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“Questionam se não é melhor diminuir o valor da bolsa e dar a mais gente”, diz presidente da Fapesp

Marco Antonio Zago diz preferir que fundação, que dá amparo à pesquisa, mantenha o que é pago e que, se for indicado, pode avaliar sua continuação no cargo

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 set 2021, 06h00
Marco Antônio Zago de terno sentado sobre mesa com uma parte da cadeira de seu escritório ao fundo com expressão séria
Zago, presidente da Fapesp: dois anos de gestão em meio à crise sanitária (Lailson Santos/Divulgação)
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No último ano de sua gestão à frente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Marco Antonio Zago comenta a atuação da agência na pandemia, os frutos colhidos com o apoio a pesquisadores no sequenciamento do genoma do coronavírus, bem como os desafios enfrentados em uma época de negacionismo crescente. Quanto à sua recondução ao cargo, contudo, ele faz mistério. “Não cabe a mim optar ou não pela recondução. Mas, caso haja a indicação dos meus colegas e a aprovação do meu nome, posso, então, avaliar o pedido.”

A que se deve a hegemonia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Campinas (Unicamp) na presidência da Fapesp?

A nossa própria história, já que a Fapesp nasce em 1962 de esforços de um grupo de professores da USP. Contudo, ao longo do tempo, temos tentado fortalecer a participação de outras instituições, sejam elas universidades ou colégios técnicos. Isso tanto no conselho deliberativo quanto no técnico-administrativo, que se desdobra nas diretorias administrativa e científica.

Com a pandemia de coronavírus, houve um redirecionamento de valores para os recursos destinados a pesquisas em medicina?

Não, o que ocorreu com a crise sanitária foi uma redução global de pedidos de bolsa em todas as áreas do conhecimento, o que é algo que precisamos superar agora. O que fizemos foi estimular a criação de projetos nas ciências médicas. Em março, por exemplo, dez dias após o diagnóstico do primeiro caso de coronavírus na América Latina, uma equipe, que recebeu apoio da Fapesp e tinha pesquisadores da USP, do Instituto Adolfo Lutz e da Universidade de Oxford, sequenciou o genoma do Sars-CoV-2.

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A concessão de Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior ficou parada durante a pandemia?

Com a recomendação de isolamento social e a restrição a viagens internacionais, achamos que era melhor paralisar a apreciação dessas bolsas por um tempo. Entendemos a frustração dos estudantes, mas não havia motivo para continuar. Contudo, retomamos em junho de 2021 o exame dos pedidos, o que foi amplamente divulgado no nosso site.

Há críticas da comunidade universitária sobre o processo de prorrogação de bolsas. Como o senhor as avalia?

Há critérios gerais para a prorrogação, que podem ser consultados em nossa página na internet, e critérios específicos, já que fazemos uma análise caso a caso. Pensando no impacto da pandemia nos pesquisadores, publicamos dois comunicados que autorizavam prorrogações. O primeiro, divulgado em março de 2020, estendia em dois meses o prazo. O segundo, em 31 de maio de 2021, falava de uma concessão de prorrogação de três meses.

Nas redes sociais, alunos dizem que nem sequer receberam resposta da agência sobre seus pedidos.

A informação que tenho é de que a situação está normalizada. Então, não tenho ciência desses casos.

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O senhor está no último ano de sua gestão, pensa em continuar?

Não sei dizer, porque isso depende da avaliação dos meus colegas. O presidente da Fapesp é escolhido a partir de uma lista tríplice, construída pelo conselho e enviada ao governador. Não cabe a mim optar ou não pela recondução. Mas, caso haja a indicação dos meus colegas e aprovação do meu nome, posso, então, avaliar o pedido.

“Ao mesmo tempo que vemos a disseminação de fake news, vemos a importância da ciência, em especial no combate à pandemia”

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Em 2020, houve movimentos do governo estadual para reduzir a verba repassada à Fapesp. Depois de um recuo, a ação não foi para a frente. Acha que nos próximos anos a redução não ocorrerá?

Como você disse, houve um anúncio de um corte de 454,6 milhões de reais do nosso orçamento. Contudo, houve um recuo e isso não aconteceu, mantivemos a soma original. Governantes têm respeitado a garantia, via Lei Orçamentária Anual (LOA), de repasse de 1% da receita do estado para nós e para universidades estaduais. Isso não mudou até agora e esperamos que não se altere nos próximos anos, visto o trabalho que temos desempenhado para a sociedade.

A Fapesp ainda paga as bolsas com os maiores valores no Brasil (a de doutorado chega a R$ 3.726,30, por exemplo)?

Sim, continuamos e devemos manter esse posto no futuro, já que outras agências e instituições, como Capes e CNPq, tiveram cortes substanciais em seus orçamentos. Muita gente nos questiona se não é preciso diminuir o valor pago e atingir mais gente. Pensamos nisso, é uma questão, mas pensamos que é melhor ter uma soma maior que dê para o pesquisador ter uma vida com o mínimo de conforto, sem apertos. Assim, ele não precisa fazer bicos para complementar a renda e pode se concentrar em sua pesquisa.

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Em julho, devido a um problema no servidor do CNPq, a plataforma Currículo Lattes, que funciona como uma memória de atividades de pesquisadores brasileiros, ficou fora do ar. Se não fosse possível recuperá-la, qual seria o impacto para os acadêmicos paulistas?

A Fapesp tem sua própria plataforma, que traz projetos desenvolvidos pelos pesquisadores junto a nós. Contudo, é bem diferente do Lattes, que eu, na qualidade de diretor então do CNPq, de 2007 a 2010, ajudei a consolidar. A perda do Lattes teria grande impacto. Não é o ideal, mas, pelo jeito que as coisas estão andando, o melhor é que cada um dos pesquisadores faça backup de seus currículos.

Como é ser presidente de uma agência de fomento à ciência em meio a tempos de negacionismo crescente?

É um desafio interessante porque, ao mesmo tempo que vemos a disseminação de fake news, vemos a importância da ciência, em especial no combate à pandemia. A população enxerga no seu cotidiano o valor das pesquisas, com o desenvolvimento da vacina. A imprensa também tem seu papel, divulgando o que temos feito.

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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de setembro de 2021, edição nº 2756

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