A Páscoa, celebrada neste domingo (12), será bem diferente para grande parte das famílias paulistanas. O isolamento físico imposto pela quarentena tem separado os acostumados a passar o feriado religioso na companhia dos parentes, como Bárbara Furlanetto, 20. “Minha páscoa sempre reunia toda a família, entre tios, primos e avós. Esse ano está tudo diferente, pois minha irmã é enfermeira do Hospital Albert Einstein e está trabalhando em uma das alas mais críticas, então foi morar com a amiga também enfermeira para evitar o contágio”. No domingo, Bárbara passará a comemoração ao lado da mãe, padrasto e irmão, falando com a irmã apenas por vídeo-chamada. “Nem parece páscoa por conta disso”, lamenta.
Com a quarentena, o coelhinho também perdeu espaço rapidamente nos carrinhos dos paulistas, mais focados em produtos alimentícios básicos, itens de higiene e limpeza. Segundo dados da Associação Paulista de Supermercados, as vendas de chocolates e ovos de páscoa no estado devem cair 2,2% em relação ao ano passado. Para a Grande São Paulo, os números são ainda mais pessimistas e preveem queda de 10,5%.
A projeção inclui itens com vendas típicas nesta época, como bombons, ovos, barras e tabletes de chocolate, refrigerante, cerveja, vinhos e peixes. Antes da pandemia, era esperado crescimento de 2,2%. Entre os supermercados, a expectativa geral é de melhora até o domingo (12). Em algumas redes já estão surgindo promoções mais expressivas, como é o caso do Pão de Açúcar, que dá 60% de desconto na compra do segundo ovo de páscoa.
Para o varejo alimentício, o feriado é a segunda melhor data em termos de faturamento, perdendo só para o natal. Com a queda repentina, grandes e pequenos produtores precisaram recalcular a rota na reta final da produção. “Estávamos com 70% da nossa páscoa pronta, já na fábrica. Paramos tudo e vamos comercializar só o que temos”, conta Adriana Wiltgen, proprietária da Cacau Noir. Em comunicado, a Nestlé afirma que “ainda é cedo para quantificarmos o impacto nos negócios da Nestlé como um todo, e com a Páscoa não é diferente”. A nota também esclarece que o ritmo de produção não foi afetado, pois já havia se encerrado ao final de 2019. A Chocolates Brasil Cacau está com promoções mais agressivas, no modelo “leve 3 e pague 2” e algumas grandes marcas decidiram doar os produtos excedentes.
Entre os pequenos produtores, começou a circular a hashtag #PáscoaAtéJunho, criada pela chocolatier Renata Penido, que pede a extensão do período comemorativo. Segundo Penido, a ideia não é diminuir o significado da Páscoa, mas aumentá-lo. Com a campanha, os clientes podem comprar os produtos agora e optar por recebê-los depois.
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Igreja Católica
A orientação da Arquidiocese de São Paulo para as comemorações católicas é que as igrejas deem seguimento às transmissões on-line, que vêm acontecendo desde o começo da pandemia. “Algumas pessoas ainda questionam a mudança, mas em geral entendem a necessidade do isolamento”, pondera Dom Devair, bispo auxiliar e vigário episcopal para a Pastoral da Comunicação. A tradicional cerimônia de lava-pés, que deveria ocorrer na Quinta-Feira Santa (9), está proibida, de acordo com orientação do Vaticano. Na Catedral da Sé e em outras paróquias as ofertas de dízimo já podem ser feitas por depósito bancário.
Em carta divulgada no portal da Arquidiocese, o cardeal Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, pede que as transmissões sejam feitas sempre ao vivo e que não sejam disponibilizadas gravações. Também recomenda a divulgação das missas do Papa Francisco, que serão feitas novamente na Praça de São Pedro vazia e acontecem na Quinta-Feira Santa (9) e na Sexta-Feira Santa (10), às 18h. Ele também celebra a Páscoa no domingo (12), às 11h. As transmissões acontecem no canal do Vaticano no YouTube.
Páscoa Judaica
Os 60 mil judeus residentes em São Paulo também irão comemorar o Pessach em casa. A Festa da Liberdade começa hoje (8) e vai até dia 16, quinta-feira. Luiz Kignel, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), ressalta que esse ano a comemoração não será somente a festa da liberdade, mas da responsabilidade. “vamos respeitar a quarentena e cuidar uns dos outros, respeitando a orientação das autoridades de forma a ajudar o Brasil a passar por este momento difícil”.
As sinagogas da capital preparam materiais e transmissões on-line para auxiliarem nos ritos de quem fica em casa. O rabino Uri Lam, do templo Beth-El, conta orgulhoso sobre os vídeos gravados com as principais orações e canções do Seder de Pessach, típico jantar da religião acompanhado por contação de histórias sobre a fuga dos judeus do Egito. “Estamos estimulando as famílias a se reunirem por Zoom ou outros aplicativos. A exemplo da minha própria família, começamos com vinte pessoas que se juntariam virtualmente e agora já somos cinquenta, entre familiares, amigos e alguns membros da minha sinagoga”, finaliza o rabino. Os vídeos preparados pelo templo você confere aqui.