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Escolas fazem reajustes de até 23% nas mensalidades de 2012

Preços cresceram acima da inflação em 31 dos 32 colégios consultados por VEJA SÃO PAULO. Indignados, muitos pais estão reagindo

Por Claudia Jordão e Flora Monteiro
Atualizado em 1 jun 2017, 18h24 - Publicado em 11 nov 2011, 23h50
Porto Seguro - escolas - 2243
Porto Seguro - escolas - 2243 (Mario Rodrigues/)
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No início deste mês, começaram a chegar à casa dos pais os boletos com os novos valores das mensalidades da escola de seus filhos para 2012. Nos últimos dias, a notícia vem provocando alguns sustos nos destinatários das correspondências. Uma pesquisa realizada por VEJA SÃO PAULO em 32 colégios da capital mostra que 31 deles, o equivalente a 97% da mostra, subiram os preços acima da inflação acumulada prevista para este ano, de 6,5%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A entidade das empresas do setor, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), já recomendava a seus filiados um aumento de 8% a 12%. Muitos, porém, estão bem além dessa faixa, como é o caso da Escola Waldorf Francisco de Assis, na Zona Norte, com uma taxa de 23,3% de reajuste para uma parcela do ensino fundamental.

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Devido a esse cenário, os protestos começaram a ganhar uma proporção inédita. O Colégio Visconde de Porto Seguro, com unidades na Zona Sul e na cidade de Valinhos, no interior paulista, recebeu recentemente um abaixo-assinado no qual quase 2.000 pais pedem acesso às suas planilhas de custos e questionam a elevação de 13,6% a 19,3% para o próximo ano, de acordo com o nível de ensino. A direção do Porto, depois de recebê-los para uma reunião, respondeu na semana passada que não voltaria atrás na decisão.

Agora, a briga pode terminar na Justiça, prometem muitos pais. “É inaceitável essa postura”, diz o engenheiro Rodrigo Pretola, que tem um filho de 5 anos matriculado na escola e é um dos líderes da ação. “Meu salário não cresce na mesma proporção, e isso compromete meu plano de manter o vínculo com o colégio a longo prazo.” Os manifestantes dizem que o negócio é agravado pelo histórico recente de reajustes. “Nos últimos cinco anos, os aumentos acumulados do Porto Seguro somam 66%, dependendo do nível de ensino e da forma de pagamento”, afirma Frédéric Armand, autor da petição, com duas filhas lá matriculadas. Além das mensalidades, pesam nas contas das famílias os custos de outros itens, como uniforme, material e transporte. A conta de extras pode chegar a 5.400 reais por ano (veja o quadro abaixo).

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A direção do Porto Seguro sustenta que mudou os patamares dos boletos em decorrência de vários investimentos realizados nos últimos anos em aprimoramentos, como o acréscimo de carga horária das disciplinas e a divisão das turmas para o ensino de línguas, entre outras novidades. “As iniciativas foram necessárias para melhorar o desempenho dos alunos no Enem”, diz a diretora-geral Maria Celina Cattini. O recente aumento no número de bolsas concedidas pelo colégio, de 850 para 1.800, também teve impacto nas suas contas.

Escolas fazem reajustes de até 23% nas mensalidades de 2012

Como não há uma regra que regule os preços de serviços relacionados à educação, a definição de valores sempre é um fator de stress entre pais e escolas. “Não existe um número mágico, visto que cada estabelecimento tem sua realidade particular”, afirma Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sieeesp. No caso da Waldorf Francisco de Assis, a elevação é justificada pelo aumento da grade de aulas. “Em 2012, começamos a implementar o ensino médio”, diz seu porta-voz, Sidnei Xavier dos Santos. Argumento semelhante usam os responsáveis pela administração do Nossa Senhora de Sion, em Higienópolis, que decidiram cobrar entre 13,6% e 19,7% a mais em 2012. “Implantamos melhorias como quatro aulas semanais de inglês, da educação infantil ao 5º ano, além de reforçar geometria e redação para outras séries do fundamental”, enumera a coordenadora de marketing Luiza Spessoto.

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A Escola da Vila, com unidades no Butantã e no Morumbi, subiu as mensalidades em 12,9% com o argumento da renegociação do aluguel de seus espaços, dos acréscimos dos planos de saúde dos funcionários e do aumento do salário dos professores (o último dissídio da categoria, negociado em março, garantiu a eles um reajuste de 7,4%).

Escola da Vila, no Morumbi - escolas - 2243
Escola da Vila, no Morumbi – escolas – 2243 ()

O primeiro caminho para tentar achar um ponto de equilíbrio entre as necessidades das escolas e as possibilidades das famílias é o diálogo. Uma lei garante aos pais o direito de analisar as planilhas de custos dos colégios. “Isso é importante para checar se há realmente uma relação entre a elevação de preços e as melhorias anunciadas”, aponta Leila Cordeiro, assessora técnica do Procon-SP. Uma prática que pode reduzir bastante os problemas vem sendo adotada por alguns estabelecimentos: a negociação direta com fornecedores de produtos e prestadores de serviços para não onerar demais as mensalidades. Um dos mais conhecidos colégios da Zona Oeste, o Palmares procedeu dessa forma, apertando os cintos. Resultado: vai custar apenas 7% mais caro, apesar de ser uma das instituições de ensino da cidade que melhor pagam seus professores (65 reais por hora, ou 44% a mais que a média do mercado no universo das particulares na metrópole).

Escolas fazem reajustes de até 23% nas mensalidades de 2012

Outro que seguiu esse caminho foi o Santo Américo, no Morumbi, cujos reajustes não utrapassaram a casa de 6% em 2010, 2011 e 2012. “Nós nos empenhamos bastante para controlar as despesas e ter um superavit para bancar novos investimentos”, explica Elisabete Wakim, diretora de administração e finanças do Mosteiro São Geraldo, o mantenedor do colégio. Neste ano, a escola conseguiu avançar em sua infraestrutura. Cobriu de grama sintética o campo de futebol de medidas oficiais, equipou o seu estúdio de vídeo e cinema com seis computadores e instalou em dez salas de informática projetores e lousas eletrônicas, entre outras melhorias. “Para 2012, prevemos a conclusão do espaço cultural e a reforma do auditório principal e da enfermaria da escola, entre outras coisas”, promete a diretora.

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A CONTA CONTINUA

Outros gastos no ano relacionados ao ensino*

 Item                                                    Gasto por ano

Material escolar                                      500 reais

Uniforme                                                 150 reais

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Transporte                                             2.000 reais

Passeios extracurriculares                     1.950 reais

Lanche                                                     800 reais

TOTAL: 5.400 reais

* Valores médios praticados por instituições da cidade de São Paulo

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Fonte: Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV)

O PASSO A PASSO DA NEGOCIAÇÃO

 Como proceder se houver desacordo nos preços

■ Como não há no Brasil um índice que regule o preço cobrado pelas escolas, procure a secretaria da instituição de ensino em caso de dúvidas. Ela deve disponibilizar aos pais a sua planilha de custos e explicar os motivos do reajuste

■ Se os pais não se convencerem de que os aumentos estão atrelados a benefícios ou não concordarem com eles, poderão criar uma comissão para negociar com a escola. Um abaixo-assinado é sempre um instrumento a mais de pressão

■ Caso não haja avanços, é um direito de todos questionar tais procedimentos na Justiça

Fonte: Leila Cordeiro, assessora técnica da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP)

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