Professores de cursinho fazem sucesso nas redes sociais
Alguns mestres já ultrapassam a marca dos 100.000 seguidores no Twitter
A lista de brasileiros campeões do Twitter está cheia de estrelas do showbiz e do esporte, como o jogador de futebol Kaká, a cantora Ivete Sangalo e o apresentador Luciano Huck, que juntos somam mais de 14 milhões de seguidores. Embora não tenha uma audiência no mesmo patamar, um grupo curioso e, até certo ponto, surpreendente entrou para a lista de webcelebridades: os professores de cursinho. Com brincadeiras, dicas e lembretes úteis, eles reúnem milhares de estudantes em aulas virtuais.
São mestres como Mateus Prado, que leciona nas oito unidades do pré-vestibular Henfil, na Grande São Paulo. Para sua “classe” na internet, com mais de 200.000 pessoas, publica diariamente uma média de vinte posts. “Não faço parte do time de pioneiros; demorei bastante tempo para descobrir esse canal de comunicação”, afirma. Somente em 2009 ele criou uma conta no endereço, passando a tratar no espaço de temas ligados ao universo do Enem. Desde então, sua popularidade virtual vem crescendo rapidamente. Nos períodos de provas, ele chega a receber 600 mensagens por dia. “É incrível o poder dessa ferramenta”, diz.
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As escolas preparatórias na capital para outros testes importantes viraram celeiros desse tipo de fenômeno. Na Rede Luiz Flávio Gomes (LFG), na Consolação, que auxilia candidatos interessados em prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), são bastante disputados os horários de Alexandre Mazza, especialista em direito administrativo e direito tributário. Dono de uma pedagogia peculiar, ele costuma criar paródias de músicas populares para que os aprendizes fixem o conteúdo das matérias. Ao explicar um ponto da legislação que aborda a proibição ao exagero, por exemplo, recorreu aos pagodeiros do Só pra Contrariar e fez uma paródia da canção “Essa Tal Liberdade”. A música ficou com a mesma melodia, mas teve um verso modificado: “Eu andei errado, eu pisei na bola, matei um pardalzinho usando um canhão, mas o exagero é sempre ilegal, invalidar conduta é desproporcional”.
Adaptando esse estilo ao Twitter, Mazza angariou uma plateia de mais de 114.000 internautas, que recorrem à página atrás de suas dicas e revisões para tópicos importantes. Muitos textos trazem links para o seu site, em que aparece em vídeos exibindo seu talento ao violão a serviço dos estudantes. “Eu não tenho patente da invenção, mas sou o primeiro a fazer algo do tipo aqui no Brasil”, gaba-se. Ex-aluna de Mazza, Gláucia Nicacio Soares passou em 2010 no teste da OAB e aprovou o auxílio. “A técnica me ajudou muito a obter sucesso em disciplinas complicadas”, conta.
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A maioria dos estudiosos da área de pedagogia acredita que esse tipo de recurso pode ser positivo, com algumas ressalvas importantes. “O Twitter é como o Poupatempo. Ele resolve seus problemas muito rápido, mas não vai resolver a sua vida”, afirma Luli Radfaher, professor de comunicação digital da USP. Os próprios especialistas na utilização da ferramenta recomendam cuidado com o negócio. “Os conselhos que dou na minha página não podem jamais substituir os estudos tradicionais”, avisa Mazza.
Nesse universo, um professor trilhou um caminho diferente do da maior parte dos colegas, migrando para uma sala de aula física depois do sucesso no ambiente virtual. Foi o caso de Edney Souza, que começou com um trabalho on-line tirando dúvidas e dando dicas sobre como criar um blog e ganhar dinheiro na rede. Seu Twitter superou recentemente a marca de 100.000 seguidores. Graças a essa experiência, foi convidado a dar aulas na FGV-SP na disciplina de mídias sociais. “Trabalhava como gerente de sistemas e escrevia sobre internet como passatempo, mas comecei a ganhar mais com isso e decidi me dedicar integralmente ao assunto”, conta ele, que fatura até 1.500 reais com tuítes pagos em seu microblog por empresas como Lenovo e Nextel.
OS MESTRES DA INTERNET
Mateus Prado, de 36 anos, especializado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
Twitter: @EnemMateusPrado
Número de seguidores: 209.143
Tuítes por dia: vinte
Post recente: “Infelizmente o Enem proíbe o uso de relógio. Vai ter de ficar perguntando a hora. Tem um seguidor que vai levar relógio de parede”
Alexandre Mazza, de 36 anos, professor de direito administrativo e direito tributário
Twitter: @professormazza
Número de seguidores: 114.379
Tuítes por dia: 25
Post recente: ”Na dúvida, sempre marque a alternativa diferente (heterogênea). Se as alternativas são maçã, pera, laranja e a última pedra, É PEDRA”
Edney Souza, de 35 anos, professor do curso de mídias sociais na Fundação Getulio Vargas
Twitter: @Interney
Número de seguidores: 108.931
Tuítes por dia: quinze
Post recente: ”A maior ironia da galera que reclama sobre estrangeirismos é fazê-lo em ferramentas estrangeiras como Twitter e Facebook”