brecha na agenda, Faro corre para a obra de sua casa nova, também em Alphaville, com previsão de ficar pronta em fevereiro. Garante ser esse o seu único grande investimento atualmente. Está usando há dois meses a pulseira do equilíbrio, febre entre esportistas, e credita a ela a diminuição do cansaço no fim do dia. Ansioso, ele rói as unhas e tem mania de enrolar o cabelo com os dedos. Da produtora à repórter, chama quase todo mundo pelo diminutivo do nome. Conta com uma camareira só para paparicá-lo na Record. Foi ela, por exemplo, quem o ajudou a entrar no tal jeans tamanho 36 e a pôr as botas de bico fino do figurino de Xororó. No programa, que será exibido no próximo dia 4, sete casais trocaram beijos calientes no palco. Ao lado do anão, Faro dublou ‘Nuvem de Lágrimas’, ‘Bailão de Peão’, ‘Evidências’… Vez ou outra, fazia uma pose de constrangimento. Só pose mesmo.
ENTRE BEIJOS E MERCHANDISINGS
Os números de ‘O Melhor do Brasil’, exibido aos sábados das 17h às 21h25.
25 anos
é a idade média do público
54%
foi quanto cresceu o faturamento no primeiro semestre de 2010 em comparação ao mesmo período do ano anterior
40 funcionários
trabalham nos bastidores
180 inscrições
são recebidas diariamente para o quadro Vai Dar Namoro. Aos sábados, o número dobra
30 candidatos
são entrevistados por dia. A maior parte deles tem entre 18 e 20 anos
9 mulheres e 11 homens
são selecionados por semana. Ganham um tocador de MP4
pela participação
Fonte: Rede Record