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Napoleão Bastos, o mestre dos perfumes

Criador de mais de 1.000 fragrâncias, especialista paulistano acaba de ganhar o Prêmio Atualidade Cosmética

Por Claudia Jordão
Atualizado em 5 dez 2016, 17h36 - Publicado em 18 nov 2011, 23h51
Montagem - empresa Symrise e a sede da suíça Givaudan em São Paulo-2244
Montagem - empresa Symrise e a sede da suíça Givaudan em São Paulo-2244 (Divulgação/)
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A noite do Prêmio Atualidade Cosmética, o Oscar do setor, que aconteceu no começo do mês em São Paulo, era de gala. No Credicard Hall, as mulheres circulavam com vestidos de festa e os homens exibiam seus trajes formais. Poucos, no entanto, brilharam como o paulistano Napoleão Bastos Junior. Com 60 anos de idade e 36 de carreira, o profissional levou o troféu na categoria perfumaria latino-americana masculina, na escolha do júri, com o Duo Malbec Nebbiolo, de O Boticário. O produto, desenvolvido a quatro mãos com o francês Clement Gavarry, fez parte de uma edição limitada da marca. A estatueta não é a primeira da vida de Napoleão, que está acostumado a competir com os principais criadores baseados no Brasil — boa parte deles estrangeiros. O especialista já recebeu dezenas de homenagens do tipo. Mas, ainda assim, a última teve um gosto especial. “Foi a primeira vez que venci nessa categoria”, diz ele.

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Neto de italianos, nascido na Bela Vista, Napoleão ocupa um cargo de destaque na empresa americana International Flavors & Fragrances (IFF), uma das principais do ramo no mundo, que mantém filial em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. Treinado para criar essências para diversas categorias de produtos, inclusive sabão em pó e material de limpeza, tem como especialidade xampus, cremes e colônias (só nesse caso, tem no currículo mais de 1.000 rótulos). Acostumado a trabalhar em projetos com equipes de cerca de seis pessoas, já criou hits para as principais companhias do setor na América Latina. Ainda garoto, passava os domingos na fábrica de sabonetes do pai. Tempos depois, começou a brincar de inventar cheiros num laboratório improvisado nos fundos de sua casa. “Minha família ficava louca quando me via em meio a ácidos”, lembra.

Formado em engenharia química pelas Faculdades Oswaldo Cruz, foi treinado pelo gigante suíço dos cosméticos Givaudan, em que começou a carreira. Foram cinco anos de estudos pesados, quatro deles em São Paulo e um na escola da instituição em Genebra, até aprender a identificar 3.000 fragrâncias, um dos requisitos básicos para quem escolhe o caminho. Com tamanha preparação, hoje sua memória olfativa lhe permite criar longe do laboratório. “Desenvolvo as fórmulas pensando dentro da minha sala e depois elas são testadas e melhoradas nos laboratórios”, revela. Além da técnica, um craque desse mercado precisa ter alma de artista. “É fundamental conhecer o público-alvo e deixar a intuição fluir”, defende. Ele diz que se inspira em várias fontes, entre elas a natureza (adora velejar) e sua mulher, a pedagoga Iara Bastos, com quem tem dois filhos. Garante que já criou várias colônias pensando nela.

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Entre os rótulos masculinos, um dos seus prediletos é o Eau Sauvage, da Dior. Ainda assim, usa a essência apenas em ocasiões especiais. “No dia a dia, opto por minhas próprias invenções para testar a reação das pessoas”, afirma. “Se ninguém fala nada, a fragrância volta ao laboratório.” Os melhores profissionais do setor chegam a embolsar um rendimento mensal perto de 100.000 reais. Trata-se de uma especialidade ainda incomum no país, mas a área está crescendo.

Segundo a consultoria Euromonitor International, o Brasil fechou o ano de 2010 com 6 bilhões de dólares em vendas de perfumes e se tornou o maior mercado do mundo. Logo atrás estão os Estados Unidos e a Alemanha. Além disso, a cidade de São Paulo já se destaca como um dos principais polos criativos do planeta. Afinal, as cinco principais empresas do setor mantêm filiais na metrópole ou região (além da IFF e da Givaudan, há a suíça Firmenich, a alemã Symrise e a japonesa Takasago). “Ao mesmo tempo que os centros de Paris produzem para a Europa e para a Ásia e os de Nova York estão focados no mercado americano, São Paulo é onde se desenvolvem rótulos para toda a América Latina”, explica Aûani Cusma, um dos organizadores do Atualidade Cosmética. Segundo ele, só no biênio 2009/2010, IFF, Givaudan, Firmenich e Symrise investiram juntas 165 milhões de reais em seus laboratórios daqui. É um forte indício de que em breve existirão outros “Napoleões”.

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UM MESTRE DAS COLÔNIASPerfil do profissional mais conceituado da área no país

Nome: Napoleão Bastos Junior

Idade: 60 anos

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Nascimento: Bela Vista

Formação: engenharia química e Escola Givaudan de Perfumaria, em Genebra (Suíça)

Carreira: trabalhou durante vinte anos na multinacional Givaudan, que possui filial no Jaguaré, e depois se mudou para a International Flavors & Fragrances (IFF), em Santana de Parnaíba (SP). Nessa última está há dezesseis anos e ocupa no momento o cargo de perfumista sênior

Criações: fragrâncias para as principais marcas da América Latina

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