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Professores criam métodos de ensino a distância originais e divertidos

Para agarrar a atenção dos alunos, vale fazer referências a videogames, investir em um laboratório em casa e até brincar com inteligência artificial

Por Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 10 jul 2020, 07h55 - Publicado em 10 jul 2020, 06h00
Laboratório de física de Reinaldo Espinosa, 54 (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Trocando a lousa pela tela do computador, eles foram dormir como profissionais presenciais e acordaram digitais, tendo de descobrir como fazer o conteúdo entrar na cabeça dos pupilos e como inspirá-los, a exemplo do que faz o protagonista da série Merlí, da Netflix, que usa métodos pouco ortodoxos de ensino. Metáfora com jogos de videogame, por exemplo, é eficaz para simplificar conceitos complexos. Quando soube que os alunos gostavam do Crash Bandicoot, Sérgio Marino, 28, professor do Colégio Visconde de Porto Seguro de Valinhos, usou o protagonista da história, um marsupial laranja que escapa de armadilhas, para explicar a disciplina projeto de vida aos alunos do 9º ano. “Crash ensina como tomar boas decisões”, conta o professor sobre a matéria inspirada na escola de design thinking da Universidade Stanford.

Já para as aulas de língua portuguesa do 6º ano, Marino criou uma mascote que ilustra regras gramaticais, a marmota Jonas. “Brinco que estamos ‘hibernando’ em casa durante a quarentena, como as marmotas”, diz. Projetado para apenas enfeitar slides, o roedor virou estrela, transformado em memes pelos alunos que o batizaram por meio de enquete.

Sérgio Marino
Sérgio Marino, 28, usa o videogame para explicar conceitos complexos (Alexandre Battibugli/Veja SP)

O desafio de prender a atenção da turma é ainda maior quando o aluno só tem 2 anos de idade. “O tempo de concentração de uma criança é de quatro minutos”, explica Amanda Batistucci, 25, professora do ensino infantil da Maple Bear, em São Bernardo. Ela aproveitou as habilidades do marido em AI (inteligência artificial) e instalou um programa de captação de movimentos no computador. Eles desenharam a versão própria de Sulley, de Monstros S.A., vestindo o uniforme da escola de educação bilíngue canadense. A cada passo de dança da professora, o boneco azul faz igual, mas os alunos pensam o contrário. “Ela está imitando ele”, disse um dos pequenos durante a aula.

“É difícil para as crianças o corte do contato físico”, conta Michelle Miranda, 27, professora de português do Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana. Michelle acolhe os alunos do 7º ano por meio da música. Para quebrar o gelo, usa trechos de Oração ao Tempo, de Maria Gadú, e aproveita a letra para uma análise de verbos. No iMovie, programa da Microsoft, a professora recheia aulas gravadas com efeitos sonoros: o tique-taque do relógio avisa o fim da atividade, o sinal escolar diz que é o intervalo e aplausos surgem quando a boa notícia é não ter tarefa de casa. O escritório de Michelle virou estúdio, mas gravar nem sempre foi fácil. Um dia a pedagoga quebrou um vaso no meio da gravação, aproveitou a deixa e vendeu o peixe: “Assistam à aula porque tem a prof pagando mico!”.

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Amanda Batistucci
Inteligência artificial é usada por Amanda Batistucci, 25, no ensino infantil (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Quem tem experiência em frente às câmeras tira de letra o ensino remoto. É o caso do professor de matemática e youtuber Pedro Real, 49, da E.E. Prof. Santos Amaro da Cruz, no Jardim Colorado. Antes da quarentena, Real já aplicava a estratégia americana flipped classroom, ou “sala invertida”, em português. O aluno vê vídeos sobre a matéria em casa e na aula tira dúvidas, deixando o vocabulário matematiquês de lado. O método deu a ele o prêmio Professores do Brasil, do MEC, em 2018, e seu canal, Pô, Bichô — Matemática, foi eleito o melhor conteúdo pela Secretaria de Educação de São Paulo em 2017. Na pandemia, a parte presencial é substituída pelo app Google Classroom. Como na rede pública nem todos têm acesso à internet, os alunos usam a sala de informática da escola ou retiram o material impresso.

Em tempos de improviso, tem até quem empreste o material da escola para montar o próprio laboratório em casa. Foi o que fez Reinaldo Espinosa, 54, professor de física do ensino médio do Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros. Espinosa conta que, para explicar um curso prático como o de eletricidade, ele monta em seu próprio escritório sistemas com motores, pilhas, lâmpadas, ímãs, fio e interruptores, tudo para que não restem dúvidas na turma que se prepara para o vestibular. Nos fóruns de física, estudantes respondem às perguntas uns dos outros. “Agora o aluno é tão protagonista quanto o professor.”

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Bruno Pollon
Bruno Pollon, 37, ensina alemão na quarentena (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Além de protagonismo, é preciso autonomia para se tornar bilíngue. O professor de alemão Bruno Pollon, 37, do Porto Seguro, viu que o desafio entre as quatro habilidades para aprender o novo idioma — ler, escrever, ouvir e falar — estava no último, o mais problemático na quarentena. A saída foi gravar áudios da pronúncia correta. Em sala de até cinquenta pessoas, Pollon também não consegue usar técnica conhecida entre professores de línguas: captar olhares perdidos de quem não entendeu o que foi falado no idioma estrangeiro. Apesar da limitação, ele diz que não houve queda no aprendizado e o ensino se tornou mais exato porque, depois da tarefa, gera gráficos e faz o mapeamento das dificuldades de cada um.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 15 de julho de 2020, edição nº 2695. 

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