Domingos Montagner vai dos palcos para as telinhas
De formação circense, o ator estreia nas novelas da Globo
Antonio Fagundes e José Mayer, ícones do público feminino, já cruzaram a fronteira dos 60. Rodrigo Lombardi e Cauã Reymond fazem parte da ala jovem desse time, mas estão na casa dos 30. Há, portanto, um vácuo de galãs, digamos, maduros. O paulistano Domingos Montagner, de 49 anos, entra em cena como uma nova opção para preencher esse vazio. Além de talentoso, ele chama atenção pelos traços marcados e pelo porte de 1,86 metro e 88 quilos. Como o amante de Mercedes (personagem de Lilia Cabral) nos dois primeiros episódios do seriado “Divã”, o ator estreou na televisão — antes ele havia feito apenas pontas nos seriados “Força-Tarefa” e “A Cura”, do ano passado — e abriu caminho para a aposta maior da Rede Globo. Lançada em 11 de abril, a novela “Cordel Encantado” traz Montagner em um dos papéis principais: Herculano, o cangaceiro do sertão da cidade fictícia de Brogotó que luta para recuperar o convívio com o filho (vivido por Cauã Reymond) e arranca olhares lânguidos das personagens de Claudia Ohana e Débora Bloch.
Uma grande estrela à vista? Thelma Guedes, uma das escritoras responsáveis pelo folhetim das 6, diz que sim. “Domingos faz o Herculano com virilidade, mas passa a emoção de um pai rejeitado só pelo olhar”, afirma ela. Co-autora de “Cordel Encantado”, Duca Rachid endossa os elogios da colega. “Minhas amigas estão impressionadas com o charme dele”, diz. Em seus primeiros três dias de folga desde março, Montagner passou a Páscoa em São Paulo, ainda estranhando toda a repercussão de seu trabalho. “Fui chamado de Richard Gere. Pode?”, conta, achando graça na comparação com o ator americano.
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Em 23 anos de carreira, ele trilhou um caminho pouco comum entre os astros da televisão. Formado em educação física, procurou em 1990 as aulas de preparação do Circo Escola Picadeiro para aprimorar as atividades de professor e acabou encantando-se com esse universo. Com o rosto coberto por uma base branca e um nariz vermelho, virou um dos palhaços mais celebrados da cidade, fundador da Cia. La Mínima, ao lado de Fernando Sampaio, e protagonista de dez espetáculos dedicados à arte do picadeiro. “Achava que ia continuar para sempre nesse circuito”, afirma. “Aparecer na tela me parecia uma opção de trabalho muito distante.”
Devido à insistência de um produtor de elenco, ele enviou um teste de vídeo à televisão. A partir daí, as coisas começaram a acontecer. O convite para “Cordel Encantado” foi encarado com resistência. Devido às gravações, teria de passar pelo menos sete meses no Rio de Janeiro, longe da mulher, a produtora Luciana Lima, e dos três filhos (o caçula tem só 4 meses). O amigo Leopoldo Pacheco, com cinco novelas na bagagem, esteve entre os que conseguiram encorajá-lo a aceitar o desafio. “Faça pelo menos uma. Se você não for feliz ou achar cansativo, não aceite mais”, incentivou.
Por enquanto, Montagner está gostando da nova carreira e encabeça a crescente relação de nomes dos palcos paulistanos em ação nas novelas (veja o quadro abaixo). Mesmo quando não grava, fica sentado em um canto do estúdio observando os outros atores. Acostumado ao exagero e aos gestos expansivos do teatro, ele precisa exercitar nas gravações o detalhe, o mínimo. “Estou diante de um aprendizado, já que é a primeira vez que crio um personagem de cara limpa.”