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O melhor e pior da cultura paulistana em 2007

Críticos e repórteres de VEJA SÂO PAULO escolhem o que viram de bom e de ruim durante o ano

Por Da Redação
Atualizado em 5 dez 2016, 19h26 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Dança

Dirceu Alves Jr.

Melhor

Falar sobre a qualidade e o fascínio das montagens dos mineiros do Grupo Corpo já virou lugar-comum. Pois nesta temporada a trupe do coreógrafo Rodrigo Pederneiras mais uma vez confirmou sua maestria. A partir de uma inspirada trilha sonora composta pelo pernambucano Lenine, Breu em nada lembrou as peças delicadas, com figurinos e luzes coloridas, tão presentes na trajetória da companhia. Diante de um cenário de fundo preto, os corpos caíam bruscamente e levantavam-se com morosidade. A atmosfera sombria e realista enfocou o crescimento da violência urbana e o tráfico de drogas.

Pior

Talvez a Cie. Feria Musica tenha chegado atrasada ao Brasil. Desde sua estréia em Bruxelas, em 1997, o grupo belga foi muito badalado com a mistura de dança e circo. A coreografia La Vertige du Papillon, apresentada no Teatro Alfa, mostrou que a suposta ousadia do grupo dirigido por Philippe de Coen foi engolida pelo tempo. Com bailarinos-acrobatas, ora no solo, ora pendurados por cabos, movendo-se como borboletas, o espetáculo se tornou maçante e previsível. Muita expectativa e pouco resultado, principalmente para uma platéia acostumada aos feitos de grupos como a carioca Intrépida Trupe.

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Teatro

Dirceu Alves Jr.

Melhor

Muitos se assustaram ao saber da duração do aguardado espetáculo Os Efêmeros, do Théâtre du Soleil – sete horas e meia, com sessenta minutos de intervalo! – e passaram longe do Sesc Belenzinho, em outubro. Bem mais felizes, certamente, ficaram aqueles que encararam o desafio. Os ingressos para as dez apresentações se esgotaram em menos de duas horas, e a companhia francesa dirigida por Ariane Mnouchkine há 43 anos retribuiu à altura. Em uma montagem absurdamente naturalista, a lendária encenadora encantou e comoveu com entrelaçadas tramas familiares que partem do intimismo para abordar sentimentos universais. Praticáveis cruzavam a pista montada no Sesc e reproduziam praias, jardins, casas, quartos de hospitais. À medida que o tempo passava, o espectador ficava ainda mais maravilhado, certo de que testemunhava algo memorável.

Pior

Nas primeiras semanas de maio, a atriz Cris Nicolotti se transformou na estrela de um dos vinte vídeos mais acessados no site YouTube. No clipe, ela cantava uma música apoiada em um verso boca-suja. Menos de dois meses depois, na esteira do sucesso, ela estreou uma versão teatral revelada um caça-níquel apelativo. Em Se Piorar, Estraga, a autora e protagonista interpretou Roberléia, apresentadora de um programa de televendas alçada a pregadora religiosa depois de criar uma “filosofia libertadora”. O texto rasteiro, de humor grosseiro e repleto de termos chulos, renderia, no máximo, um esquete – e ainda assim de gosto muito duvidoso. Até porque sua duração mal passava dos 45 minutos. Ainda bem!

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Show

Pedro Ivo Dubra

Melhor

O show do ano não foi um sucesso de público. Muito longe de sua lotação máxima, o Via Funchal, porém, abrigou uma noite memorável no dia 13 de novembro. Quem lá estava viu a banda nova-iorquina de disco punk LCD Soundsystem mandar bem com o seu poderoso cruzamento de rock e eletrônica. Liderado pelo DJ, produtor e multiinstrumentista James Murphy, o conjunto brilhou em canções como North American Scum.

Pior

OK, as apresentações no Auditório Ibirapuera foram boas. Quem pagou até 400 reais para acompanhar o Tim Festival na Arena Skol Anhembi, no entanto, se deu mal. A última atração da noite, a controversa banda The Killers, deveria tocar à 1 hora da manhã da segunda-feira. Só começou a fazê-lo – absurdamente – lá pelas 4… Muitos roqueiros só conseguiram tirar o carro do estacionamento quando já estava quase na hora de pegar no batente.

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Espetáculo Infantil

Helena Galante

Melhor

Exemplo de respeito à garotada, o divertido faz-de-conta O Tesouro de Balacobaco, da Cia. de Atores Bendita Trupe, arrebatou a platéia mirim. O grupo apostou em diálogos inspirados e figurinos criativos. Não decepcionou. Nem os mais crescidos resistiam aos encantos da pingüim, do esquimó e do canguru que protagonizavam a trama. Prova disso é que as sessões no Sesi Vila Leopoldina e no Teatro Alfa, entre maio e setembro, estavam sempre cheias. Para quem perdeu o programão, uma boa notícia: a montagem volta ao cartaz em fevereiro, no Alfa.

Pior

Os apresentadores de televisão Leão Lobo e Luiz Henrique, mais conhecido como a personagem Mamma Bruschetta, se arriscaram na direção de O Casamento do Ponto com a Vírgula. O resultado não poderia ter sido mais constrangedor. Com elenco fraquinho e texto sofrível, o espetáculo não segurava a atenção das crianças. Em uma das apresentações, Leão Lobo subiu ao palco e pediu desculpas à platéia do Teatro Augusta.

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Balada

Filipe Vilicic

Melhor

Público seleto, devido ao alto preço dos ingressos (entre 100 e 150 reais) e aos poucos convites vendidos (350), atendimento eficiente e, principalmente, um som de primeira. Esses elementos fizeram da noite do DJ chileno Ricardo Villalobos, na casa noturna D-Edge, em 20 de outubro, a melhor do ano. Previsto para três horas, o set durou seis.

Pior

A abertura da quinta edição do festival Motomix, no dia 25 de novembro, desperdiçou todo o talento do DJ alemão Sascha Ring, conhecido como Apparat. Apesar de a balada ser gratuita, a platéia estava quase vazia. Desanimado, o gringo fez um show sem graça de apenas uma hora. Como se não bastasse, o Parque do Ibirapuera foi uma péssima escolha para sediar a festa. Estacionar por lá é sempre missão difícil, e mal dava para ouvir o som do show, que competia com o barulho de skates, patins e crianças.

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Exposição

Gisele Kato

Melhor

Fotos divulgação

Impossível ficar indiferente diante das esculturas do artista indiano Anish Kapoor. Radicado em Londres desde os anos 70, ele cria peças de cores fortes e vibrantes, que lembram muito os mercados de pigmentos em Bombaim, sua cidade natal. As oito obras reunidas no Centro Cultural Banco do Brasil, entre fevereiro e março, sob o título de Ascension, mostraram como Kapoor é mestre em trabalhar o volume e despertar ilusões no espectador. Bastava aguçar os sentidos para aproveitar sua individual. Nem o aperto do espaço expositivo atrapalhou a fruição dos gigantescos trabalhos. O artista montou ainda, sob o Viaduto do Chá, uma megainstalação, com uma cortina de fumaça de 8 metros de altura. Dentro de um pavilhão de vidro, a intervenção mudou a cara do centro no período em que esteve por lá.

Pior

O Espaço Nossa Caixa bem podia ter escolhido um artista mais maduro para promover o desvio no perfil de sua programação, que prioriza a fotografia. Intitulada Estética Reflexiva, a mostra de Olívio Mendes Júnior, apresentada em fevereiro e março, trouxe uma série de trabalhos feitos de bordados. Figuras de homens nus e textos sobre tela e tecido remetiam à produção do cearense Leonilson (1957-1993). A relação óbvia demais com o expoente da Geração 80, no entanto, prejudicou Mendes Júnior. Funcionário da Nossa Caixa, formado em engenharia civil e com algumas participações em salões de arte no currículo, ele ainda não é dono de uma produção com fôlego suficiente para uma individual.

Concerto

Pedro Ivo Dubra

Melhor

Boa novidade do ano, a série beneficente Piano Solo contou com uma estréia em alto estilo. Em 15 de outubro, o grande pianista Nelson Freire deu início ao projeto, que teve como proposta a presença de um jovem talento do instrumento (o paulistano Leonardo Hilsdorf, de 19 anos) a abrir a noite para o solista principal. Em sua récita, Nelson visitou com a maestria costumeira obras de Bach-Busoni, Beethoven, Debussy e Chopin. Além disso, presenteou a platéia do Teatro Municipal com um generoso bis.

Pior

Alardeada como uma megaprodução, a montagem alemã Aida – Monumental Opera decepcionou no palco do Credicard Hall. Figurinos de mau gosto, orquestra fraca, coro a se comportar como um jogral de escola e coreografias constrangedoras foram capazes de fazer Giuseppe Verdi, compositor da obra, revirar-se na tumba. Mais sorte teve quem acompanhou a versão concerto (com os cantores sentados e levantando na hora de soltar a voz) de Aída com a Sinfônica Toscanini, liderada pelo maestro Lorin Maazel, na Sala São Paulo.

Filme

Miguel Barbieri Jr.

Melhor

Em pouco mais de dois meses em cartaz na cidade, o delicioso musical Hairspray – Em Busca da Fama rebateu com sua cor, bossa e energia contagiantes uma safra de produções cinzentas e dramáticas. Baseada na peça homônima da Broadway, por sua vez inspirada em filme de 1988 do alternativo John Waters, a fita foi coroada com três indicações no Globo de Ouro 2008, incluindo a de melhor filme musical/comédia. A espevitada estreante Nikki Blonsky, candidata a melhor atriz, terá de rebolar muito para desbancar Marion Cotillard, a impecável intérprete francesa de Piaf – Um Hino ao Amor. John Travolta, travestido na pele da mãe da protagonista, vai disputar o troféu de melhor ator coadjuvante. São atuações ímpares dentro de uma trama contra o conservadorismo e o preconceito embalada por canções de letras engajadas e ritmo pulsante. Um convite à dança simplesmente irresistível.

Pior

O que daria para esperar de um filme, digamos, inspirado numa linha de bonecas modernetes? Ao menos uma descolada aventura para a criançada. Não foi, porém, o resultado dessa insípida e intragável comédia americana para pré-adolescentes, que centrou seu suposto enredo num colégio repleto de personagens caricatos. Em roteiro de clichês enfileirados, direção primária e atuações insossas do quarteto de atrizes, Bratz – O Filme se configurou numa tortura sem fim para os adultos e num atentado contra a esperteza da meninada.

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